Aneurisma da aorta abdominal

Fotos de aneurisma da aorta abdominal

O que é aneurisma da aorta?

O aneurisma da aorta abdominal é o tipo de aneurisma mais frequente da aorta e que ocorre na sua porção intra-abdominal (dentro do abdómen). Um aneurisma é uma dilatação de um vaso sanguíneo (artéria ou veia). A aorta é a maior artéria do corpo humano, estendendo-se do coração, passando pelo tórax, até ao abdómen, onde se divide para fornecer sangue às pernas.

Existem várias classificações dos aneurismas. Podem ser classificados de acordo com a localização, a forma e a causa, como veremos de seguida.

Classificação quanto à localização

O aneurisma da aorta ou aneurisma aórtico consiste na dilatação da aorta. Como vimos, a aorta é a maior artéria do corpo humano. O aneurisma, apesar de mais frequente na porção intra-abdominal (dentro do abdómen), designando-se por aneurisma da aorta abdominal, pode também ocorrer noutros locais. Relembramos que a aorta se estende desde o coração, passando pelo tórax, até ao abdómen, dividindo-se aí para fornecer sangue às pernas.

Quando ocorre dilatação da aorta no tórax, referimo-nos a aneurisma da aorta torácica. Uma dilatação da aorta na sua porção intra-abdominal (dentro do abdómen) é um aneurisma da aorta abdominal ou aneurisma aórtico abdominal. No aneurisma toracoabdominal verifica-se dilatação, quer da aorta abdominal, quer da aorta torácica.

Mediante a localização na aorta torácica, o aneurisma pode ainda ser denominado por aneurisma da aorta ascendente, aneurisma do arco aórtico e aneurisma da aorta torácica descendente.

Saiba, aqui, tudo sobre o aneurisma da aorta torácica.

Neste artigo centramo-nos apenas no aneurisma da aorta abdominal ou aneurisma aórtico abdominal.

Classificação quanto à forma

Os aneurismas saculares possuem a forma de um saco. Apresentam dilatação de apenas uma porção da circunferência da aorta e não de toda a aorta.

Os aneurismas fusiformes apresentam uma dilatação simétrica e completa de toda a circunferência da aorta, como que em forma de losango.

Classificação quanto às causas

À maioria dos aneurismas é atribuída uma causa aterosclerótica ou degenerativa. Existem outras causas mais raras como a dissecção, infeção, doenças genéticas e trauma.

Aneurisma aterosclerótico ou degenerativo - À maioria dos aneurismas é atribuída uma etiologia aterosclerótica. A etiologia aterosclerótica, ainda que discutível, está relacionada com o facto dos aneurismas e a aterosclerose partilharem fatores de risco, como o tabagismo, a idade e a hipertensão. A aterosclerose enfraquece a parede da aorta, facilitando a sua dilatação.

Dissecção - No aneurisma dissecante, também se verifica uma dilatação da aorta (aneurisma) resultante de uma dissecção (daí o nome de dissecante). A dissecção é uma doença diferente da doença aneurismática primária. Na dissecção há uma separação das diferentes camadas que constituem a parede do vaso. Parte do sangue passa por entre estas camadas e não exclusivamente no interior do vaso (lúmen do vaso), com consequente enfraquecimento da parede e dilatação da artéria.

Infeção - No aneurisma micótico ou infecioso verifica-se uma dilatação da parede da artéria em consequência de uma infeção. A bactéria aloja-se, destrói e enfraquece a parede da artéria, com formação do aneurisma. Nos países desenvolvidos, este aneurisma é extremamente raro, representando cerca de 1% de todos os aneurismas.

Doenças genéticas - As doenças genéticas ou hereditárias são apontadas como causas de aneurisma em doentes jovens, sem outra causa para o aneurisma.

Aneurisma da aorta abdominal

O aneurisma da aorta abdominal é o aneurisma mais comum. Por definição no aneurisma da aorta abdominal, a aorta intra-abdominal, tem um diâmetro transversal superior a 3 cm. Pensa-se que cerca de 1,8 milhões de Europeus possuem aneurisma da aorta abdominal.

No aneurisma da aorta, tal como acontece nos outros aneurismas, a parede do vaso sanguíneo na zona dilatada pode tornar-se fraca e a artéria romper. A artéria rompe sem qualquer aviso. O risco de rotura é maior, quanto maior o diâmetro (tamanho) do aneurisma. Quando rompe, o sangue sai da aorta para o abdómen, causando um sangramento maciço. Se o aneurisma não for corrigido de imediato o doente morre.

É fundamental identificar e corrigir o aneurisma antes da rotura. O aneurisma deve ser corrigido quando o diâmetro é superior a 5,5 cm nos homens e 5,0 cm nas mulheres.

Clínica de Cirurgia vascular

Causas do aneurisma da aorta abdominal

A etiologia ou causa do aneurisma da aorta abdominal não é conhecida. A maioria dos aneurismas da aorta abdominal é do tipo aterosclerótico ou degenerativo (como descrito em cima). Pensa-se que está relacionado com fatores genéticos e do ambiente. Saiba, de seguida, quais são os fatores de risco para o aneurisma.

