Pielonefrite

Pielonefrite

O que é a pielonefrite?

A pielonefrite é uma infeção do trato urinário. Frequentemente, ocorre por via ascendente, iniciando-se com a proliferação de microrganismos a partir da uretra, com posterior alcance de um ou ambos os rins.

Esta infeção requer atenção médica imediata, pois quando não tratada atempada e adequadamente, pode danificar de forma irreversível o tecido renal, disseminar-se através da corrente sanguínea (septicemia) e provocar uma situação fatal.

Os rins são o “filtro” principal do organismo, responsáveis por várias funções:

  • Equilíbrio de fluidos no organismo;
  • Gestão dos níveis de iões e eletrólitos (ex.: sódio, potássio, cálcio, magnésio);
  • Remoção de resíduos e toxinas;
  • Controlo da tensão arterial;
  • Regulação dos níveis de glóbulos vermelhos no sangue;

Quando os rins são afetados e não funcionam corretamente, podem surgir diversas complicações, requerendo uma abordagem mais complexa. Veja mais informação em “Tratamento da Pielonefrite”.

Sinais e sintomas da pielonefrite

Os sinais e sintomas da pielonefrite surgem, geralmente, cerca de 2 dias após a infeção, podendo variar na sua intensidade. Entre os mais característicos destacam-se:

  • Mal-estar geral;
  • Náuseas e vómitos;
  • Febre;
  • Dor abdominal, no dorso ou na região inguinal;
  • Micção dolorosa ou com sensação de “ardor” local;
  • Aumento do nº micções e da vontade de urinar;
  • Urina turva e com odor intenso;
  • Sangue na urina;
  • Confusão mental (mais frequente em idosos).

Causas da Pielonefrite

Qualquer bactéria que penetre no trato urinário através da uretra (estrutura que transporta a urina da bexiga até ao exterior) pode afetar os rins. Esta é a causa mais frequente de infeções renais. Além disso, algumas infeções noutros órgãos ou tecidos podem disseminar-se através da corrente sanguínea e atingir o rim.

A Escherichia coli está entre as bactérias que mais frequentemente causam infeção do trato urinário, desde cistite (inflamação da bexiga) até pielonefrite (inflamação do rim).

Fatores de Risco da Pielonefrite

Existem inúmeros fatores que podem aumentar o risco de desenvolvimento de infeções renais. Entre estes, podem citar-se:

  • Sexo feminino: A uretra é mais curta em mulheres do que em homens, o que facilita a progressão das bactérias até à bexiga. A proximidade da uretra, da vagina e do ânus cria também mais oportunidades para as bactérias entrarem no trato urinário;
  • Bloqueio urinário: Este fator inclui qualquer aspeto que retarde o fluxo de urina ou que reduza a capacidade de esvaziar a bexiga ao urinar, como alguma “pedra” (cálculo) no rim, alguma anormalidade estrutural do trato urinário em homens, como a glândula prostática aumentada (hiperplasia benigna da próstata), entre outros;
  • Sistema imunitário enfraquecido: Ter o sistema imunitário enfraquecido inclui a presença de patologias graves que possam afetar o mesmo, como a diabetes ou o VIH. Certos fármacos usados para evitar a rejeição de órgãos transplantados (imunossupressores), possuem um efeito semelhante;
  • Nervos danificados à volta da bexiga: Danos em estruturas nervosas ou na medula espinhal podem bloquear a sensação de inflamação na bexiga, fazendo com que a sua progressão para a pielonefrite, não seja detetada;
  • Uso prolongado de cateter urinário: Cateteres urinários são usados para drenar a urina da bexiga. Um cateter pode ser colocado durante e após alguns procedimentos cirúrgicos e exames de diagnóstico. O seu uso prolongado aumenta o risco de colonização bacteriana e infecção.

É importante realçar que a pielonefrite é, maioritariamente, uma patologia aguda e ocorre devido a uma infeção não recorrente. Formas crónicas da pielonefrite são mais raras e traduzem a recorrência da infeção renal.

A pielonefrite crónica é mais comum em pessoas com obstruções urinárias como refluxo vesico-ureteral (urina flui no sentido oposto ao normal) ou anomalias anatómicas congénitas. Esta forma da doença é mais frequente em crianças.

Pielonefrite e gravidez

A gravidez cursa com inúmeras alterações no organismo da mulher, e o trato urinário não é exceção. A elevação de certas hormonas, como a progesterona, ou o aumento da pressão nos ureteres, pode aumentar o risco de pielonefrite.

