Ansiedade generalizada

Perturbação ou Transtorno Ansiedade

O que é a Perturbação de Ansiedade Generalizada?

A Perturbação de Ansiedade Generalizada (PAG) é uma perturbação mediada pela ansiedade, na qual existe uma preocupação muito frequente e excessiva, relativamente a vários contextos da vida. Por exemplo, a pessoa pode preocupar-se simultaneamente com a sua saúde, com o bem-estar dos filhos, as tarefas laborais, as finanças familiares, entre outros assuntos. Esta apreensão constante manifesta-se através de sintomatologia ansiosa, como por exemplo dificuldades de concentração, irritabilidade, tensão muscular, agitação, fadiga ou perturbações no sono, entre outros sinais de ativação do modo ameaça, isto é, em que a pessoa se sente em perigo, tais como por exemplo, suores, náuseas ou diarreia.

Apesar da preocupação que ocorre na PAG ser excessiva, nem sempre a pessoa a reconhece enquanto tal; não obstante, a pessoa tem dificuldades em controlar a preocupação, o que se traduz num sofrimento emocional significativo e em dificuldades no funcionamento em vários contextos. Assim, ainda que não reconheça que a sua preocupação é excessiva, frequentemente queixa-se de se sentir constantemente preocupada, de não conseguir funcionar bem em diversos contextos ou de não conseguir controlar a preocupação.

De acordo com a DSM V (manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais), para ser diagnosticada uma PAG, esta preocupação tem de ser excessiva e ocorrer em grande parte dos dias, num período de pelo menos 6 meses, estendendo-se a vários contextos de vida em simultâneo, tendo pelo menos 3 sintomas de ansiedade e não se devendo a fobias específicas ou outras perturbações de ansiedade, humor ou fobias específicas, nem aos efeitos de medicação ou condições físicas que a pessoa tenha, como por exemplo, sofrer de hipertiroidismo, causando sempre mal-estar significativo e disfunção em vários contextos.

Quais são os principais sintomas na PAG?

Conforme já mencionado no ponto anterior, as pessoas que sofrem de PAG tendem a ter sintomas fisiológicos de ansiedade, tais como, tensão muscular, agitação, fadiga ou perturbações no sono, suores, náuseas ou diarreia, entre outros.

Além destes sintomas, a pessoa com PAG manifesta frequentemente outro tipo de sintomatologia, a nível cognitivo e comportamental, nomeadamente, preocupação excessiva e incontrolável, dificuldade em tomar decisões, dificuldade ou incapacidade de relaxar e aproveitar a vida, incapacidade em lidar com a incerteza, dificuldades de concentração e irritabilidade.

Como é que a pessoa se relaciona com a preocupação e com a incerteza na PAG?

Todas as pessoas se preocupam com algo, pelo que não é a preocupação em si que faz com que a pessoa sofra de PAG. É por um lado, aquilo com que se preocupa – na PAG a preocupação é generalizada - o grau em que se preocupa – na PAG a preocupação é excessiva – e por outro lado, a forma como se relaciona com essa preocupação – na PAG a preocupação é incontrolável - sendo que na maioria das vezes, além de terem crenças positivas acerca da preocupação, têm uma relação disfuncional com a mesma e também crenças negativas acerca da mesma.

Mas vamos por partes. Em primeiro lugar, há que esclarecer o que é a preocupação. A preocupação é uma forma de pensamento ou raciocínio lógico-dedutivo, na qual a mente se pré-ocupa (daí o termo preocupação) com acontecimentos que estão no futuro, e como tal ainda não aconteceram. Todas as pessoas se preocupam em determinados momentos e contextos da sua vida.

Contudo, a preocupação é uma forma de pensar o futuro acompanhada de medo, geralmente traduzido no pensamento/questionamento “e se…?”. Ou seja, perante uma situação percebida como ameaçadora, a pessoa poderá questionar-se com uma possibilidade de desfecho negativo em relação à mesma, a acontecer no futuro, que se traduz no pensamento “e se…?” - por exemplo, ao ter um filho que chega a casa com negativa a matemática, pensar “e se ele reprova o ano?”.

