Cessação Tabágica

O tabaco é um agente extremamente nocivo para a saúde de qualquer pessoa. Por isso, parar de fumar é um importante desígnio de qualquer fumador, dadas as enormes vantagens que a cessação tabágica pode trazer em ganhos de saúde. Como sabemos, fumar pode provocar diversos problemas a nível respiratório e aumentar o risco de cancro, de enfarte agudo do miocárdio ou acidente vascular cerebral (AVC), entre outros. O fumo “passivo”, ou seja, a inalação de fumo proveniente de outros, é igualmente perigoso.

Deixar de fumar é uma nova oportunidade de viver uma vida mais saudável, com melhor qualidade e provavelmente mais longa.

No entanto, a cessação tabágica nem sempre é uma tarefa fácil. Na verdade, a maioria das pessoas não têm sucesso na primeira vez que tentam, pelo que é necessário que o fumador, antes de mais, se informe sobre todos os meios existentes para o ajudar a ultrapassar esta importante fase da sua vida, meios estes que discutiremos ao longo deste artigo.

A forma de motivação para quem pretende iniciar um processo de cessação tabágica, é conhecer profundamente as enormes vantagens que o ato de deixar de fumar pode trazer para a sua saúde e daqueles que o rodeiam. Ao longo deste artigo abordaremos primeiramente os benefícios da cessação tabágica para depois discutirmos os tratamentos disponíveis para o ajudar nessa importante tarefa.

Benefícios da cessação tabágica para a saúde

Quanto mais cedo deixar de fumar, mais benefícios terá ao longo do tempo. Os benefícios da cessação tabágica sentem-se a curto prazo e prolongam-se para o resto da vida.

Nas primeiras horas, os níveis de monóxido de carbono no organismo descem para valores normais. Nas semanas seguintes sentirá uma grande melhoria na sua circulação sanguínea e função pulmonar, contudo, pode ter alguns sintomas como tosse ou problemas respiratórios nos meses seguintes.

A partir do primeiro ano de cessação tabágica os benefícios são diversos e sentem-se em todo o organismo, a saber:

• Redução do risco de doenças cardiovasculares como o enfarte agudo do miocárdio, o AVC, entre muitas outras;
• Redução do risco de várias patologias pulmonares como a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), fibrose pulmonar, entre outras;
• Redução do risco de cancro do pulmão, cancro da próstata, cancro da mama, cancro do intestino, cancro do pâncreas, cancro da tiróide, entre muitos outros tipos de cancro;
• Redução dos sintomas (tosse, pieira, produção de muco na garganta, etc.) e redução das infeções respiratórias (bronquite, pneumonia, etc.);
• Nas mulheres, redução do risco de problemas de reprodução (infertilidade) e na gravidez, nascimentos prematuros, abortos espontâneos, etc.;
• Nos homens, melhoria da sua função sexual e redução dos problemas de impotência ou disfunção erétil;
• Melhoria rápida dos níveis de colesterol e triglicerídeos;
• Melhoria dos problemas dentários como a periodontite, etc.;
• Melhor controlo da tensão arterial;
• Etc.

Por tudo isto, podemos claramente verificar que todas as formas de consumo de tabaco possuem graves problemas associados, pelo que deixar de fumar é a melhor decisão que um fumador pode tomar para melhorar a sua saúde e a dos que o rodeiam.

Deixar de fumar reduz o risco de morte prematura. As pessoas que param de fumar vivem em média mais 10 anos, quando comparadas com as que continuam a fumar.

Dependência da nicotina e abstinência

O processo da cessação tabágica varia de pessoa para pessoa e depende de vários aspetos, como a quantidade de cigarros fumados por dia ou quando começou a fumar.

A nicotina é o componente principal do tabaco e liga-se aos recetores cerebrais do organismo encarregues do sistema de recompensa. Esta relação faz com que a nicotina esteja fortemente associada à dependência.

Durante a cessação tabágica, o organismo tem de se ajustar à ausência da nicotina, provocando os sintomas de abstinência (ver adiante sintomas de abstinência). Estes sintomas são sinais da resposta do organismo à falta da nicotina, contudo, este processo pode ser extremamente desagradável e complicado de gerir sem apoio médico, originando recaídas.

