A esquizofrenia é um distúrbio crónico do cérebro no qual as pessoas interpretam a realidade de forma anormal, afetando a forma como o doente pensa, age, expressa emoções e se relaciona com os outros, sendo, em casos graves, uma doença extremamente incapacitante.
Alguns dos sinais e sintomas associados a esta patologia podem incluir delírios, alucinações, discurso desorganizado, problemas de pensamento e falta de motivação, entre outros. Veja mais informação em “Sinais e sintomas da esquizofrenia”. No entanto, com a administração de um tratamento adequado, a maioria da sintomatologia pode melhorar muito, conforme discutiremos adiante.
A esquizofrenia afeta homens e mulheres de igual forma, podendo ter um início mais precoce no sexo masculino. A doença é mais frequentemente diagnosticada após a adolescência. As crianças raramente são diagnosticadas com esquizofrenia, assim como maiores de 45 anos de idade.
Causas da esquizofrenia
As causas exatas da esquizofrenia não são conhecidas, mas acredita-se que possa existir uma combinação de fatores genéticos, de química cerebral e fatores ambientais que contribuem para a origem da doença, a saber:
- Genética (hereditariedade) - A probabilidade de desenvolver esquizofrenia é maior quando existem familiares com a doença;
- Química e circuitos cerebrais - Pessoas com esquizofrenia podem não ser capazes de regular substâncias químicas cerebrais chamadas neurotransmissores que controlam certas vias, ou "circuitos" de células nervosas que afetam o pensamento e o comportamento;
- Anomalia cerebral - Pacientes com esquizofrenia têm uma estrutura cerebral anormal, no entanto, este fator não se aplica a todas as pessoas com a patologia e pode também afetar pessoas sem a doença;
- Fatores ambientais - Exposição a toxinas, como certas drogas, ou situações altamente stressantes podem desencadear esquizofrenia em pessoas cujos genes as tornam mais propícias a desenvolver o transtorno.
- Alterações hormonais e físicas - A esquizofrenia ocorre mais frequentemente quando o corpo está a sofrer alterações hormonais e físicas, como durante a adolescência e início da idade adulta;
- Entre outros.
Sinais e sintomas da esquizofrenia
A esquizofrenia envolve um leque variado de problemas relacionados com o pensamento (cognição), comportamento e emoções.
Os sinais e sintomas podem variar, mas geralmente envolvem delírios, alucinações ou fala desorganizada, e refletem uma capacidade diminuída de funcionamento cognitivo e motor geral, a saber:
Delírios
Delírios são falsas crenças (que não são baseadas na realidade). Por exemplo, quando o doente acha que está a ser prejudicado, quando acha que tem habilidades ou fama excecionais; que outra pessoa está apaixonada por si, crença que uma catástrofe está prestes a ocorrer, etc. Delírios ocorrem na maioria das pessoas com esquizofrenia;
Alucinações
Alucinações, geralmente, envolvem ver ou ouvir coisas que não existem. No entanto, para a pessoa com esquizofrenia, estas alucinações são extremamente reais, e têm toda a força e impacto de uma experiência normal. Alucinações podem afetar qualquer sentido, contudo, ouvir vozes é a alucinação mais comum. Por outro lado, ao contrário do senso comum, as alucinações visuais (ver coisas) são muito raras em pessoas com esquizofrenia;
Pensamento desorganizado (fala)
O pensamento desorganizado é inferido a partir da fala desorganizada, isto é, a comunicação eficaz pode ser prejudicada e as respostas às perguntas podem ser parcialmente ou completamente independentes. Raramente, a fala pode incluir palavras sem sentido;
Comportamento motor extremamente desorganizado ou anormal
Este comportamento anormal pode ser demonstrado de várias maneiras, desde comportamento infantil a agitação imprevisível. O comportamento não está focado num objetivo, sendo difícil realizar tarefas do quotidiano, acatar instruções, ter uma postura inadequada ou anormal, uma completa falta de resposta, ou movimento considerado desadequado ou excessivo;
Sinais e sintomas negativos
Estes sinais e sintomas referem-se à redução ou falta de capacidade de levar uma vida normal. Por exemplo, a pessoa pode negligenciar a higiene pessoal ou permanecer sem emoção em várias situações (não estabelece contacto visual, não muda as expressões faciais ou fala de forma monótona). Além disso, a pessoa pode perder o interesse por atividades do dia-a-dia, afastar-se socialmente ou não ter a capacidade de sentir prazer em nenhuma situação;
Entre outros.
Os sinais e sintomas podem variar em tipo e gravidade ao longo do tempo, com períodos onde agravam (surtos) e outros onde existe uma remissão dos mesmos. Contudo, alguns deles podem estar sempre presentes.
Diagnóstico da esquizofrenia
O diagnóstico de esquizofrenia é efetuado pelo médico psiquiatra, recolhendo a história clínica do doente e efetuando um rigoroso exame objetivo. A avaliação psiquiátrica consiste na observação da aparência e comportamento do paciente, perguntando sobre pensamentos, comportamentos, delírios, alucinações, uso de substâncias e potenciais tendências violentas ou suicidas. Este processo também inclui uma discussão sobre a história familiar e pessoal.
O médico especialista em psiquiatria pode recorrer a alguns meios complementares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), a saber:
- Análises e exames que ajudem a determinar a existência de substâncias como álcool e drogas no organismo do paciente. O médico especialista também pode solicitar exames de imagem, como uma ressonância magnética cerebral ou uma tomografia computorizada cerebral TC ou TAC;
- Análises ao sangue para descartar outras patologias;
- Etc.
