A capsulite adesiva ou “ombro congelado” é um quadro clínico caracterizado por dor e rigidez da articulação do ombro (o doente possui dificuldade em mover o braço, como se estivesse “congelado”).
Mesmo após 150 anos sobre a sua 1ª descrição, o seu significado como doença continua incerto e a sua etiologia controversa. Clinicamente, a rigidez é, por vezes, comum a outros diagnósticos e poderá fazer pensar, por exemplo, em artrose, mas as características da dor a esta associada são habitualmente bastante diferentes da que caracterizam a capsulite.
A capsulite adesiva atinge 2 a 5% da população geral, principalmente entre a 4ª e 6ª década de vida e com uma particular incidência sobre o ombro não dominante. Ou seja, se a pessoa é destra atinge mais frequentemente o ombro esquerdo, por sua vez, se a pessoa é canhota é mais afetado o ombro direito. O atingimento bilateral é raro, embora seja possível atingir os dois ombros de uma forma faseada, com um intervalo geralmente inferior a 5 anos.
Fases da capsulite adesiva
As fases da capsulite adesiva ou “frozenshoulder” são três:
- Fase inicial aguda, “freezingphase” - é caracterizada pelo aparecimento insidioso de dor difusa e limitação da amplitude dos movimentos (ativos e passivos) da articulação gleno-umeral. Possui uma duração de cerca de 2 a 9 meses.
- Segunda fase, “frozenphase” - nos 4 a 12 meses seguintes, a dor diminui progressivamente, mas a limitação de movimentos mantém-se, com perda quase total da rotação externa.
- Fase de resolução, “thawingphase” - ocorre espontaneamente, com melhoria gradual da amplitude de movimentos e resolução da dor. Possui uma duração média de 2 a 3 anos.
Causas da capsulite adesiva
A capsulite adesiva é habitualmente idiopática, pelo que por definição não possui causa conhecida. Existem, no entanto, algumas situações em que o fator causal é identificado e, então, a capsulite denomina-se de secundária.
Dentro das causas conhecidas mais frequentes de capsulite adesiva ou retrátil, encontram-se o traumatismo, com ou sem fratura associada, a cirurgia ou causas sistémicas, como a diabetes ou doenças da tiróide.
Todos os quadros inflamatórios junto à articulação do ombro, como as bursites e tendinites, poderão estar também relacionados com a fisiopatologia desta entidade clínica.
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Normalmente o que ocorre na situação inflamatória crónica é uma progressiva fibrose capsular por aumento da deposição de mediadores químicos inflamatórios (denominados citoquinas), com a consequente capsulite retrátil.
Fatores de risco da capsulite adesiva
Como referido, a diabetes é das patologias mais vezes associada à capsulite adesiva, estando presente em 20% dos casos em que esta ocorre.
Sintomas da capsulite adesiva
O quadro clínico é caracterizado por dor difusa a todo o ombro, com início insidioso e evolução de algumas semanas. Existe habitualmente agravamento noturno e pode também originar uma limitação da amplitude de movimentos ativos e passivos da articulação que, no limite, levam a um bloqueio completo da mobilidade.
O agravamento destes sintomas pode provocar uma grande limitação e mesmo interferir com as atividades da vida diária, tornando-se extremamente incapacitante também para a atividade profissional.
Diagnóstico da capsulite adesiva
O diagnóstico é feito pelo médico ortopedista (especialista em ortopedia) com base na história e exame clínico e recorrendo a alguns exames auxiliares. Não existe nenhum teste específico para diagnosticar esta doença.
O exame clínico é a base do diagnóstico, juntamente com uma radiografia (RX) ou tomografia axial computorizada (TAC) normais, excluindo assim outras patologias, como tendinopatia calcificante da coifa, osteoartrose, necrose avascular ou fraturas que também podem originar restrição dolorosa de movimentos.
A ressonância magnética (RM) pode fazer o diagnóstico precoce aorevelar alterações muito sugestivas desta patologia, como o espessamento das estruturas no intervalo dos rotadores, nomeadamente o ligamento coracoumeral, assim como da capsula no recesso axilar e sinais de inflamação da sinovial articular.
Embora não seja diagnóstico, alguns autores defendem que se possa correlacionar o grau de espessamento capsular, medido por RM no recesso axilar, com o estadio clínico da capsulite adesiva.
Capsulite adesiva tem cura?
A capsulite adesiva ou “ombro congelado” é uma patologia que habitualmente se resolve com tratamento não cirúrgico. Embora a resolução definitiva do quadro seja demorada, com a orientação adequada, a recuperação da mobilidade é completa.
Saiba de seguida, como tratar a capsulite adesiva.
Tratamento da capsulite adesiva
Na capsulite adesiva, o tratamento numa fase inicial é baseado em anti-inflamatórios, isto é medicamentos ou remédios dirigidos para o controle da inflamação e dor. A fisioterapia precoce também pode ajudar nestes objetivos, assim como fazer a aplicação de gelo e/ou calor alternados.
O tratamento fisioterapêutico, numa fase em que a dor já esteja controlada, baseia-se na realização de exercícios para a recuperação da amplitude articular normal. Este processo é, por vezes, muito longo e poderá demorar entre 9 a 12 meses.
Para além dos exercícios recomendados pelo seu médico especialista de Fisiatria, de forma complementar poderá realizar exercícios aeróbicos, exercícios de pilates supervisionados pelo seu treinador pessoal com vista à reabilitação completa ser atingida de uma forma mais rápida e natural.
Nos casos mais resistentes aos tratamentos não invasivos, poderemos recorrer à realização de uma infiltração com lidocaína e corticosteroides ou a uma hidrodistensão capsular com soro fisiológico, realizada com controle de ecografia.
Nos casos em que a abordagem conservadora não esteja a ser eficiente, ou bem tolerada pelo paciente, poderá ser necessário recorrer a anestesia para manipulação ou tratamento cirúrgico.
Cirurgia da capsulite adesiva
A cirurgia é sempre o último recurso nestas situações e quando todos os restantes tratamentos falharam. A operação a realizar pelo seu médico especialista de ombro consiste numa artroscopia do ombro para fazer a distensão capsular e eventualmente capsulotomias circulares.
Como qualquer outra cirurgia, esta também não é isenta de riscos, nomeadamente a de lesão iatrogénica de estruturas nervosas próximas à articulação. Outras complicações poderão também ocorrer no pós operatório, sendo a mais frequente a recidiva do quadro de rigidez se a recuperação não for reiniciada o mais precocemente possível.