Alguns fumadores deixam de fumar sem grande dificuldade, e nunca chegam a desenvolver sintomatologia de abstinência. No entanto, para uma grande maioria dos fumadores, parar de fumar não é uma tarefa fácil. Os desejos fortes de consumir qualquer tipo de tabaco (cigarros, cigarros eletrónicos, cachimbo, etc.) podem originar recaídas, sendo difícil manter o plano de cessação. Nestes casos de dependência, o fumador tem de aprender a lidar com os sintomas de abstinência e privação do tabaco, tentando evitar situações que desencadeiem estes desejos.

Dicas importantes para parar de fumar

Existem diversas formas de tornar o processo de cessação tabágica mais fácil, de modo a manter a motivação necessária para continuar com este objetivo, a saber:

Pedir ajuda de profissionais

Procurar a ajuda de um médico especialista em cessação tabágica e de outros profissionais de saúde como Psicólogos, é muito importante para delinear um plano de recuperação eficaz, pois existem diversas questões complexas que devem ser acauteladas. Apenas uma pequena parte (entre 3% a 5%) dos fumadores que deixam de fumar sem ajuda especializada mantêm a cessação tabágica um ano após terem parado.

Os tratamentos prescritos por profissionais de saúde, podem diminuir os desejos e incluem terapias de substituição de nicotina, que podem ser administrados de várias formas. Outros fármacos sem nicotina podem ajudar a reduzir a sintomatologia da abstinência, imitando o funcionamento do composto no corpo. Veja mais informação em “Tratamentos para a cessação tabágica”.

Anotar as razões para desistir

Fazer uma lista de todas as razões pelas quais quer parar de fumar, pode ser extremamento benéfico durante o processo de cessação tabágica. Podemos ter como exemplos:

• Melhorar a saúde geral;
• Reduzir o risco de desenvolvimento de várias doenças;
• Não expor familiares, amigos e outras pessoas próximas a fumo passivo;
• Poupar dinheiro;
• Livrar-se do cheiro persistente do fumo;
• Entre outras.

Elaborar um plano

A grande maioria das pessoas consegue melhores resultados na cessação tabágica quando formulam um plano. Este plano, geralmente, começa pela escolha de uma data para iniciar a cessação tabágica e parar de fumar abruptamente nesse dia.

Outro passo importante que deve estar incluído no plano de ação é o planeamento de desafios. Por exemplo, fazer uma lista de lugares de alto risco que possam ser gatilhos de desejos quando começar o processo de cessação tabágica e outros lugares seguros, geralmente, lugares onde é proibido fumar como museus ou cinema.

Pedir ajuda de familiares e amigos

O apoio de amigos e familiares é extremamente importante no processo de cessação tabágica. Nos primeiros dias podem surgir sentimentos de frustração, irritabilidade e tristeza devido à falta de nicotina do organismo, e ter um grupo próximo de apoio é extremamente importante para desabafar e não ceder aos desejos.

Conheça os seus pontos fracos

Existem certas coisas (espaços, pessoas, etc.) ou momentos que fazem um fumador sentir vontade de voltar a pegar num cigarro. Se conhecer estes pontos fracos, pode tentar evitá-los desde o início, especialmente nos primeiros meses.

Outros exemplos podem incluir:

• Sair com pessoas que não fumam ou que também querem parar;
• Evitar áreas de fumadores;
• Manter-se ocupado durante os momentos de tédio;
• Beber água, chá ou sumos naturais, em vez de café ou álcool;
• Praticar certas expressões como: "Não, obrigado, eu não fumo";
• Etc.

Não ceder aos desejos

Existem dias muito difíceis em que a vontade de ceder e a hipótese de desistir aumenta, no entanto, manter o foco será a melhor opção devido a todos os benefícios referidos anteriormente.

Praticar novos passatempos ou substituir os cigarros por outra alternativa (ex.: pastilha elástica) pode ajudar em situações de desejos fortes.

Gerir o stress

Stress e ansiedade podem aumentar a vontade de fumar e o risco de recaída é mais elevado. É aconselhável adotar alguns comportamentos, de modo a gerir este stress, a saber:

• Fazer pausas sempre que necessário;
• Praticar exercícios de relaxamento, respiração profunda ou meditação;
• Ouvir música por ser benéfico em situações stressantes;
• Praticar exercício físico regularmente;
• Entre outros.

Saiba, aqui, tudo sobre gestão do stress.

Celebre o sucesso

No plano de cessação tabágica, pode também marcar certos objetivos (ex: “um mês sem fumar”, etc.). Quando ultrapassar essas pequenas etapas celebre o sucesso com recompensas, como um jantar especial, um presente, etc.

