A fascite plantar ou fasceíte plantar é a inflamação da fáscia plantar. A fáscia plantar é uma banda espessa de tecido fibroso que se estende desde o osso do calcanhar até aos dedos dos pés. Esta banda está recoberta de gordura para absorver choques e suporta a arcada plantar (veja imagens).
A fascite plantar é a causa mais frequente de dor no calcanhar, afetando entre 3,6 a 7,0% da população. O seu pico de incidência ocorre entre os 40 e os 60 anos de idade, afetando o sexo feminino (mulheres) e masculino (homens) de igual forma.
A fascite plantar é na maioria dos casos unilateral, afetando tanto o calcanhar esquerdo como o direito. A fascite plantar bilateral, ou seja, que afeta os dois pés em simultâneo é menos frequente, ocorrendo em cerca de um terço dos casos.
Relativamente à duração da sintomatologia é importante salientar que ignorar a fascite plantar na sua fase aguda, pode conduzir a uma situação de dor crónica.
Causas da fascite plantar
Embora as causas de fascite plantar não sejam completamente conhecidas, sabe-se que existem alguns fatores de risco para o desenvolvimento da doença, a saber:
- Obesidade (excesso de peso) - índice de massa corporal (IMC) maior que 30;
- Atividade desportiva em carga (correr, saltar, ballet e dançar), ou quando as pessoas permanecem por largos períodos de tempo de pé;
- Idade;
- Pé cavo/ pé plano/padrões anómalos de marcha;
- Diminuição da dorsiflexão do tornozelo (menor que 0º);
- Retração dos músculos gastrocnémio-solear e isquiotibiais;
- Secundária a doenças inflamatórias sistémicas.
É controverso que a presença de esporão do calcâneo contribua para a sintomatologia. De salientar que entre 11 a 46%dos doentes com esporão do calcâneo são assintomáticos, e em 32% dos doentes com fasceíte plantar não se encontra a presença do esporão do calcâneo.
Sintomas da fascite plantar
Na fascite plantar, o principal sintoma é a dor no calcanhar, muitas vezes descrito como "pontada". A dor tipicamente possui um início insidioso e sem irradiação, muitas vezes ao sair da cama de manhã e tende a aliviar após dar os primeiros passos. A dor tende a agravar ao subir escadas ou se o doente permanecer de pé durante algum tempo.
A dor tende a aliviar com a deambulação (andar, caminhar) e agrava com o repouso prolongado. Habitualmente, as dores agravam ao fim do dia com o ortostatismo prolongado.
Em alguns casos pode ocorrer algum edema (“inchaço”) do calcanhar e do tornozelo.
Diagnóstico da fascite plantar
O diagnóstico de fascite plantar é feito pelo médico ortopedista com base na história clínica e recorrendo, em alguns casos, a alguns exames ou meios auxiliares de diagnóstico e terapêutica (MCDT), a saber:
Radiografia (RX) do pé. - Pode ser útil para confirmar o diagnóstico, se realizado em carga permite excluir outras patologias (degenerativas);
Ressonância magnética (RMN) - É raramente usada no diagnóstico, no entanto, este exame pode ser importante para excluir outras patologias (fratura de stress do calcâneo). A RMN é um exame que, em caso de necessidade, pode ser usada para realizar o planeamento cirúrgico.
Cintigrafia óssea - É um exame que permite ajudar a quantificar a inflamação. Pode ser realizada para excluir outras patologias (ex. fratura de stress do calcâneo);
Estudo analítico - Embora não seja usado por rotina, pode ser útil para excluir outras patologias (artrite inflamatória, infeção, etc.).
Eletromiografia - A electromiografia pode se usada para excluir compressões nervosas.
No diagnóstico diferencial devem ser levadas em consideração as seguintes patologias:
- Atrofia da gordura calcaneana;
- Síndrome do túnel társico;
- Fratura de stress calcâneo;
- Neuropatia de Baxter (compressão do primeiro ramo nervo plantar lateral);
- Disfunção tendão tibial posterior;
- Etc.
Fascite plantar tem cura?
A fascite plantar é uma doença que evolui favoravelmente na maioria dos casos. Cerca de 90% dos doentes melhoram significativamente nos primeiros dois meses de tratamento. No entanto, pode demorar algum tempo até aos sintomas desaparecerem de forma definitiva, em alguns casos até um ano. Infelizmente em alguns casos a dor pode tornar-se crónica, principalmente se não forem adoptadas as medidas adequadas de tratamento.
