Artrose do pé

Artrose do pé

O que é artrose do pé?

O pé humano é constituído por 26 ossos e 33 articulações. Por definição, a artrose é uma condição em que o revestimento de uma articulação (a cartilagem) se vai desgastando, levando a uma diminuição da mobilidade, dor e, por vezes, a uma deformidade.

É difícil definir artrose do pé, uma vez que há várias articulações e em teoria todas podem evoluir com artrose. No entanto, sabemos que, no pé, a artrose ou osteoartrose é mais comum e sintomática na articulação subtalar (ou subastragalina) e na 1ª articulação metatarsofalângica (articulação do hallux ou “joanete”).

Causas da artrose do pé

Quando não se identifica uma causa para a artrose, esta é definida como artrose primária. A artrose metatarsofalângica, muitas vezes confundida com “joanetes”, é a artrose do pé primária mais comum.

Quando a causa da osteoartrose está identificada chama-se artrose secundária. Duas das causas mais frequentes de artrose secundária do pé são a artrite reumatóide (e outras doenças inflamatórias), o pé plano e também as fraturas.

O pé plano (ou pé chato) pode evoluir com o tempo para uma artrose das articulações subtalar e talonavicular. Por sua vez, a artrite reumatoide pode provocar artrose de qualquer articulação do pé.

As fraturas do calcâneo são a causa mais frequente de artrose da articulação do tarso.

De um modo geral, consideram-se como fatores de risco para artrose a prática de exercício físico intenso (sobreuso), lesões anteriores, doenças inflamatórias, obesidade e fatores genéticos.

Sintomas na artrose do pé

Consoante a articulação afetada os sintomas poderão variar.

No entanto, de um modo geral, a artrose do pé pode provocar dor na região da articulação afetada, assim como limitação da mobilidade, sendo a dor no pé o sintoma mais frequente.

No caso da artrose do 1º dedo do pé (dedo grande ou hallux), mais conhecida como hallux rigidus, a principal queixa é dor na região do “joanete” que surge com a marcha. A dor está relacionada com a limitação da mobilidade do dedo. Com o andar, como o dedo não tem mobilidade, há uma sobrecarga que provoca dor. A articulação pode ficar inflamada e doer.

No caso da artrose do tarso o principal sintoma é dor na região do calcanhar que surge com o andar. Esta dor no pé poderá ser mais intensa em pisos irregulares, uma vez que a articulação do tarso é muito requisitada durante a marcha na adaptação do pé ao chão.

Diagnóstico da artrose do pé

O diagnóstico é feito pela associação entre os exames e a avaliação do médico ortopedista.

O diagnóstico começa com uma avaliação do médico ortopedista (especialista em ortopedia), em que são ouvidas as queixas do paciente e é realizado o exame físico. Com estes dados é, muitas vezes, possível fazer um diagnóstico inicial e identificar possíveis causas secundárias.

Posteriormente, serão necessários exames para melhor identificar e caracterizar a artrose.

Com uma radiografia em carga (RX de face e de perfil do pé), conseguimos uma primeira avaliação e, nos casos em que a artrose é mais avançada, uma confirmação do diagnóstico.

Ainda assim, na presença de um RX normal, se o exame clínico indicar a possibilidade de artrose, a ressonância magnética (RMN ou RM do pé) permite avaliar os estádios iniciais da artrose, em que temos algum desgaste da cartilagem que ainda não é visível no RX. A RM permite ainda identificar outros problemas que possam estar associados e ajuda a excluir outros motivos de dor.

A tomografia computorizada (TC ou TAC do pé) é um exame que podemos usar também para o diagnóstico, apesar de menos útil com a facilidade atual em fazer uma RM. No entanto, a TC poderá ser um exame importante para o planeamento cirúrgico, nos casos em que a cirurgia esteja indicada.

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Artrose do pé tem cura?

A artrose, por ser um processo degenerativo e progressivo não tem cura. No entanto, é possível tratar e melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes.

O prognóstico vai depender da causa da artrose e de quão avançada está.

Tratamento da artrose do pé

O tratamento vai depender da articulação afetada. No entanto, independentemente disso, podemos sempre considerar dois grandes grupos de tratamento:

  • O tratamento conservador (não cirúrgico);
  • Tratamento cirúrgico (cirurgia).

Após avaliação, o médico especialista do pé deverá, em conjunto com o doente, escolher o tratamento mais adequado.

