A respiração é uma função vital, inata e automática para a sobrevivência do indivíduo, sendo a primeira função pós-natal.
O sistema respiratório consiste num conjunto de órgãos tubulares e alveolares situados na cabeça, pescoço e cavidade torácica que participam nas trocas gasosas realizadas entre o indivíduo e o meio externo. Antes de chegar aos pulmões, o ar inspirado tem de percorrer um longo caminho, atravessando estruturas como a cavidade nasal, faringe, laringe, traqueia e brônquios.
A estrutura como o nariz, apresenta funções como a filtração, humidificação e aquecimento ou arrefecimento, ação microbiana/ imunológica e condução do oxigénio na fase de inspiração. O nariz é uma estrutura relevante para proteção das cavidades paranasais, auriculares e vias aéreas inferiores. Este aspeto é possível devido ao formato do próprio nariz e à muscosa bastante vascularizada que recobre as fossas nasais.
A respiração nasal (pelo nariz) que é o modo correto em repouso, define-se como o modo respiratório incidindo na permanência da cavidade oral (boca) fechada e inspiração nasal (pelo nariz) silenciosa.
Tipos de respiração
Existem diversos tipos de respiração, conforme descrevemos na tabela seguinte:
Tipo | O que acontece | Quando ocorre |
Respiração Clavicular ou Costal | Elevação das costelas e ombros durante a inspiração. | Usada no dia-a-dia |
Respiração Diafragmática ou Abdominal | Neste tipo de respiração, o diafragma contrai-se. Não há elevação das costelas. | Sono |
Respiração Costodiafragmática ou Mista | Contração do diafragma e dilatação das costelas, simultaneamente. | Fonação especializada ou canto. |
Durante a respiração em repouso, como o próprio nome indica, encontramo-nos em repouso, sem esforço físico. Deverá ser nasal e silenciosa, sendo condicionada por diversos fatores, nomeadamente o estado de saúde (quer físico e/ou emocional), postura, características do sistema respiratório, entre outras.
A respiração durante a fala / canto, requer um modo respiratório oronasal / oral, com ciclos respiratórios mais irregulares, necessitando de um controlo neurológico voluntário superior.
Contudo, nem sempre este mecanismo ocorre de forma equilibrada e harmoniosa. Em indivíduos em que, independentemente das situações (quer em repouso quer em esforço), encontram-se permanentemente a respirar pela cavidade oral (pela boca) são denominados como pessoas com modo respiratório predominantemente orais.
A respiração oral não deve ser considerada apenas uma adaptação, no sentido em que a respiração nasal, devido a diversos fatores já mencionados, poderá ser substituída pelo modo oral. Trata-se de uma questão patológica visto que, está intimamente relacionada a diversas condições para a pessoa.
As condições provocam um desequilíbrio na musculatura facial, tanto a nível estrutural bem como funcional, como nas funções estomatognáticas (fala, sucção, deglutição, mastigação,…).
Causas da respiração oral
As causas mais frequentes do indivíduo com respiração oral são as obstruções nasais e/ou obstruções faríngeas. As obstruções nasais correspondem a fatores como corpo estranho, pólipos, fraturas, desvio do septo nasal, entre outras. As obstruções faríngeas englobam hiperplasia das tonsilas, faríngea ou palatinas (adenóides e/ou amígdalas).
Saiba, aqui, tudo sobre o desvio do septo.
Os fatores funcionais correspondem aos hábitos orais permanentes tais como: sucção digital permanente (chuchar no dedo), uso de chupeta prolongado, postura alterada, ausência ou insuficiência na amamentação, problemas hormonais, entre outros.
Sinais / caraterísticas da respiração oral
As crianças e adultos com respiração oral podem apresentar diversos sinais, nomeadamente bruxismo (ranger os dentes) podendo caracterizar-se como diurno e/ou noturno, alterações articulatórias, apneia, alteração do olfato / paladar, ver televisão/tablet e dormir com a boca aberta, sialorreia (apresentando baba na almofada ao acordar e necessidade de beber água durante a noite e/ou ao acordar), ciclos de sono irregulares, ressonar.
Saiba, aqui, tudo sobre bruxismo.
Os indivíduos respiradores orais apresentam algumas das seguintes características:
- face dolicofacial/ face longa (1/3 inferior da face aumentada);
- olheiras;
- palato (céu da boca) alto e estreito;
- bochechas pouco sustentadas (lisas);
- ausência de vedamento labial;
- interposição lingual anteriormente (para a frente);
- hipotonia da língua;
- postura corporal incorreta (ombros para a frente em relação ao restante corpo);
- retroposicionamento da mandíbula (queixo recuado);
- Alterações das funções estomatognáticas (mastigação, deglutição, fala, sucção).
É importante ressalvar que se o indivíduo apresentar dores de cabeça, irritabilidade, desmotivação, cansaço, dificuldade de concentração pode justificar-se pelo facto de não apresentar um sono regular (distúrbios do sono) no sentido em que, durante este processo a cavidade oral encontra-se aberta, a língua não se apresenta numa postura adequada e impede que a pessoa respire corretamente e não exista oxigenação suficiente.
Saiba, aqui, tudo sobre distúrbios do sono.
Alterações provocadas pela respiração oral
As alterações verificadas numa pessoa com modo respiratório predominantemente oral classificam-se em: alterações craniofaciais e dentárias; alterações dos órgãos articuladores; alterações corporais; alterações das funções orais e outras alterações possíveis:
- Alterações craniofaciais e dentárias - face longa, palato alto e estreito, desenvolvimento craniofacial vertical, redução do desenvolvimento da mandíbula; extensão maxilar, alteração da oclusão, mordida cruzada ou mordida aberta (mais comum), entre outros.
- Alterações dos órgãos articuladores - Posição incorreta da língua na cavidade oral , como por exemplo, língua na posição baixa, quer em repouso ou durante a função; tónus facial hipotónico.
- Alterações corporais - Extensão e anteriorização (para a frente) da cabeça, desequilíbrio corporal geral e alteração da região lombar.
- Alterações das funções orais - Alteração da mastigação e deglutição (ato de engolir), ruídos durante a deglutição, falta de coordenação na tríade sucção, deglutição, respiração.
- Outras alterações - alteração no processe de digestão; amigdalites repetitivas; anemia, entre outras.
Intervenção terapêutica na respiração oral
O terapeuta da fala é o profissional de saúde que atua na prevenção, avaliação, diagnóstico e intervenção terapêutica em diversas áreas, como a Respiração, Comunicação, Fala, Linguagem, Motricidade Orofacial, Mastigação, Deglutição, Voz e Fluência.
O seu trabalho com a respiração oral consiste na adequação do tónus muscular com o intuito de promover o equilíbrio das funções orofaciais e dos movimentos mandibulares.
Assim, o tratamento apresenta como base na reeducação da musculatura orofacial com o intuito de contribuir para a harmonia, evitando que os hábitos iniciais perseverem.
Atendendo que “cada caso é um caso”, o terapeuta da fala deverá realizar uma avaliação fundamentada, agrupando todos os dados necessários para posteriormente delinear os objetivos específicos para cada utente, promovendo uma respiração nasal (pelo nariz), com harmonia entre as estruturas e as funções estomatognáticas, contribuindo para uma melhoria na qualidade de vida do utente.