Saiba, de seguida, como tratar a fascite plantar.
Tratamento da fascite plantar
O tratamento para a fascite plantar deve ser instituído pelo médico ortopedista após diagnóstico. Como veremos de seguida, existem diversas opções no tratamento que deverá ser adaptado individualmente ao doente em causa. É de realçar que é muito importante não desistir dos tratamentos para evitar complicações futuras, nomeadamente, dor no calcanhar sempre que fizer carga ao caminhar.
O tratamento de primeira linha passa por alterações no estilo de vida. Em caso de obesidade o doente deve perder peso de modo a reduzir a pressão exercida sobre a articulação. Se o doente praticar alguma atividade física deve ser efetuada restrição do exercício físico. Deve ser realizado repouso e limitação de atividade física de contacto com o solo. Caso não exista dor, pode retomar-se o retorno gradual à atividade física após 4 a 6 semanas de repouso. Na fase aguda não deve forçar o caminhar. No entanto, após a fase aguda a caminhada é benéfica.
O uso de uma palmilha ortopédica (“calcanheira“ ou “almofada para o calcanhar” em silicone ou outro material) permite distribuir a carga durante a marcha e desta forma aliviar as queixas. Estas palmilhas ortopédicas podem ser facilmente adquiridas em farmácias e nas lojas da especialidade (material ortopédico).
A utilização de uma “bota walker” desenvolvida de forma a permitir uma melhor distribuição das cargas durante a marcha, pode ser uma boa opção a utilizar nas fases mais agudas, permitindo um alívio das queixas. O uso de uma tala ou ortótese noturna contribui também para o alívio da dor.
A fisioterapia, através de exercícios específicos de alongamento da fáscia plantar e do tendão de aquiles são uma boa opção no tratamento. O tratamento fisioterapêutico deve preferencialmente ser realizado com exercícios que permitam o estiramento (ou alongamento) da fáscia plantar e do gastrocnémio e solear.
Nas situações de dor crónica no calcanhar (> 6 meses) refratária aos restantes métodos de tratamento conservador pode-se associar terapia por ondas de choque.
A prescrição de medicamentos (ou remédio) anti-inflamatórios não esteróides (AINE’s), como por exemplo o ibuprofeno ou naproxeno, por norma em comprimidos ou pomada anti-inflamatória permitem aliviar a dor e reduzir a inflamação da fáscia plantar.
O doente deve tomar sempre esta medicação como indicado na prescrição médica. O tratamento medicamentoso pode também, nos casos mais graves, incluir a infiltração no pé de corticóides (dexametasona ou metilprednisolona ou beclometasona + lidocaína).
Na fase aguda, a aplicação de gelo (frio) duas a três vezes por dia diretamente no calcanhar durante 5 a 10 minutos ajuda também a aliviar as queixas. Note, no entanto, que a aplicação de gelo nas fases não agudas não traz alivio, devendo neste caso aplicar calor (água quente, por exemplo) que ajuda no relaxamento dos músculos e da fáscia.
Deve usar calçado com sola que permita amortecer os choques, por norma, solas maleáveis que possibilitem uma melhor absorção dos impactos com o solo. Isto é, deve evitar o uso de sapatos ou ténis que possuam uma sola rígida. Deve evitar andar descalço, principalmente durante a manhã.
O doente nunca deve em caso algum automedicar-se sob pena de poder agravar o quadro clínico, devendo seguir todas as recomendações do médico ortopedista.
Em caso das medidas atrás enunciadas falharem o que é raro, deverá ser considerado tratamento cirúrgico, como veremos de seguida.
Cirurgia da fascite plantar
A cirurgia (ou operação) na fascite plantar deve ser apenas considerada em caso de falência do tratamento conservador, que ocorre em cerca de 5% dos doentes.
A cirurgia, designada por fasciotomia plantar, consiste na libertação de 30 a 50%das fibras da fáscia. A taxa de sucesso estimada situa-se entre 70 a 80%, sendo superior nas situações em que se associa libertação do gastrocnémio.
Esta técnica está indicada em situações de dor crónica (> 9 meses) refratária a tratamento conservador. Pode ser realizada cirurgia aberta (se síndrome do túnel társico associado) ou artroscópica com igual eficácia, permitindo esta última uma recuperação mais rápida.