Considerar outras formas de deixar de fumar

Se tentou deixar de fumar abruptamente algumas vezes e não funcionou, pode tentar recomeçar o processo, no entanto gradualmente.

Isto significa que em vez de deixar de fumar de “um dia para o outro”, pode, por exemplo, atrasar o primeiro cigarro do dia, aumentando progressivamente o tempo entre os cigarros ou começar a fumar apenas metade de cada cigarro, comprar apenas um maço de cigarros de cada vez ou trocar uma pausa para fumar por atividade física.

Tratamento para a cessação tabágica

A cessação tabágica é um processo que deve ser acompanhado por um grupo de profissionais de saúde, de modo a melhorar a taxa de sucesso deste importante desígnio.

Se é fumador, provavelmente já tentou deixar de fumar por iniciativa própria, porém, sem sucesso. A cessação tabágica é um processo difícil e convém ser acompanhado por profissionais de saúde que ajudem e facilitem este mesmo processo, recorrendo a diversas técnicas e/ou tratamentos.

Existem várias opções terapêuticas que facilitam o processo da cessação tabágica, a saber:

Terapia e apoio psicológico

Trabalhar com profissionais de saúde a nível psicológico e comportamental é extremamente benéfico durante a cessação tabágica, de modo a encontrar pontos fracos que possam interferir com o processo e trabalhar no plano para superar a vontade de fumar.

Terapia de substituição da nicotina (TSN)

O objetivo da cessação tabágica é parar completamente com o uso de tabaco, deste modo, as opções de substituição da nicotina visam melhorar os sintomas de abstinência durante a primeira fase do processo de cessação tabágica.

A nicotina é o componente viciante do tabaco e faz com que o processo de cessação tabágica seja complicado. O organismo após a exposição a nicotina durante algum tempo, imite uma sensação de necessidade, o que provoca os desejos e levam a possíveis recaídas.

Entre os várias formas de administração dos substitutos de nicotina, podemos destacar:

• Adesivos (que se colam no braço e libertam pequenas quantidades de nicotina ao longo do dia);
• Inaladores;
• Sprays;
• Pastilha elástica ou gomas com nicotina;
• Etc.

As terapêuticas de substituição devem ser usadas até que assistamos a uma melhoria significativa nos sintomas de abstinência de nicotina.

Tratamento medicamentoso

Em alguns casos, o médico especialista pode optar por prescrever alguma medicação para melhorar e controlar os sintomas da abstinência da nicotina.

Os medicamentos (remédios) mais frequentemente prescritos são:

• Bupropiom ou bupropriona;
• Vareniclina;

Estes medicamentos de apoio à cessação tabágica permitem reduzir os sintomas provocados pela ausência de nicotina e melhorar o sucesso da cessação tabágica. Note que a utilização de qualquer tipo de medicação deve ser sempre prescrita pelo seu médico assistente, nunca devendo em caso algum automedicar-se.

Sintomas de abstinência

A abstinência da nicotina pode provocar alguns sintomas de abstinência que podem variar de gravidade de pessoa para pessoa e durante o percurso de cessação tabágica, a saber:

• Desejo de fumar;
• Sentimentos de tristeza;
• Insónias (dormir mal, distúrbios do sono);
• Irritabilidade e ansiedade;
• Dificuldade em concentrar-se, inquietação;
• Diminuição da frequência cardíaca;
• Sensação de fome, necessidade de comer mais frequentemente.

Estes sintomas atrás apresentados podem criar sensações desagradáveis, contudo, a abstinência de nicotina não acarreta qualquer perigo para a saúde.

Para uma larga maioria de ex-fumadores esta sintomatologia possui uma duração que pode ir de alguns dias a algumas semanas, no entanto, o desejo de fumar de novo pode permanecer durante bastantes anos. Alguns estímulos como observar outras pessoas a fumar, ver embalagens de tabaco, entre outros, podem aumentar o risco de recaída.

Vou ganhar peso ou engordar?

Nem toda a gente ganha peso durante este processo, no entanto, essa possibilidade é plausível de ocorrer durante o processo de cessação tabágica se não tomar algumas medidas para controlar o seu peso.

Comer em demasia é um método frequentemente utilizado, muitas vezes inconscientemente, para substituir o tabaco. Este hábito pode levar a outras complicações, portanto, é extremamente importante manter um estilo de vida saudável, nestes casos, fazendo uma dieta saudável e praticar exercício físico regularmente.