Complicações da esquizofrenia
Quando não tratada, a esquizofrenia pode provocar complicações graves que afetam todas as áreas da vida do paciente, nomeadamente:
- Suicídio, incluindo tentativas e pensamentos;
- Ansiedade e sintomas obsessivo-compulsivos;
- Depressão;
- Abuso de álcool ou outras drogas, incluindo nicotina (tabagismo);
- Incapacidade de trabalhar ou frequentar a escola;
- Problemas financeiros, resultando em alguns casos em problemas sérios de pobreza;
- Isolamento social;
- Problemas gerais de saúde;
- Comportamentos de automutilação;
- Comportamento agressivo, embora seja pouco frequente;
- Entre outros.
A esquizofrenia tem cura?
Não existe cura para a esquizofrenia, no entanto, existem opções terapêuticas capazes de controlar a evolução da doença e de melhorar significativamente a sintomatologia.
Com um diagnóstico atempado e a administração de tratamento adequado, uma grande parte dos pacientes portadores de esquizofrenia consegue ter uma vida produtiva, sem consequências nefastas significativas.
Dependendo de quão grave é o caso, o prognóstico pode variar, todavia, com medicação e acompanhamento regulares, é possível a vida com qualidade em ambiente familiar e comunitário.
Tratamento da esquizofrenia
Não existindo cura para a esquizofrenia, será necessário o tratamento ao longo da vida.
O tratamento medicamentoso e a terapia psicossocial podem ajudar eficazmente a gerir a patologia. No entanto, em alguns casos, a hospitalização pode ser necessária.
Um psiquiatra experiente no tratamento da esquizofrenia, geralmente, orienta o plano de tratamento. A equipa pode incluir um psicólogo, assistente social, enfermeiro, entre outros profissionais.
Tratamento medicamentoso
A medicação é a base do tratamento da esquizofrenia, e os medicamentos (remédios) antipsicóticos são os mais frequentemente prescritos, pois permitem controlar a sintomatologia ao afetar o neurotransmissor cerebral chamado dopamina.
O objetivo do tratamento com medicamentos antipsicóticos é gerir os sinais e sintomas usando a menor dose possível. Outros fármacos também podem ajudar, tais como antidepressivos ou medicamentos para a ansiedade (ansiolíticos). A melhoria da sintomatologia pode ocorrer várias semanas após o início do tratamento.
Os antipiscóticos dividem-se habitualmente em duas classes: típicos (mais antigos e com mais efeitos secundários) e atípicos.
Alguns exemplos de antipsicóticos típicos incluem:
- Clorpromazina;
- Pimozido;
- Haloperidol;
- Entre outros.
Existem novos medicamentos antipsicóticos chamados de antipsicóticos atípicos, que geralmente, são escolhidos porque representam um menor risco de efeitos secundários graves do que os antipsicóticos referidos anteriormente. Alguns exemplos incluem:
- Aripiprazol;
- Risperidona:
- Olanzapina;
- Paliperidona;
- Cariprazina;
- Entre outros.
Alguns antipsicóticos podem ser administrados como injeção intramuscular ou subcutânea. Normalmente, são administrados a cada duas ou quatro semanas, dependendo da medicação que o paciente já esteja a tomar.
O antipsicótico a ser utilizado é escolhido de forma individualizada para cada paciente, tendo em conta, entre outros fatores, os seus sintomas, experiência anterior e perfil de efeitos secundários do medicamento.
Intervenções psicossociais
Quando o surto agudo está controlado, além de continuar com a medicação, intervenções psicológicas e sociais (psicossociais) são importantes as seguintes situações:
- Terapia individual - A psicoterapia pode ajudar a normalizar os padrões de pensamento. Além disso, aprender a lidar com o stress e identificar sinais de alerta precoce de recaída pode ajudar as pessoas com esquizofrenia a gerir a doença;
- Treino de habilidades sociais - Este tipo de treino tem como objetivo melhorar a comunicação e interações sociais e a capacidade de o doente participar em atividades diárias;
- Terapia familiar - Esta terapia fornece apoio e educação às famílias que lidam com a esquizofrenia;
- Reabilitação vocacional e apoio no emprego - Esta intervenção concentra-se em ajudar as pessoas com esquizofrenia a encontrar e manter empregos. Para além disso, muitas comunidades e grupos de ajuda possuem programas para ajudar os doentes com esquizofrenia a procurar emprego, alojamento, etc.
Hospitalização
Durante períodos de crise (surtos) ou períodos de sintomas graves, a hospitalização pode ser necessária para garantir a segurança, nutrição e sono adequado e higiene básica dos pacientes.
Eletroconvulsoterapia
No caso de adultos com esquizofrenia que não respondem à terapia medicamentosa, a eletroconvulsoterapia (ECT) pode ser uma opção a considerar.
Viver com esquizofrenia
Esquizofrenia não significa personalidade dividida ou personalidade múltipla. A maioria das pessoas com esquizofrenia não é mais perigosa ou violenta do que a população em geral. No entanto, todas as pessoas com suspeitas de alguma doença mental devem ser encaminhadas para um psiquiatra, de modo a efetuar um diagnóstico atempado.
A esquizofrenia envolve uma psicose, o que significa que o doente não consegue distinguir o que é real do que é imaginado. Às vezes, em casos mais graves, as pessoas com transtornos psicóticos perdem o contacto completo com a realidade. O mundo pode parecer uma mistura de pensamentos, imagens e sons confusos.
No entanto, a maioria dos doentes pode melhorar significativamente a sintomatologia e a sua qualidade de vida, desde que sejam acompanhados e efetuem tratamento adequado.