Depressão infantil

Depressão infantil

O que é a Perturbação Depressiva na Infância e Adolescência?

O conceito de depressão na infância e adolescência é relativamente recente. Globalmente, a infância é considerada como uma época feliz por natureza, devido à ausência de responsabilidade inerente às crianças. A adolescência é considerada um período difícil na vida dos jovens, sendo este visto como a causa do seu temperamento.

Na realidade, as crianças não só podem sentir grande sofrimento psicológico, como também podem experimentá-lo desde pequenas, e de forma intensa. Comparativamente aos adultos, possuem competências menos variadas e eficazes para lidar com esse sofrimento, têm menos controlo sobre a sua vida e, sendo mais dependentes, são mais vulneráveis. Igualmente, existe uma diferença significativa entre o temperamento normativo, isto é, natural, de um adolescente e depressão que se apresenta como algo mais severo e atípico.

É importante considerar as mudanças naturais associadas à idade e etapas de desenvolvimento, de modo a compreender as diferenças entre o normativo e os quadros clínicos.

A principal diferença entre as alterações de humor normativas e a perturbação depressiva é que esta última, devido à sua frequência e duração ao longo de diversos dias/semanas, interfere com o funcionamento da criança ou adolescente, em diversas áreas e contextos, dificultando (perturbando) o desempenho das atividades quotidianas. Deste modo, tem impacto em várias áreas e é expressa em diversos contextos, nomeadamente, no desempenho escolar, relações sociais e hábitos quotidianos. Por exemplo, a tristeza sentida durante um episódio depressivo distingue-se da normativa, desencadeada por uma situação desagradável ou de perda, pela sua duração, persistência e tenacidade, e pelo facto de se infiltrar na vida das crianças e adolescentes, concedendo-lhe uma tonalidade negativa. Para além disto, é natural, igualmente, que um adolescente sinta desmotivação escolar.

Contudo, em jovens com depressão, tal facto tem um enorme impacto na sua vida, que pode traduzir-se em dificuldades em levantar-se da cama todas as manhãs, constituindo um ato que custa ao jovem.

Sinais e sintomas da depressão

É necessária precaução ao analisar os indicadores de depressão infantil, por exemplo, o choro. É natural que as crianças, por terem menos ferramentas emocionais e possuírem menor vocabulário que os adultos, chorem para demonstrar diversas emoções e sentimentos não relacionados com a depressão. Assim, mais uma vez, é necessário considerar as características do desenvolvimento das crianças e adolescentes.

Alguns sinais / sintomas de depressão infantil incluem:

  • Choro;
  • Disforia – alterações de humor;
  • Auto-conceito negativo;
  • Baixa auto-estima;
  • Dificuldades de concentração e atenção;
  • Agitação psicomotora;
  • Anedonia – perda de interesse ou prazer nas atividades;
  • Fadiga ou falta de energia;
  • Isolamento social;
  • Queixas somáticas;
  • Perturbações de alimentação – comer de mais ou comer de menos;
  • Perturbações de sono – insónia (dificuldade em adormecer) e hipersónia (sonolência excessiva).

Nos adolescentes, os sinais/sintomas mais comuns incluem, ainda, dificuldades relacionadas com aprendizagem; perturbações alimentares (anorexia, bulimia); toxicodependência; comportamentos de passagem ao ato (por exemplo, agressões).

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Causas da depressão

A depressão parece resultar de uma complexa interação de diversos fatores, nomeadamente:

  • Genéticos;
  • Biológicos;
  • Psicossociais;
  • Cognitivos.

Estes fatores, associados a variáveis como acreditar que não se tem capacidade para mudar ou influenciar os eventos da sua vida; visão negativa de si mesmo, do mundo e do futuro; autocrítica; autoculpabilização; pensamento tudo ou nada (por exemplo, acreditam que se não conseguirem tirar a nota máxima num teste, não vale a pena tentarem); contribuem para a manutenção da depressão.

Consequências da depressão

A depressão tende a ser relativamente persistente, podendo tornar-se mais grave com o passar do tempo. Em determinados casos, após a remissão de sintomas, os mesmos tendem a reaparecer e a voltar a interferir com o funcionamento global do jovem. O prognóstico varia de acordo com o tipo de depressão e ainda com a idade na qual esta se manifestou.

A depressão na adolescência tem um risco acrescido de problemas de saúde (físicos e psicológicos), dificuldades a nível social (isolamento, redução da capacidade de estabelecer uma relação de intimidade), dificuldades a nível escolar (desinteresse e desmotivação para o estudo) e depressão na idade adulta. Algumas das consequências a longo prazo incluem, ainda, o abuso de substâncias e o suicídio (em adolescentes e jovens adultos).

Tratamento da depressão

Considerando as implicações que a depressão tem no quotidiano das crianças e adolescentes, a nível pessoal e social, tal como os riscos de desenvolver depressão, comportamentos de abuso de substâncias e suicídio na idade adulta ou fim da adolescência, é muito importante procurar ajuda de profissionais de saúde mental (psicólogos, psiquiatras).

O acompanhamento psicológico tem como função central a aquisição de ferramentas para lidar com a depressão, visando ainda auxiliar as crianças e adolescentes a atingir as tarefas características da sua etapa de desenvolvimento. Pode ser realizado através de grupos terapêuticos ou pode ser individual, e envolve uma abordagem multidimensional, cujas técnicas são adaptadas às características e capacidades das crianças. Este acompanhamento incidirá:

  1. Na psicoeducação relativamente à depressão, de modo a que tanto os jovens como os pais compreendam as possíveis causas e mecanismos de manutenção da mesma;
  2. No desenvolvimento de competências pessoais em diversos eixos, nomeadamente comportamental, cognitivo, emocional, motivacional, e competências sociais;
  3. Em técnicas da abordagem cognitiva-comportamental.

Quanto mais novas as crianças são, maior é a necessidade de envolver no processo terapêutico os contextos parentais, familiares, sociais e escolares, pois são fontes de risco real ou percebido, atual ou potencial, e são possíveis domínios de diminuição do sofrimento e da sintomatologia.

O acompanhamento psicológico destes casos poderá ser complementado através de medicação (antidepressivos), receitada por um profissional de saúde credenciado, preferencialmente da área da saúde mental (médico Psiquiatra).

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