A hipercalcemia ocorre quando o nível de cálcio no sangue está acima do normal (valores de cálcio total acima de 10,5mg/dl). O cálcio é essencial para a função normal dos órgãos, células, músculos e nervos. É igualmente importante na coagulação do sangue e na saúde óssea, no entanto, em grandes quantidades pode tornar difícil o correto funcionamento do organismo e gerar problemas de saúde graves. O excesso de cálcio no sangue pode criar problemas nos ossos, criar cálculos renais (pedras nos rins), interferir no funcionamento do coração e do cérebro, entre outras complicações, que discutiremos mais tarde, neste artigo.
A hipercalcemia é, geralmente, o resultado do mau funcionamento das glândulas paratiroides (quatro glândulas pequenas, situadas no pescoço, perto da tiroide), ou seja, existe uma produção excessiva de hormonas, contudo, o mau funcionamento destas pequenas glândulas não são a única causa para a doença. Veja mais informação em “Causas da hipercalcemia”.
Sinais e sintomas da hipercalcemia
A sintomatologia da hipercalcemia pode variar consoante a gravidade da doença.
Casos ligeiros da doença, onde os níveis de cálcio no sangue estão apenas ligeiramente elevados, podem ser assintomáticos (não apresentam qualquer sinal ou sintoma). No entanto, casos mais severos de hipercalcemia podem provocar vários sinais e sintomas, relacionados com as parte do organismo afetadas pelos níveis elevados de cálcio, a saber:
Rins
O excesso de cálcio pode afetar o funcionamento dos rins. Isto pode causar sede excessiva e micção (vontade de urinar) frequente;
Sistema Digestivo
A hipercalcemia pode causar dor de estômago, náuseas, vómitos, perda de apetite e cólicas;
Ossos e músculos
O excesso de cálcio pode enfraquecer os ossos, causando eventualmente dor óssea e fraqueza muscular;
Cérebro
A hipercalcemia pode interferir com a forma como o cérebro funciona, resultando em confusão mental, letargia (falta de energia), fadiga inexplicável ou dores de cabeça. Estas alterações no cérebro também podem causar doenças como a depressão;
Coração
Embora seja raro, a hipercalcemia grave pode interferir com a função cardíaca, provocando palpitações, desmaios, indicações de arritmia cardíaca e outros problemas cardiovasculares;
Entre outros
Causas da hipercalcemia
Além de formar ossos e dentes fortes, o cálcio ajuda também os músculos a contraírem e os nervos a transmitirem sinais para o resto do organismo. Glândulas paratiroides hiperativas (hiperparatiroidismo) são a causa mais comum de hipercalcemia e pode derivar de um pequeno tumor, que pode ser benigno ou maligno, ou da hiperplasia (“alargamento”) de uma ou mais glândulas paratireoides.
No entanto, existem outras causas subjacentes também capazes de provocar o aumento de cálcio na corrente sanguínea, a saber:
Cancro
Cancro de pulmão, mama, e outros podem aumentar o risco de hipercalcemia;
Outras doenças
Certas doenças, como tuberculose e sarcoidose, podem elevar os níveis sanguíneos de vitamina D, que estimula o sistema digestivo a absorver mais cálcio;
Hereditariedade (genética)
Uma irregularidade genética rara conhecida como hipercalcemia hipocalciúrica familiar (FHH) causa um aumento de cálcio no sangue por causa de receptores de cálcio alterados no corpo do doente;
Imobilidade
Pessoas que têm alguma patologia que faz com que passem muito tempo sentadas ou deitadas, podem desenvolver hipercalcemia. Com o tempo, ossos que não suportam peso libertam cálcio no sangue;
Certos medicamentos
Certos fármacos como o lítio (frequentemente usado para tratar o transtorno bipolar) podem aumentar a libertação de hormonas pelas glândulas paratireoides;
Suplementos
Tomar quantidades excessivas de cálcio ou vitamina D, ao longo do tempo pode elevar os níveis de cálcio no sangue, para valores acima do normal;
Entre outras
Diagnóstico da hipercalcemia
A maioria dos casos de hipercalcemia é assintomática, então geralmente, o diagnóstico é realizado após umas análises ao sangue de rotina.
Estas análises ao sangue permitem avaliar a quantidade de cálcio (elevada com valores de cálcio total acima de 10,5mg/dl) e se o nível das hormonas produzidas nas glândulas paratireóides é alto, indicando assim o hiperparatireoidismo.
