Enfisema pulmonar

Enfisema pulmonar

O que é enfisema pulmonar?

O enfisema pulmonar é uma doença do pulmão caracterizada por um anormal e permanente alargamento dos espaços aéreos terminais, provocado pela destruição das suas paredes. Isto reduz a área de superfície dos pulmões e consequentemente a quantidade de oxigénio que atinge a corrente sanguínea. Além disso, estas características conduzem à perda da retração elástica pulmonar, causando, por sua vez, obstrução do fluxo de ar nos pulmões, hiperinflação e “air-trapping”. Assim, de forma progressiva o doente enfisematoso vai agravando a sua dispneia (falta de ar) à medida que a doença vai evoluindo.

Para melhor perceber o significado de enfisema pulmonar, observe as imagens superiores onde é visível o ácino, a unidade funcional do pulmão. O ácino é a porção distal ao bronquíolo terminal e é constituída pelo ducto alveolar seguida pelos sacos alveolares e finalmente os alvéolos. Entre os alvéolos existem os poros de Kohn, que são pontos de ventilação colateral normais nos adultos. No entanto, poderão ser a localização inicial de destruição e desenvolvimento do enfisema.

O enfisema pulmonar e a bronquite crónica são causas de obstrução brônquica e são englobadas numa única patologia designada por doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC). Deste modo, muita da abordagem e do tratamento do enfisema é indissociável da DPOC.

Tipos de enfisema pulmonar

A forma como está envolvido o ácino na doença determina a classificação do enfisema. Em termos de fisiopatologia, descrevemos quatro tipos de enfisema pulmonar:

Enfisema centrilobular ou centroacinar

O enfisema centrolobular, também designado de enfisema centrilobular ou centroacinar é o tipo de enfisema mais comum e está intimamente associado a longa e pesada exposição tabágica.

De uma forma clássica, a destruição dos bronquíolos respiratórios leva à união entre si e produz espaços enfisematosos bem demarcados, separados a partir da periferia acinar mantendo intactos os ductos alveolares e os alvéolos. Os poros de Kohn são em elevado número e anormais em tamanho e forma. Neste tipo de enfisema estes poros são possivelmente o local inicial de destruição pulmonar.

Estas lesões podem variar de forma quantitativa e qualitativa dentro do mesmo pulmão, sendo muito comum a irregularidade de envolvimento dos lóbulos. São geralmente mais comuns e mais graves nos lobos superiores do que nos inferiores. O parênquima que envolve o enfisema é normal.

Enfisema paraseptal ou enfisema acinar distal

A descrição original deste tipo de enfisema é atribuída a Loeschcke, que descreveu conjuntos de bolhas subpleurais (adjacentes à pleura) que se estendiam ao parênquima prolongando-se ao longo dos septos.

Uma vez que a parte distal do ácino (sacos alveolares e dutos) é a porção predominantemente envolvida, o enfisema é mais evidente na região próxima à pleura, juntamente aos septos lobulares (enfisema paraseptal), às margens dos lóbulos e alvéolos (enfisema periacinar), e ao longo de vasos e vias aéreas que, quando cortadas longitudinalmente, exibem um padrão linear.

Geralmente, este tipo de enfisema é limitado na sua extensão e é observado frequentemente ao longo do segmento anterior e posterior do lobo superior e ao longo da região posterior do lobo inferior. Quando extenso, é geralmente mais grave na metade superior do pulmão. Está associado à existência de fibrose do tecido entre os espaços aéreos alargados.

Enfisema panacinar ou enfisema panlobular

No enfisema panlobular a distinção entre os ductos alveolares e os alvéolos torna-se difusa. Os alvéolos perdem os seus ângulos agudos, aumentam de tamanho e consequentemente perdem o seu contraste com os ductos aéreos.

O reconhecimento do enfisema panlobular ligeiro é muito difícil. Ao contrário do enfisema centrilobular, o enfisema panlobular atinge mais os lobos inferiores. O exame histológico é um método mais sensível de reconhecer o enfisema panlobular.

