A mão localiza-se na extremidade distal dos membros superiores e é constituída, na sua estrutura óssea, pelos ossos do carpo, metacarpos (metacarpianos) e falanges. Os metacarpos (metacarpianos), cinco em cada mão, são pequenos ossos alongados e encontram-se em posição intermédia, articulando-se proximalmente com os ossos do carpo e distalmente com as falanges. Têm como principais funções o suporte estrutural da mão, transmissão de forças e movimentação dos dedos, permitindo assim, a adequada manipulação de objetos.
As fraturas dos metacarpos podem ocorrer em qualquer parte do osso, seja na cabeça, colo, diáfise ou base.
As fraturas dos metacarpos resultam na perda da capacidade de realização de vários movimentos da mão e dos dedos, nomeadamente flexão, extensão, abdução e adução. Deste modo, o doente fica incapaz de realizar as atividades da vida diária e/ou profissionais, que exijam o normal funcionamento da mão.
Causas da fratura do metacarpo
As fraturas dos metacarpos, são das mais frequentes e constituem, juntamente com as fraturas das falanges, cerca de 10% de todas as fraturas do esqueleto e cerca de 40% das fraturas da mão. Podem ocorrer em qualquer idade, incluindo crianças, contudo, verifica-se maior incidência em indivíduos do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 10 e 30 anos. Atingem mais frequentemente o colo do 5º metacarpo, seguindo-se a diáfise do 4º metacarpo.
As fraturas dos metacarpos podem resultar de traumatismos diretos ou indiretos. Os traumatismos diretos ocorrem quando há contacto direto entre um objeto ou superfície, com a mão. Um exemplo de traumatismo direto são os designados esfacelos, que são frequentemente, traumatismos por esmagamento, associados a fraturas expostas (lesões em que o osso partido atravessa os tecidos moles e a pele e fica em contacto com o exterior), e a lesões dos tecidos moles como tendões, músculos, nervos e vasos.
Outro exemplo de traumatismo direto relativamente comum é a fratura de ‘’boxer’’, que surge após um murro dado com a mão fechada, resultando numa fratura do colo do 5º metacarpo. Os traumatismos indiretos, por outro lado, são aqueles em que uma determinada força aplicada num local da mão é transferida para outra parte, causando fraturas.
Sintomas na fratura do metacarpo
O mecanismo mais comum das fraturas dos metacarpos é o traumatismo direto sobre uma superfície ou solo, com a mão fechada.
Geralmente, o doente apresenta dor, edema (inchaço) e hematoma na região da fratura. Devido à perda do alinhamento das estruturas ósseas, poderá apresentar dificuldade em mover a mão ou, então, desvio rotacional dos dedos (dedos sobrepostos).
Por vezes, estão presentes alterações na sensibilidade e formigueiros dos dedos.
Caso as fraturas dos metacarpos resultem de esmagamentos, poderão existir lesões dos tecidos moles, como de tendões, nervos e vasos.
Diagnóstico da fratura do metacarpo
De forma a ser realizado o diagnóstico, é importante recolher a história clínica do doente e fazer um exame físico minucioso, onde são procurados sinais típicos destas fraturas.
Posteriormente, são realizados exames de imagem, como o Raio-X e, por vezes, a tomografia computorizada (TAC). O Raio-X, um exame básico, solicitado a todos os doentes, confirma a existência da fratura, a sua localização e avalia as lesões ósseas associadas. A TAC, permite caracterizar e pormenorizar a fratura. Por sua vez, a ressonância magnética nuclear (RMN) apesar de ser um bom método de imagem para avaliar as lesões dos tecidos mole, raramente é utilizada.
Tratamento conservador na fratura do metacarpo
Vários são os fatores que condicionam a escolha entre o tratamento conservador ou cirúrgico. Existem assim determinantes, tais como as características da fratura - estabilidade, envolvimento articular, angulação, presença de desvio rotacional ou lesões de tecidos moles associadas. Por outro lado, as características do doente, como por exemplo idade, estado geral, grau de exigência da mão e vontade do próprio também são analisadas.