A pielonefrite em mulheres grávidas requer internamento hospitalar (obrigatório), e é considerada fator de risco para parto prematuro.

Diagnóstico da Pielonefrite

O diagnóstico da pielonefrite é baseado em dados clínicos, a saber:

  • História clínica e exame físico, de modo a avaliar a sintomatologia do doente;
  • Análises de sangue e urina na procura de sinais de infeção. As análises microbiológicas de sangue e urina (hemoculturas e urocultura, respetivamente) podem ajudar a detetar a bactéria causadora da infeção, orientando a escolha do antibiótico;
  • Exames de imagem, como ecografia renal ou TC são úteis no despiste de alterações anatómicas ou de obstrução no trato urinário.
Clínica de Nefrologia

Complicações da Pielonefrite

Quando não detetada e tratada atempadamente, a pielonefrite pode aportar diversas consequências graves para o doente:

  • Infeção grave/ sépsis;
  • Infeção recorrente;
  • Abscesso renal;
  • Cicatrizes renais;
  • Insuficiência renal;

Saiba, aqui, tudo sobre insuficiência renal.

A pielonefrite, em casos raros e extremamente graves, pode ser fatal e levar à morte do doente. São sobretudo casos de septicemia com ponto de partida urinário, onde a infeção se dissemina pelo resto do organismo.

A Pielonefrite tem cura?

A pielonefrite, quando tratada atempadamente e quando o diagnóstico é realizado nos estadios iniciais da doença, possui um prognóstico favorável. Em grande parte dos casos, é livre de recorrência, e pode ser gerida e tratada em ambulatório.

No entanto, situações mais graves requerem internamento hospitalar com administração de terapêutica endovenosa. É primordial evitar o desenvolvimento de complicações potencialmente causadoras de risco de vida do doente. É aconselhável a assistência médica imediata.

Tratamento da Pielonefrite

Existem várias opções de tratamento para a pielonefrite, que variam consoante a gravidade do caso existente, tais como:

Tratamento Medicamentoso

A prescrição de antibióticos é a primeira escolha em casos de pielonefrite aguda. No entanto, a escolha do tipo de antibiótico vai depender do facto de a bactéria poder ser ou não identificada. Inicialmente, um antibiótico mais generalizado é prescrito até que seja identificada a bactéria, podendo depois alterar-se para outro, dirigido ao microrganismo em causa. A identificação da bactéria é efetuada através de análises microbiológicas de sangue e urina. Veja “Diagnóstico da Pielonefrite”.

Geralmente, a sintomatologia da infeção começa a desaparecer alguns dias após o início do antibiótico. Contudo, é importante continuar a toma destes fármacos durante o tempo indicado pelo médico, com vista a realizar o tratamento completo e a evitar recorrências.

Internamento Hospitalar

Em alguns casos, a medicação oral não é eficaz e o doente pode necessitar de internamento hospitalar. A duração do internamento depende da gravidade da situação, e de como o doente responde ao tratamento.

O tratamento pode incluir hidratação e antibiótico endovenoso. Enquanto o doente estiver internado, análises rotineiras de sangue e urina são realizadas, com vista a monitorizar a resposta à medicação instituída e a aferir quanto à progressão da doença.

Tratamento Cirúrgico

A pielonefrite crónica (tradutora de infeções renais recorrentes) pode provocar diversas complicações, algumas das quais graves. Nestes casos, a cirurgia pode ser necessária para remover obstruções locais ou para corrigir problemas estruturais dos rins.

A cirurgia pode também ser recomendada para drenar um abcesso renal que persista após antibioterapia.

Em casos raros, a nefrectomia (procedimento que consiste na remoção total ou parcial de um rim) pode ser necessária.

Prevenção da Pielonefrite

Existem alguns comportamentos a adotar no quotidiano, que podem ajudar a prevenir o desenvolvimento da pielonefrite, designadamente:

  • Ingerir bastantes líquidos (como água, chá e sumos naturais);
  • Evitar o adiamento das micções (urinar frequentemente);
  • As mulheres devem limpar a região perineal “da frente para trás”, após urinar ou defecar;
  • Evitar, sempre que possível, a utilização de “produtos de higiene íntima”;
  • Urinar após as relações sexuais, de modo a eliminar bactérias que possam penetrar no trato urinário e ser causadoras de infeção.
Clínica de Nefrologia