Tratamento conservador (não cirúrgico)

O tratamento conservador deverá ser quase sempre a primeira linha de tratamento.

Este tratamento deverá ser adaptado consoante as queixas do doente e a articulação afetada.
Identificar as atividades que provocam mais dor e adaptá-las ou mesmo substituí-las por outras. Atividade física na água, como piscina ou hidroginástica, poderá ser uma alternativa a desportos de impacto.

Utilização de palmilhas adequadas à artrose específica é uma solução eficaz em vários casos. No caso da artrose do hallux, a utilização de sapatos de sola rígida ou com a parte da frente elevada (“half rocker”) podem ter bons resultados.

A prescrição de medicamentos (ou remédios) analgésicos e anti-inflamatórios é uma boa opção no tratamento das agudizações. Mas, uma vez que as queixas são muitas vezes crónicas, poderá não ser a melhor opção. A toma crónica de anti-inflamatórios pode ter efeitos laterais indesejados. Como alternativa poderão ser utilizados medicamentos tópicos (gel, creme, loção, etc.)

Em alguns casos, poderá estar indicada a fisioterapia. Apesar de ser uma opção bastante eficaz nos casos adequados, a verdade é que em muitos casos o tratamento fisioterapêutico, poderá não ter os resultados desejados.

Em alguns casos selecionados, poderá ainda ser ponderada uma infiltração do pé.

Há muitas opções de infiltrações. Corticoides, ácido hialurónico ou fatores de crescimentos (PRP’s) são algumas das opções disponíveis. A sua utilização não é totalmente consensual e deverá ser sempre avaliada caso a caso. O ideal será discutir estas opções com o médico especialista para perceber se será recomendado.

Tratamento cirúrgico (cirurgia)

A cirurgia na artrose do pé deve ser equacionada quando o tratamento conservador falha.

No caso da articulação do tarso (subtalar ou subastragalina) o tratamento cirúrgico passa invariavelmente pela artrodese (fusão) da articulação. Neste caso, a articulação deixa de ter movimento e o doente fica sem dor. Numa fase inicial pode haver alguma dificuldade na marcha, mas na maioria das vezes o doente consegue ter uma marcha normal e sem dor.

No caso da artrose do hallux (“joanete”) podemos considerar 4 tipos de cirurgias:

  • cirurgia em que é efetuado um procedimento de substituição da cartilagem;
  • cirurgia de realinhamento ósseo;
  • cirurgia de colocação de prótese;
  • cirurgia de artrodese (fusão).

Quando operar a artrose do pé?

A cirurgia na artrose do pé deve ser equacionada quando o tratamento conservador falha. Uma operação pode ser a única opção para melhorar a qualidade de vida do doente.
Consoante a gravidade da artrose e a sua localização, pode-se considerar uma cirurgia mais ou menos agressiva.

Técnicas cirúrgicas na artrose do pé

Como dito previamente, há diferentes opções cirúrgicas, consoante a localização e gravidade.

Artrose do tarso (subtalar ou subastragalina)

A cirurgia na artrose subtalar consiste sobretudo na artrodese (fusão) em que os dois ossos, o astrágalo e o calcâneo são unidos num só. A cirurgia pode ser feita pela via aberta, em que é feita uma incisão, normalmente do lado de fora do pé, e através da incisão é preparada a articulação.

Pode também ser feita por via minimamente invasiva, em que a articulação é preparada por uma pequena incisão e com recurso a instrumentos próprios.

E podemos ainda ter uma operação por via artroscópica, em que a articulação é tratada com recurso a uma técnica de artroscopia, normalmente com o doente deitado de barriga para baixo e através de duas pequenas incisões na região do tendão de Aquiles.

Depois da articulação estar preparada, independentemente da técnica, poderão ser utilizados, por exemplo, 2 parafusos para a fixar e permitir que ocorra a fusão.

Artrose do hallux (metatarso-falângica ou “joanete” ou hallux rigidus)

Hallux rigidus

No caso da artrose do hallux já existem várias opções consoante a evolução da artrose.

Quando a artrose ainda está em estadio inicial, a mobilidade do dedo é boa, porém existe dor com a mobilização. Se houver uma lesão da cartilagem, podemos recorrer a uma técnica de substituição da cartilagem. Atualmente, existem implantes (próteses) que permitem substituir a cartilagem mantendo a articulação intacta.