Análises à urina também são utilizadas para medir o cálcio, proteínas e outras substâncias que possam ser úteis na realização do diagnóstico.
Para determinar se a hipercalcemia é causada por uma doença como cancro ou sarcoidose, o médico especialista pode recorrer a vários exames de imagem aos ossos ou pulmões como uma radiografia, um TAC ou TC ou uma ressonância magnética.
Complicações da hipercalcemia
Quando não tratada atempadamente, a hipercalcemia pode provocar consequências graves, a saber:
Osteoporose
Se os ossos do doente continuarem a libertar cálcio no sangue durante muito tempo, o risco de desenvolvimento de osteoporose é muito elevado. A osteoporose é uma doença caracterizada por alterações ósseas, o que pode levar a fraturas, curvatura excessiva da coluna vertebral, entre outros problemas;
Pedras nos rins
Se a urina do doente contiver muito cálcio, podem formar-se cristais nos rins. Com o tempo, os cristais podem fundir formando cálculos renais (pedras nos rins);
Saiba, aqui, tudo sobre cálculos renais.
Insuficiência renal
Hipercalcemia grave pode danificar os rins, limitando a sua capacidade de filtrar o sangue e eliminar os resíduos, levando a um mau funcionamento dos órgãos, podendo originar diversas complicações graves;
Saiba, aqui, tudo sobre insuficiência renal.
Problemas do sistema nervoso
Hipercalcemia grave pode levar a confusão mental, demência e coma, o que, em alguns casos, pode ser fatal e levar à morte do paciente;
Ritmo cardíaco anormal (arritmia)
A hipercalcemia pode afetar os impulsos elétricos que regulam os batimentos cardíacos, fazendo com que o coração bata irregularmente;
Saiba, aqui, tudo sobre arritmias.
Entre outras
A hipercalcemia tem cura?
O prognóstico, tal como o tratamento, depende da causa subjacente e da gravidade da hipercalcemia. Se o cálcio no sangue for apenas ligeiramente elevado, o prognóstico da doença é extremamente favorável.
No entanto, casos mais graves ou quando a hipercalcemia é o resultado de uma patologia subjacente como algum cancro, o prognóstico depende da saúde geral do doente e da sua reação ao tratamento.
Tratamento da hipercalcemia
O tratamento da hipercalcemia depende da gravidade da situação e da causa subjacente.
Casos ligeiros de hipercalcemia não requerem tratamento imediato. No entanto, encontrar a causa subjacente e monitorizar o progresso é importante, pois níveis ligeiramente elevados de cálcio podem também levar a complicações que se agravam com o evoluir do tempo.
Tratamento medicamentoso
Para a hipercalcemia mais grave, inicialmente o médico especialista pode prescrever alguma medicação, nomeadamente:
- Fluidos intravenosos e diuréticos: Níveis de cálcio extremamente elevados podem constituir uma emergência médica e o doente pode necessitar de ser hospitalizado para realizar tratamento com fluidos IV e diuréticos, de modo a diminuir imediatamente o nível de cálcio para evitar problemas de ritmo cardíaco ou danos ao sistema nervoso;
- Bisfosfonatos: Medicamentos (remédios) da osteoporose intravenosa (IV), podem reduzir rapidamente os níveis de cálcio, e são muitas vezes utilizados para tratar a hipercalcemia provocada por algum tipo de cancro;
- Denosumab: Este medicamento é frequentemente utilizado para tratar pessoas com hipercalcemia causada por cancro que não respondem a bisfosfonatos;
- Calcitonina: Estas hormonas provenientes do salmão, controlam os níveis de cálcio no
sangue; - Calcimiméticos: Este fármaco ajuda a controlar glândulas paratiroides hiperativas;
- Prednisolona: Se a hipercalcemia for causada por altos níveis de vitamina D, o uso durante um pequeno período de tempo de coricoides, como prednisolona são geralmente bastante úteis;
- Outros.
Procedimentos cirúrgicos
Problemas associados a glândulas paratireoides hiperativas, muitas vezes, podem ser tratadas por cirurgia (operação) para remover o tecido que está a causar o problema.
Em muitos casos, apenas uma das quatro glândulas paratireoides da pessoa é afetada.