Saiba, aqui, tudo sobre emagrecimento saudável.

O que posso fazer quando sinto vontade de fumar?

Estes desejos, geralmente, não duram muito tempo, mas podem ser fortes ao ponto de levar a uma recaída.

A melhor opção, nestes casos, é distrair-se com outra atividade até estes impulsos passarem. Opte por praticar exercício, conversar com alguém ou até mesmo meditar se estes desejos forem provocados por alguma situação de stress.

Um psicólogo com experiência em adições (dependências ou vícios) pode ajudar bastante neste processo de recuperação e de prevenção de recaídas.

O que acontece se ceder e fumar durante o processo?

Isto é chamado de recaída e é possível em alguns casos ceder aos desejos, no entanto, dificulta o processo da cessação.

Mesmo após uma recaída é muito importante pensar que os benefícios que podem ser alcançados são imensos e que é essencial retomar o percurso da cessação tabágica. Nunca é de mais referir que a ajuda de profissionais habilitados permite melhorar substancialmente a taxa de sucesso, pelo que deve procurar apoio o mais rapidamente possível.

Fumar charutos é mais seguro do que fumar cigarros?

Não. Fumar charutos não é mais seguro do que fumar cigarros, mesmo em casos de fumo passivo, onde a pessoa não inala o fumo intencionalmente.

Charutos expõem o fumador a todos os compostos nocivos dos cigarros e as suas consequências, a saber:

• Nicotina: Tal como os cigarros, os charutos contêm nicotina, a substância que pode levar à dependência do tabaco. A inalação de fumo de charuto, pode obter tanta nicotina como fumar um cigarro, e a quantidade inalada pode ser absorvida através do revestimento da boca e não reduz o risco de dependência do composto;

• Fumo passivo: o fumo passivo dos charutos contém os mesmos químicos tóxicos que o fumo passivo dos cigarros. Este tipo de fumo também pode causar ou contribuir para o cancro do pulmão, doenças cardiovasculares, entre outras;

• Cancro: Todo o fumo proveniente do tabaco contem os produtos químicos que podem causar o cancro, e o fumo do charuto, não é nenhuma exceção;

• Entre outros.

Dito isto, fumar charutos, em vez de cigarros, não é uma opção viável e pode ser igualmente prejudicial para a saúde.

Os cigarros eletrónicos são mais seguros?

Cigarros eletrónicos ou e-cigarros são dispositivos que usam uma bateria para aquecer uma solução líquida com ou sem nicotina, transformando-a num vapor que pode ser inalado. O uso de cigarros eletrónicos é, muitas vezes, referido como “vaping”.

Muitas vezes, as soluções dentro destes cigarros contêm uma forma concentrada de nicotina chamada sal de nicotina, o que torna a concentração deste composto muito alta, sendo extremamente perigosa, podendo provocar a dependência no composto e inúmeros problemas pulmonares.

Por isto, os cigarros eletrónicos que contêm nicotina não são considerados seguros para adolescentes, jovens ou mulheres grávidas. A nicotina presente nestas soluções pode prejudicar o desenvolvimento cerebral em crianças e adultos jovens e é tóxica para o desenvolvimento de bebés.

Estudos para testar se os cigarros eletrónicos podem ajudar as pessoas a deixarem de consumir tabaco tiveram resultados inconsistentes. Por isso, não há certezas suficientes em relação à eficácia do uso de cigarros eletrónicos para deixar de fumar, fazendo com que não seja um tratamento viável de cessação tabágica, não sendo a sua utilização recomendada.

Rastreio do cancro do pulmão

O consumo de tabaco está fortemente relacionado com o surgimento de cancro do pulmão.

A mortalidade por doenças malignas representa 25% de todas as causas de morte em Portugal, com tendência a aumentar. Destacam-se as mortes provocadas por tumores do pulmão, principalmente entre os doentes fumadores.

Quando os sinais e sintomas do cancro do pulmão surgem, este está habitualmente muito avançado, reduzindo a eficácia do tratamento curativo. Neste sentido, é muito importante rastrear o cancro do pulmão nos fumadores, dado o risco aumentado de virem a desenvolver esta doença.

Devem ser sujeitos ao rastreio as pessoas que fumem 30 unidades maço-ano ou mais. As unidades maço-ano são calculadas multiplicando-se o número de maços de cigarros fumados por dia pelo número de anos de fumador.

Saiba, aqui, tudo sobre o rastreio do cancro do pulmão.