Nestes casos menos evoluídos, pode também ser considerada uma cirurgia de realinhamento ósseo. Para o efeito, é efetuado um corte no osso que permite redirecioná-lo e, por vezes, encurta-lo para permitir uma maior mobilidade da articulação e uma diminuição da dor. 

Nos casos em que há uma artrose mais avançada, pode não ser possível fazer uma cirurgia poupadora da articulação. Nestes casos podemos recorrer à colocação de uma prótese ou então à fusão.

Atualmente a cirurgia de prótese tem tido menos aceitação por apresentar uma taxa de complicações relativamente alta. No entanto, nos casos em que funciona, os resultados são muito satisfatórios, permitindo manter a mobilidade da articulação e tratando a dor.

A cirurgia de fusão é talvez a cirurgia com o resultado mais previsível. Ao fundir o osso do metatarso e da 1ª falange retira a mobilidade completa à articulação e, portanto, a dor. Apesar de perder a mobilidade da articulação o impacto no andar é muito reduzido ou mesmo nenhum. Após esta cirurgia, o doente consegue fazer atividade física e retomar as suas atividades sem restrições.

Qualquer um dos procedimentos cirúrgicos descritos anteriormente, dos mais simples aos mais complexos, pode ser feito com recurso a diferentes técnicas de anestesia. Tanto pode ser utilizada uma anestesia geral como uma anestesia loco-regional (“local”), podendo o doente estar “acordado” ou a “dormir”. As diferentes opções deverão sempre ser devidamente discutidas com o anestesista e ponderadas de caso para caso.

Riscos, complicações na cirurgia da artrose do pé

A cirurgia da artrose do pé é bastante segura, mas não está à semelhança de qualquer cirurgia isenta de riscos e complicações.

Das complicações gerais é de destacar a infeção e a trombose venosa profunda (TVP). Apesar de pouco frequentes, são duas das complicações mais graves.

Podemos tomar medidas profiláticas para prevenir estas complicações, como a administração de antibiótico durante e após a operação para reduzir o risco de infeção. No caso da TVP é habitual a prescrição de fármacos anticoagulantes, como forma de prevenção destes eventos.

São ainda complicações gerais a possibilidade de ocorrer uma lesão nervosa ou vascular. Durante a cirurgia, há sempre o risco de haver lesão de algum nervo, artéria ou veia. O bom conhecimento de anatomia e a correta execução técnica ajudam a mitigar estes riscos, mas ainda assim a anatomia é variável de pessoa para pessoa e o risco existe sempre.

Em alguns doentes, pode ocorrer dor na cicatriz cirúrgica durante algum tempo, podendo ocorrer algum desconforto por um longo período de tempo.

Pós-operatório na cirurgia da artrose do pé

Os cuidados no pós-operatório são muito importantes no sucesso da operação.

Imediatamente após a cirurgia é necessário manter uma vigilância próxima para detetar e tratar de imediato qualquer complicação que surja.

Os cuidados de penso devem ser, sempre que possível, supervisionados pelo cirurgião para avaliar a evolução da ferida cirúrgica.

Recuperação após cirurgia da artrose do pé

De um modo geral, a recuperação após cirurgia de artrose do pé é relativamente bem tolerada.

Após a cirurgia de um modo geral o doente pode fazer logo carga, com um sapato especial (no caso da artrose do hallux) ou uma bota (no caso da artrose do tarso).

Deverá ser sempre expectável um período de recuperação inicial de aproximadamente 6 semanas, em que terá de utilizar uma ortótese para caminhar. Após esse período inicial poderá começar a caminhar sem a bota/sapato e começar a adaptar-se.

Ainda assim, apesar de poder caminhar logo desde o início, numa fase inicial, até a ferida estar cicatrizada deverão ser evitados esforços e o repouso deverá ser a regra.

Após essa fase inicial, inicia-se o período de recuperação ativa. Nesta fase a fisioterapia pode ter um papel importante. O tratamento fisioterapêutico ajuda na recuperação e nos casos de cirurgia conservadora e da prótese do tornozelo, o incentivo à mobilização e a reabilitação são essenciais para otimizar a recuperação.

A fisioterapia ajuda ao controlo da dor, à diminuição do edema (“inchaço”) e à melhoria da mobilidade da articulação. No caso da fusão do tarso, é importante para a recuperação da força muscular, para o treino de equilíbrio e de marcha.

Estes benefícios são transversais a todas as cirurgias descritas, mesmo à artrodese (com exceção da mobilidade do tornozelo).

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