Fatores de risco do aneurisma da aorta abdominal

O risco de aneurisma da aorta abdominal é maior nos homens, de raça branca, com idade superior 60 anos, fumadores ou ex-fumadores, com hipertensão arterial, doença aterosclerótica e sedentários.

Um outro fator muito importante é a existência de um familiar próximo com aneurisma da aorta abdominal. Cerca 20% dos doentes possuem história familiar de aneurisma, apesar dos fatores genéticos não estarem completamente esclarecidos.

Os doentes com risco de aneurisma devem fazer uma ecografia para o identificar.

Sintomas do aneurisma da aorta abdominal

A maioria dos doentes com aneurisma da aorta abdominal não apresenta qualquer tipo de sinal ou sintoma. O aneurisma é identificado quando o paciente faz um exame de rotina, como uma ecografia ou TAC. No entanto, alguns sintomas iniciais podem ser percepcionados pelos doentes. Por vezes, o paciente sente uma palpitação no abdómen. Diz que sente o “coração a bater na barriga”. Pode ter uma sensação de estômago cheio (sensação de plenitude gástrica) após ingerir uma pequena refeição. Pode também notar uma dor no abdómen ou costas.

O aneurisma também pode ser diagnosticado quando o médico por palpação do abdómen, identifica uma pulsatilidade aumentada.

Diagnóstico de aneurisma da aorta abdominal

Complicações do aneurisma da aorta abdominal

São várias as complicações do aneurisma da aorta abdominal. Entre as principais e mais temíveis complicações encontra-se a rotura. Se o aneurisma não for identificado e corrigido, pode crescer e romper. Uma dor forte nas costas ou no abdómen, muitas vezes associado a hipotensão (pressão arterial baixa) e perda súbita de consciência pode ser um indicador de rotura. Um doente com aneurisma da aorta abdominal e com dor abdominal ou nas costas deve dirigir-se de imediato a um serviço de urgência. O doente ou os familiares devem informar o médico do diagnóstico de aneurisma. A rotura apresenta uma taxa de mortalidade de 65% e os 91%. Daí a importância do rastreio. Veja mais informação em rastreio.

Uma outra complicação é a embolização. A embolização consiste na oclusão súbita das artérias pequenas, causadas por fragmentos de placas aterosclerose (placas de gordura) e coágulos provenientes de artérias maiores ou do coração. O aneurisma da aorta abdominal pode libertar este material embólico, com consequente oclusão das artérias, principalmente as artérias das pernas. Com a oclusão súbita da artéria, a perna deixa de ter sangue, ficando branca ou marmoreada e fria, com risco de perda de perna (amputação).

Rastreio de aneurisma da aorta abdominal

Dado o risco de rotura e pelo facto de muitos doentes portadores de aneurisma não apresentarem queixas, é muito importante a identificação precoce do aneurisma. Esta é a medida de prevenção mais relevante. Nos Estados Unidos é recomendado o rastreio de aneurisma, com ecografia, aos homens com mais de 65 anos fumadores ou ex-fumadores e no Reino Unidos a homens com idade superior a 65 anos. A Sociedade Americana de Cirurgia Vascular recomenda o rastreio de aneurisma a indivíduos com mais de 65 anos e com história familiar de aneurisma.

Os doentes identificados com aneurisma da aorta abdominal devem ter alguns cuidados, através da adoção de um estilo de vida saudável. Os doentes devem evitar o sedentarismo, fazendo caminhadas, por exemplo. Em caso da existência de hábitos tabágicos, estes doentes devem fazer a cessação tabágica. É muito importante manter a pressão arterial (tensão arterial) dentro dos valores normais. Outros fatores de risco ateroscleróticos, como o colesterol (gordura no sangue) devem estar controlados.

Aneurisma da aorta abdominal tem cura?

O aneurisma da aorta abdominal tem cura. É possível corrigir o aneurisma por cirurgia ou por técnica endovascular. Mas, nem todos os aneurismas necessitam de correção cirúrgica, como veremos adiante.

Saiba, de seguida, como tratar o aneurisma da aorta.

Tratamento do aneurisma da aorta abdominal

Os aneurismas com um tamanho pequeno (diâmetro entre 3 e 5,5 cm) não necessitam de ser corrigidos. Vários estudos indicam que é seguro vigiar aneurismas de tamanho pequeno.

Os aneurismas pequenos devem ser observados periodicamente com exames, como a ecografia ou a tomografia computorizada (TC ou TAC). Esta vigilância na maioria dos doentes mantem-se até o aneurisma atingir um diâmetro superior a 5,5 cm.

Devem ser corrigidos os fatores de risco para o aneurisma. Ou seja, os doentes devem caminhar; os fumadores, devem deixar de fumar; a pressão arterial (tensão arterial) e outros fatores de risco ateroscleróticos, como o colesterol (gordura no sangue) devem estar controlados.

