A dor no tornozelo pode ser um sintoma associado a algumas patologias, podendo surgir de forma súbita ou instalar-se de forma progressiva ao longo do tempo, tornando-se uma dor crónica.
De seguida, descrevemos as principais causas e fatores relacionados com a dor no tornozelo.
Entorse do tornozelo
A dor súbita do tornozelo é frequentemente relacionada com a entorse. Uma entorse de tornozelo é uma lesão dos ligamentos que sucede, geralmente, na sequência de uma torção no tornozelo cujo ligamento é forçado para lá da sua posição normal.
No tornozelo, podemos identificar 2 ligamentos, a saber:
- complexo ligamentar externo;
- ligamento lateral interno.
A lesão, habitualmente, advém quando, fortuitamente, se desloca o tornozelo de forma anormal, torcendo o tornozelo. São exemplo de movimentos anormais a torção do pé (torcer o pé), rotações e rolamentos do pé. Este movimento pode levar ao estiramento dos ligamentos (fazer uma distensão ou esticar para além do normal, criando problemas na sua função) ou mesmo, nos casos mais graves, a romper os ligamentos (rasgar). Ou seja, existem diferentes graus de gravidade da entorse conforme os danos nos ligamentos.
Em grande parte das entorses ocorre imediatamente dor no pé, que pode ser leve a muito intensa. O tornozelo começa frequentemente a “inchar” imediatamente e pode surgir equimose local (tornozelo negro) e algum derrame articular (líquido no tornozelo). A zona do tornozelo, vulgarmente, é sensível ao toque e a dor aumenta com os movimentos.
No caso das entorses mais severas, pode ouvir e/ou sentir algo “a rasgar” juntamente com um estalido. A dor é imediata e forte após a entorse, impossibilitando a pessoa de caminhar ou até exercer força no pé (pôr o pé no chão ou “pisar”). Assim, quanto maior for a dor e o edema (inchaço), mais grave será à partida a lesão e naturalmente mais demorada será a reabilitação.
Na maioria das entorses de menor gravidade (grau I), as queixas possuem uma duração entre 2 a 3 dias, até cerca de duas semanas nas entorses de maior gravidade (grau II e grau III). O tempo de recuperação para curar uma entorse pode ir de semanas a meses, pois depende da gravidade da lesão e do tratamento instituído.
Saiba, aqui, tudo sobre entorse de tornozelo.
Instabilidade crónica do tornozelo
A instabilidade crónica do tornozelo é uma das possíveis complicações da entorse do tornozelo.
Quando ocorre a entorse há uma lesão dos ligamentos do tornozelo, havendo na maioria das vezes uma cicatrização ligamentar e uma recuperação clínica completa.
Todavia, em certos casos, esta cicatrização não ocorre da forma perfeita. Os ligamentos podem cicatrizar alongados, ou não cicatrizar de todo, ficando não funcionantes. Nestes casos, o tornozelo pode ficar instável, não permitindo caminhar normalmente.
A instabilidade crónica do tornozelo pode ser “major” ou “objetiva” ou então “minor” ou “subjetiva”. No primeiro caso, o principal sintoma é a entorse de repetição. A pessoa refere que tem “entorses” de forma recorrente mesmo em situações do dia a dia, como caminhar num piso plano. No segundo caso, pode não haver verdadeiras “entorses”, mas a pessoa refere que não sente o tornozelo “estável” e que sente que a qualquer momento pode sofrer uma entorse. Noutros casos ainda pode haver uma dor persistente na face externa do tornozelo, na região dos ligamentos.
Em grande parte dos casos é possível objetivar esta instabilidade através do exame físico.
Saiba, aqui, tudo sobre instabilidade crónica do tornozelo.
Artrose do tornozelo?
A artrose do tornozelo ou osteoartrose do tornozelo resulta de um desgaste progressivo da cartilagem, a articulação vai perdendo a sua congruência originando dor, principalmente quando se move a articulação ou se faz carga. Em alguns casos pode mesmo levar a uma deformação do tornozelo.
A artrose do tornozelo é uma patologia menos frequente, quando compararmos com outras artroses, nomeadamente a artrose da anca ou do joelho. Pode afetar tanto o tornozelo esquerdo como o direito, não existindo uma preponderância de um lado em relação ao outro para ocorrer artrose. Em muitos casos, dependendo da causa, podemos ter uma artrose do tornozelo bilateral.
A artrose do tornozelo origina vários sinais e sintomas, a saber:
- Dor no tornozelo que surge com o movimento e alivia com o repouso;
- Dor com o caminhar ou o correr;
- Dor à palpação e mobilização do tornozelo;
- Deformidade do tornozelo e do pé;
- Limitação progressiva da mobilidade do tornozelo;
- Edema (inchaço) do tornozelo e do pé;
- A limitação da mobilidade do tornozelo pode ainda levar a uma sobrecarga das articulações do pé e pode também manifestar-se com dor no pé;
- Alteração da marcha (mancar) quer pela dor quer pela limitação do movimento.