Desta forma, a pessoa que se preocupa antecipa com ansiedade a forma como os acontecimentos se desenrolarão no futuro. E se é verdade que a preocupação pode ocorrer a qualquer pessoa, podendo até ser útil em alguns casos, o que distingue a preocupação na perturbação de ansiedade generalizada é a forma como a pessoa se relaciona com estes pensamentos de preocupação. A pessoa com PAG não consegue evitar a espiral negativa de preocupações que se geram a partir daí. No nosso exemplo, a pessoa poderia começar a pensar “e se ele começa a desmotivar?” “e se ele quiser desistir da escola?”, “e se ele se tornar um marginal?”, etc., etc., etc. E de repente, uma simples nota negativa num teste escolar pode transformar-se numa preocupação constante e incontrolável.

Para agravar este processo em espiral de preocupação, encontram-se as crenças que a pessoa que sofre de PAG tem acerca da preocupação. Num primeiro momento, são crenças positivas, que dizem que a preocupação é útil e necessária, traduzindo-se em pensamentos tais como “a preocupação é sinónimo de responsabilidade”, “a preocupação impede a desilusão ou acontecimentos negativos”, “a preocupação ajuda a encontrar soluções para os problemas”; “a preocupação leva à ação”, entre outros.

A acrescentar às crenças positivas sobre a preocupação está sem dúvida a forma como a pessoa lida com a incerteza / dúvida. Quando a pessoa tem dificuldade em aceitar que há coisas que não pode controlar, estão somados os fatores que desencadeiam o seguinte, que são as crenças negativas acerca da preocupação. A pessoa pode começar a ter comportamentos de verificação ou controlo, que paradoxalmente, em vez de a aliviar, reforçam a preocupação, já que não há como garantir resultados futuros.

A partir daí, a pessoa passa a preocupar-se tanto, que esses pensamentos são intrusivos e ocupam muito tempo, prejudicando seriamente o funcionamento da pessoa em diversos contextos e o seu bem-estar emocional. A partir daí, não conseguindo controlar a preocupação por não poder garantir que os acontecimentos futuros que teme não aconteçam, a pessoa começa a tentar livrar-se da própria preocupação para funcionar melhor, desenvolvendo crenças negativas acerca da preocupação, tais como “se não parar de me preocupar, vou enlouquecer, morrer ou ter um AVC”, entre outros. E assim, o medo de estar preocupado vai manter o organismo em permanente estado de alerta, desenvolvendo a perturbação de ansiedade, que será generalizada caso atinja várias situações ou contextos da vida da pessoa, em simultâneo.

Por outro lado, quando a pessoa se preocupa e age no sentido de assumir responsabilidade pelo assunto em questão (ou apenas reconhece que são pensamentos e não realidades), consegue deixar ir esses pensamentos, não se prendendo a eles e não se afundando em espirais de negativismo ou pessimismo. No nosso exemplo, a preocupação poderia traduzir-se em procurar explicações de matemática para o filho, em vez de ficar a ruminar no assunto, o que seria muito mais funcional e causaria muito menos sofrimento emocional e perceção de autoeficácia, ou seja, a sensação de estar a lidar com o assunto, contrariamente ao que acontece na PAG, em que a pessoa se sente impotente para resolver os assuntos que a preocupam e por isso cada vez ficam mais preocupadas.

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Quem pode sofrer da Perturbação de Ansiedade Generalizada?

Tanto os adultos como as crianças e adolescentes podem sofrer de PAG, a diferença está nas situações de vida que suscitam a preocupação – por exemplo, os adultos preocupam-se com questões financeiras e de saúde enquanto as crianças e adolescentes tendem a preocupar-se mais com questões do desempenho académico, ou integração no grupo de pares, pontualidade, catástrofes naturais, etc.

Tal como em outras perturbações mediadas pela ansiedade, há mais mulheres do que homens a sofrer de PAG – os estudos epidemiológicos apontam para uma proporção de 2 terços de mulheres e 1 terço de homens.

A PAG apresenta comorbilidades frequentes outras perturbações de ansiedade, de humor, personalidade ou outras perturbações relacionadas com os efeitos de medicação ou de estados físicos gerais.

Causas da Perturbação de Ansiedade Generalizada

Tal como acontece noutras perturbações, na PAG existem diversos fatores do foro biológico e ambiental que contribuem para o seu desenvolvimento, nomeadamente questões genéticas, diferenças funcionais e químicas a nível cerebral, fatores ambientais e história prévia de vida ou acontecimentos precoces, personalidade negativista ou pessimista e sobreavaliação de situações enquanto ameaçadoras.