Apesar da maior extensão de destruição de tecidos, no enfisema panlobular os poros de Kohn são mais uniformes do que os encontrados no enfisema centrilobular.

O enfisema panlobular é a lesão pulmonar característica da deficiência de a-1-antitripsina, mas também pode ocorrer como consequência da destruição permanente de vias aéreas (bronquiolite obliterante, bronquiolite constritiva).

Enfisema irregular e paracicatricial

Enfisema irregular é assim denominado, porque os ácinos estão envolvidos de forma irregular. Este desenvolve-se ao lado de uma cicatriz, daí ser denominado de enfisema paracicatricial.

A gravidade do enfisema irregular depende da extensão dos danos no tecido pulmonar e da quantidade de cicatrizes.

Enfisema pulmonar - causas

O enfisema pulmonar é uma doença grave, sendo a causa mais frequente o fumo do cigarro. Da lista de causas fazem também parte o tabagismo passivo, combustíveis de biomassa (fumo das lareiras e cozinhar à lareira), fumos laborais e poluição atmosférica.

Denominamos por enfisema senil, o enfisema que decorre do envelhecimento pulmonar provocado pela idade.

Existe um risco genético para o desenvolvimento de enfisema, sendo o mais estudado o déficit de a1-antitripsina. Trata-se de uma doença genética rara que está associada ao enfisema de aparecimento precoce. Embora controverso, alguns especialistas defendem que todos os doentes com DPOC devem ser estudados para a deficiência de a1-antitripsina. No entanto, a Sociedade Americana do Tórax e a Sociedade Europeia de Doenças Respiratórias (ATE/ERS) sugerem o doseamento de alfa-1 antitripsina apenas nas seguintes situações:

  • Enfisema de início precoce (idade inferior a 45 anos);
  • Enfisema não relacionado com o tabagismo;
  • Enfisema predominantemente nas bases pulmonares (pan-acinar);
  • Paniculite necrotizante (doença Weber-Christian);
  • Vasculite positiva c-ANCA (por exemplo, granulomatose de Wegener);
  • História familiar de enfisema de início precoce;
  • Bronquiectasia, sem outra etiologia;
  • Doença hepática inexplicada;
  • História familiar de Deficit de Alfa1 AT, DPOC, Bronquiectasias ou paniculite;
  • Asma persistente, com obstrução fixa do fluxo aéreo.

O HIV/SIDA é uma etiologia a ter em conta no enfisema precoce. O rastreio de HIV deve ser realizado em pessoas com enfisema e fatores de risco VIH, como uso de drogas intravenosas ou atividade sexual de risco.

O enfisema intersticial é uma doença que atinge os bebés recém nascidos submetidos a ventilação.

O enfisema pulmonar não é contagioso, ou seja, a doença não se transmite de pessoa para pessoa.

Saiba, de seguida, quais são os sintomas de enfisema pulmonar.

Enfisema pulmonar - sintomas

Os sintomas de enfisema pulmonar leve são ligeiros e durante muitos anos o doente não valoriza, habitualmente, quaisquer sinais ou sintomas relacionados com a doença.

No enfisema pulmonar (tal como na DPOC) o sintoma inicial é a falta de ar quando o doente efetua grandes esforços, como por exemplo caminhada ou subir escadas. À medida que a doença evolui começa a interferir com as atividades diárias e surge falta de ar quando realizam pequenos esforços, como por exemplo tomar banho. Os doentes com enfisema pulmonar também têm aumento das glândulas mucosas dos brônquios que levam a uma maior produção crónica de muco e consequentemente tosse crónica com expectoração (“catarro do fumador”).

Os sintomas no enfisema pulmonar avançado, já são bem evidentes e limitantes, a saber: Hipoxia (baixa quantidade de oxigénio no sangue), falta de ar em repouso, fraqueza muscular generalizada e desnutrição. Como consequência deste envolvimento sistémico, o enfisema pulmonar pode levar à morte.