O tratamento conservador implica geralmente a imobilização com gesso, ortótese ou sindactilia, dependendo das características da fratura. A sindactilia tem por base a união de dois ou mais dedos, para estabilizar a fratura e permitir a mobilização dos dedos em bloco.
É essencial para a correta cicatrização do osso, que exista repouso relativo da mão, evitando-se assim, as atividades físicas intensas. A mobilização ativa dos dedos e punho, caso não exista imobilização com gesso ou ortótese, ajuda a aliviar a dor e evita a formação de edema e a rigidez articular.
Após a remoção da imobilização, a reabilitação é crucial, de forma a recuperar a força e funcionalidade da mão e permitir que o doente retorne as suas atividades normais.
A imobilização, seja ela com gesso, ortótese ou sindactilia, dura em média de 3 a 4 semanas, sendo necessárias radiografias de controlo durante esse período, para avaliar a consolidação (cicatrização) da fratura.
Cirurgia na fratura do metacarpo
Sempre que existam lesões de partes moles que o justifiquem, fraturas instáveis, articulares com desvio, angulações ou encurtamentos excessivos, desvios rotacionais, fraturas múltiplas ou expostas, existe indicação para cirurgia (operação).
Caso uma fratura inicialmente alinhada, que permitiu a opção pelo tratamento conservador, se “desmonte” durante o período de recuperação, será necessário alterar a abordagem, para tratamento cirúrgico.
O tipo de doente e o seu estilo de vida também pode, por vezes, exigir a necessidade de uma recuperação mais rápida, e daí ser indicado o tratamento cirúrgico. É o caso por exemplo dos atletas, ou indivíduos com estilo de vida bastante ativo.
Como é feita a cirurgia nas fraturas do metacarpo?
A cirurgia é realizada com anestesia geral ou locorregional, em que é provocado um bloqueio dos nervos periféricos, originando um adormecimento do membro. Na escolha do tipo de anestesia é considerada a preferência do doente e opinião dos profissionais envolvidos, anestesista e ortopedista. Geralmente, é realizada em regime de ambulatório, o que significa que o doente tem alta no próprio dia.
Dependente do padrão e localização da fratura, esta pode ser tratada com fios de Kirschner, placas e parafusos ou somente parafusos.
Complicações na cirurgia da fratura do metacarpo
As complicações das fraturas dos metacarpos, submetidas a tratamento cirúrgico, são pouco comuns. As mais frequentes são a dor ou alteração da sensibilidade na região da cicatriz, as aderências tendinosas e a rigidez articular. A rigidez articular pode ser consequência da violação da articulação, essencialmente quando tratamos fratura com atingimento da superfície articular. No entanto, a causa mais comum desta complicação é resultante do receio do doente em mobilizar a mão.
Pós-operatório na cirurgia da fratura do metacarpo
É recomendado, nos dias seguintes à cirurgia, que o doente realize drenagem postural do membro, isto é, que coloque o “braço ao peito” e que haja mobilização ativa dos dedos e punho de forma a reduzir dor, edema e a prevenir rigidez articular.
Caso sejam utilizados temporariamente os fios de Kirschner, para estabilização da fratura, a mão é imobilizada, de forma semelhante ao tratamento conservador, por um período de 3 a 4 semanas.
Durante este período, as atividades permitidas são limitadas a tarefas básicas de vida diária, como higiene e autocuidado. A finalidade é que o doente faça repouso da mão operada, executando apenas atividades de baixa intensidade e que envolvam pouco peso (menos de 1 kg), de forma a estimular a mobilidade.
A remoção de sutura (pontos) ocorre após duas semanas.
Recuperação após a cirurgia da fratura do metacarpo
O tempo de recuperação varia, dependendo das características do doente, da fratura, das lesões associadas e do tratamento cirúrgico.
Gradualmente, o doente retoma as atividades diárias, e normalmente, após 10 a 12 semanas, pode realizar as suas funções sem restrições, incluindo atividades desportivas.
É essencial iniciar um programa fisiátrico (fisioterapia) desde as primeiras semanas, para fortalecimento dos músculos, controlo da dor, redução do edema e ganho de mobilidade, prevenindo assim, a rigidez articular.