Evolução e Prevalência da Perturbação de Ansiedade Generalizada

Há uma certa evidência da contribuição genética para o desenvolvimento desta perturbação de ansiedade. Estima-se que a PAG afete cerca de 3% da população, por ano, sendo que se calcula que 5% das pessoas tiveram ou irão ter esta perturbação ao longo da vida.

Muitas pessoas que sofrem de PAG referem que sempre foram ansiosas em toda a sua vida, sendo que na maioria das vezes, a perturbação teve início na infância ou adolescência.

A evolução desta perturbação é crónica, embora vá flutuando consoante os contextos de vida, pelo que tende a agravar-se em momentos de maior stress, como por exemplo situações de desemprego, doença, alterações familiares, etc.

Consequências ou complicações da PAG

Ao estar constantemente num estado de alerta, causado pela preocupação generalizada, excessiva e incontrolável, a pessoa desenvolve uma resposta crónica de stress, que tem impacto a vários níveis, nomeadamente a nível físico (complicações cardíacas, digestivas, sexuais, etc.), a nível psicológico (maior tendência para depressão, burnout e outras perturbações de ansiedade) e a nível relacional (relações marcadas por tensão e irritação).

Quando procurar ajuda?

A pessoa deve procurar ajuda quando a preocupação passar a ser constante ou muito frequente, incontrolável e exagerada, causando sofrimento acentuado e prejuízo do funcionamento pessoal, seja a nível ocupacional, familiar, social ou outro.

Deixar evoluir a perturbação pode levar a comportamentos de verificação, procura de tranquilização ou de assumir o controlo exclusivo das situações, não delegando nada aos outros, com custos pessoais e relacionais evidentes, prejudicando a sua qualidade de vida e a de quem rodeia a pessoa. Além disso, adiar a procura de ajuda profissional levará a que o problema se agrave, tornando mais difícil e moroso o seu tratamento, já que se trata de uma perturbação com evolução crónica.

Se é amigo/a ou familiar de alguém que sofre de PAG, o que pode fazer?

Conviver com alguém que sofre de PAG não é fácil, pois a visão negativista ou pessimista de vários aspetos quotidianos, bem como os comportamentos de controlo tornam as relações interpessoais muito desafiantes. Como tal, se esta situação está a comprometer o seu bem-estar, procure também ajuda para lidar com as suas emoções e com a pessoa em causa. Nomeadamente, há coisas que deve evitar fazer, como por exemplo assumir responsabilidade pela forma como a pessoa se sente, tomar decisões pela pessoa ou zangar-se com ela por não deixar de se preocupar.

Claro que pode e deve ajudar a pessoa, escutando-a, dando suporte emocional e sobretudo desdramatizando as situações que geram tanto mal-estar à pessoa, ajudando-a a regressar sempre ao momento presente em vez de estar no futuro.

Tratamento da Perturbação de Ansiedade Generalizada

Em termos de tratamento, a PAG apresenta bons resultados com psicoterapia, que pode ser aliada à farmacologia.

Psicoterapia: há várias abordagens psicoterapêuticas que têm demonstrado bons resultados no tratamento da PAG, nomeadamente técnicas de Biofeedback, de Relaxamento, de Respiração e abordagens das Terapias Cognitivo-Comportamentais de terceira geração, em concreto o Mindfulness e a ACT, envolvendo as questões da aceitação e compromisso, têm mostrado resultados mais duradouros e consistentes, ajudando as pessoas a relacionarem-se de forma diferente com as crenças relativas à preocupação e à incerteza.

Farmacologia: a medicação pode ser um bom aliado da psicoterapia. Os fármacos mais utilizados para tratar a PAG são benzodiazepinas e antidepressivos.
Assim, é fundamental que a pessoa procure um profissional de saúde mental (psicólogo ou psiquiatra) que faça psicoterapia, para que possa ser trabalhado, a nível cognitivo, a forma como o paciente se relaciona com a preocupação e com a incerteza e a nível comportamental, como lida com as situações de stress quotidiano.

E claro está, tudo o que pode ser feito em termos de prevenção do stress, também será positivo na PAG, nomeadamente ter hábitos de higiene do sono, alimentação equilibrada, prática de exercício físico, meditação, relaxamento, interação social, lazer e evitar o consumo de drogas como o café, álcool, tabaco ou outras.

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