Enfisema pulmonar - diagnóstico

A análise por medidas quantitativas de densidade pulmonar, é uma técnica promissora para a detecção precoce de enfisema, mas o seu papel no diagnóstico e monitorização precoce ainda não está estabelecido.

Enfisema pulmonar tem cura?

Como está expresso na definição de enfisema, trata-se de uma destruição da base funcional do pulmão, daí se tratar de uma patologia irreversível - enfisema pulmonar crónico. Não existe cura propriamente dita, no entanto existem medidas comportamentais e farmacológicas que podem travar a sua evolução e consequentes complicações.

Se o enfisema pulmonar não for tratado convenientemente pode trazer algumas complicações graves e pode matar:

  • Problemas cardíacos - Um individuo com enfisema pulmonar pode desenvolver problemas cardíacos pelo aumento da pressão das artérias da circulação pulmonar. Isto deve-se aos baixos níveis de oxigenação sanguínea e à perda de capilares pulmonares que levam a um maior esforço cardíaco – cor pulmonale.
  • Pneumotórax (colapso pulmonar) – pode ser muito grave num doente com enfisema pulmonar avançado onde a função pulmonar já está comprometida.
  • Bolhas gigantes (enfisema bolhoso) – alguns doentes com enfisema desenvolvem bolhas gigantes que podem ocupar metade do tórax ocupando o espaço disponível para o pulmão expandir (enfisema bolhoso).

Saiba, de seguida, como tratar o enfisema pulmonar.

Clínica de Pneumologia

Enfisema pulmonar - tratamento

O tratamento deve ser estipulado pelo médico pneumologista (especialista em doenças dos pulmões). O doente deve consultar o médico se tiver falta de ar inexplicável durante vários meses e está a interferir com as suas atividades diárias. Deve ponderar quando atribui estas queixas ao sedentarismo, idade ou ao peso.

De uma forma global podemos dizer que a medicação ou os remédios para tratar o enfisema seguem as normas da DPOC.

O tratamento medicamentoso consiste basicamente em dois grandes grupos de medicamentos inalados (“bombas”):

  • Broncodilatadores - medicamentos que ajudam a aliviar a tosse e a falta de ar ao diminuírem a obstrução brônquica. (Salbutamol, terbutalina, brometo de ipratrópio, indacaterol, olodaterol, aclidinio, glicopirrónio, tiotrópio, umeclidinio).
  • Corticoides inalados - diminuem a inflamação brônquica e reduzem o risco de exacerbações da doença. (Budesonida e fluticasona)

Além do tratamento medicamentoso, a reabilitação pulmonar, constituída por técnicas respiratórias (incluindo o tratamento fisioterapêutico), exercício físico, nutrição e ensinos sobre a doença contribuem para a melhoria da dispneia, da tolerância ao exercício e do tempo de vida. Note-se que a reabilitação respiratória é mais do que uma simples fisioterapia.

Nos casos de déficit de alfa 1 antitripsina, existe a possibilidade de reposição desta proteína em regime hospitalar, existindo critérios bem definidos para estes casos.

Em casos muito selecionados é possível a realização de cirurgia (ou operação) de redução de volume pulmonar, tornando o restante pulmão com enfisema mais eficiente.

O transplante pulmonar é uma opção no enfisema pulmonar muito grave quando todas as outras medidas falharam.

O doente em caso algum deve automedicar-se ou tentar solução em qualquer tipo de tratamentos caseiros ou naturais.

Se já tem diagnóstico de enfisema

Se o doente possui um diagnóstico de enfisema, deve ter cuidado com os seguintes aspetos:

  • Deixar de fumar;
  • Evitar inalação de substâncias irritantes;
  • Praticar exercício físico regularmente;
  • Evitar a exposição a ar frio;
  • Prevenir infecções respiratórias (vacinação pneumocócica e gripal).

Enfisema pulmonar - prevenção

De modo a prevenir a doença não deve fumar e deve evitar o fumo passivo, fumos industriais e o fumo das lareiras.

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