Quando o aneurisma cresce e aumenta o risco de rotura, o aneurisma deve ser corrigido. O aneurisma deve ser corrigido quando o diâmetro é superior a 5,5 cm nos homens e 5,0 cm nas mulheres. Deve também ser corrigido se crescer rapidamente ou se provocar sintomas.

A correção pode ser feita por cirurgia ou por técnica endovascular. O cirurgião vascular (médico especialista em cirurgia vascular) decide quando deve ser corrigido o aneurisma. O cirurgião também decide qual a técnica de correção do aneurisma, mais adequada ao seu paciente.

Cirurgia do aneurisma da aorta abdominal

Através de uma incisão (corte) no abdómen o aneurisma é substituído por um tubo sintético. Este tubo é unido (suturado) à aorta numa zona acima e abaixo do aneurisma, em que a parede da aorta não está dilatada ou fragilizada. O sangue passa dentro do tubo sintético e não contacta diretamente com a parede do aneurisma, não fragilizando ainda mais a parede do aneurisma.

São várias os riscos na correção cirúrgica de aneurisma. As complicações mais frequentes são: hemorragia, enfarte agudo do miocárdio, infeção respiratória, insuficiência renal e infeção da ferida operatória.

Tenta-se minimizar, embora não se consigam anular estas complicações, com uma preparação pré-operatória adequada, com medidas intra e pós-operatórias.

Tal como em todas as cirurgias, a correção cirúrgica do aneurisma também apresenta risco de morte. Contudo, a taxa de mortalidade é muito baixa, entre 1 a 7%. É muito inferior à taxa de mortalidade de um aneurisma em rotura.

Após a cirurgia o doente permanece cerca de uma semana no hospital. Nos primeiros dias, fica internado na unidade de cuidados intensivos, para uma vigilância apertada e para a administração de medicamentos para a dor (analgésicos). O tempo de internamento hospitalar depende da recuperação do doente, podendo ser mais curto ou mais longo. Após alta hospitalar o doente volta às suas atividades diárias. O tempo de recuperação é variável, podendo ser imediato ou demorar algumas semanas.

Técnica endovascular

Na técnica endovascular o aneurisma também é substituído por um tubo sintético, denominada endoprótese. A endoprótese é colocada dentro da aorta e do aneurisma através de uma punção (picada) ou incisão nas artérias das pernas, com controlo de raio x. A endoprótese fica dentro do aneurisma, é fixado, mas não é suturado à aorta. A endoprótese fixa-se à aorta numa zona em que a parede da aorta está saudável, acima e abaixo do aneurisma.

À semelhança da técnica cirúrgica, também na técnica endovascular o sangue passa dentro da endoprótese e não contacta diretamente com a parede do aneurisma. Nesta técnica não existe incisão no abdómen, sendo a recuperação mais rápida e com menor tempo de internamento hospitalar.

Por vezes, durante a realização da técnica endovascular, verifica-se que não é possível corrigir o aneurisma utilizando este tipo de procedimento. Nestas circunstâncias, a intervenção é interrompida e procede-se à realização da cirurgia convencional (cirurgia de aneurisma da aorta abdominal, descrita em cima).

Na técnica endovascular, verificam-se as complicações descritas na correção cirúrgica do aneurisma e outras complicações, que são inerentes a esta técnica. Pode observar-se, ainda que com menor frequência, enfarte agudo do miocárdio, infeção respiratória, insuficiência renal e infeção da ferida operatória.

A técnica endovascular apresenta algumas complicações que lhe são inerentes. Uma das complicações consiste na manutenção de fluxo de sangue no interior do saco aneurismático.

A manutenção de sangue faz com que o aneurisma cresça, com risco de rotura. Esta complicação pode observar-se após correção imediata do aneurisma ou após alguns meses/anos.

Outra complicação inerente a esta técnica é a migração da endoprótese. Ou seja, a endoprótese move-se para cima ou para baixo no interior da aorta, saindo da sua posição inicial.
Nesta técnica endovascular também se verifica risco de morte. A taxa de mortalidade é inferior a 4%.

O tempo de recuperação após a técnica endovascular é muito menor, do que após a cirurgia. Na técnica endovascular não existe incisão abdominal, o doente tem menos dor após a intervenção e é possível realizá-la sem anestesia geral. Nas primeiras 24 horas após a intervenção, o doente está na unidade de cuidados intensivos e permanece cerca de três dias no hospital.

Seguimento ou follow-up

Depois de corrigido o aneurisma, quer por técnica cirúrgica, quer endovascular, o doente deverá manter vigilância com o médico especialista em cirurgia vascular. Assim serão identificadas atempadamente complicações que possam surgir.

Além de uma observação médica, o doente deverá realizar um exame, como ecografia ou TAC. A periodicidade e o tipo de exames, serão definidos pelo cirurgião vascular, dependendo do tipo de correção, da forma do aneurisma e do doente.

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