Saiba, aqui, tudo sobre artrose do tornozelo.
Tendinopatias e Tendinites no tornozelo
As tendinopatias e tendinites do tornozelo são condições comuns que afetam os tendões, resultando em dor e inflamação. Os tendões são estruturas fibrosas que conectam os músculos aos ossos, permitindo o movimento das articulações. No tornozelo, há vários tendões importantes que podem ser afetados por lesões ou sobrecargas. Estas são algumas das principais tendinopatias e tendinites que ocorrem no tornozelo:
Tendinite/Tendinopatia do Tendão de Aquiles
A tendinite do tendão de Aquiles é uma das mais comuns. Este tendão conecta os músculos gémeos ao calcanhar e é fundamental para atividades como caminhar, correr e saltar. A tendinite do Aquiles é geralmente causada por excesso de uso, mudanças repentinas na intensidade de exercícios, ou pelo uso de calçado inadequado. Os sintomas incluem dor e rigidez na parte de trás do tornozelo, especialmente pela manhã ou após períodos de inatividade.
Saiba, aqui, mais sobre tendinopatia do aquiles.
Outras Tendinites e Tendinopatia do Tornozelo
Tendinite dos Tendões Peroneais
Os tendões peroneais localizam-se na parte lateral do tornozelo e ajudam na estabilização do pé durante a caminhada ou corrida. A tendinite dos tendões peroneais é geralmente causada por movimentos repetitivos, torções do tornozelo ou caminhar em superfícies irregulares. Esta condição é comum em atletas que praticam desportos que envolvem movimentos laterais, como o futebol ou o ténis. Os sintomas incluem dor ao longo da parte lateral do tornozelo e inchaço.
Tendinite do Tibial Posterior
O tendão do tibial posterior ajuda a suportar o arco do pé e a controlar o movimento do pé para dentro (pronação). A tendinite deste tendão ocorre frequentemente devido a um esforço excessivo, uso excessivo, ou devido a pés planos, que aumentam o stress sobre o tendão. Os sintomas incluem dor e inchaço ao longo do lado interno do tornozelo e pé, especialmente após atividades prolongadas ou permanecer em pé por muito tempo.
Tendinite do Flexor Longo dos Dedos
O tendão do flexor longo dos dedos corre ao longo da parte interna do tornozelo até aos dedos do pé. Este tendão é responsável por ajudar na flexão dos dedos dos pés e é frequentemente afetado em desportos que envolvem movimentos repetitivos dos dedos, como na dança ou ginástica. A tendinite deste tendão causa dor ao longo do lado interno do tornozelo e pode ser exacerbada ao flexionar os dedos dos pés.
Tendinite do Flexor Longo do Hálux
Este tendão corre ao longo do lado interno do tornozelo e ajuda a flexionar o dedo grande do pé. A tendinite do flexor longo do hálux é comum em bailarinos, devido ao esforço repetitivo em posições de ponta. Os sintomas incluem dor ao longo do lado interno do tornozelo e dificuldade em mover o dedo grande do pé.
Saiba, aqui, tudo sobre tendinites e tendinopatias do tornozelo.
Diagnóstico na dor do tornozelo
O diagnóstico da dor no tornozelo é feito pelo médico ortopedista (especialista em ortopedia) através da história clínica, do exame médico e socorrendo-se de eventuais meios complementares de diagnóstico (MCDT). Deverá informar o seu médico acerca da forma como ocorreu a lesão e se já teve lesões prévias.
O médico pode solicitar a realização de exames para ter a certeza de que não existem fraturas ósseas (não existem ossos partidos) no tornozelo ou no pé e perceber a extensão das lesões ligamentares ou outras. Os exames, geralmente, efetuados são os seguintes:
- Raios X: Os raios X fornecem imagens de estruturas densas, como o osso. O médico pode solicitar raios-X para descartar fraturas no tornozelo ou pé. Um osso fraturado pode causar sintomas semelhantes de dor e edema (inchaço);
- Raios X de stress: Além de raios X simples, o seu médico também pode solicitar raios X de stress. Estas radiografias são realizadas enquanto o tornozelo está a ser empurrado em diferentes posições. Estes exames permitem perceber se o tornozelo está a deslocar-se anormalmente devido a ligamentos lesionados;
- Ressonância magnética (RM): o seu médico pode pedir uma ressonância magnética se suspeitar de uma lesão muito grave nos ligamentos, danos na cartilagem ou osso da superfície da articulação, ou outro problema. A ressonância magnética não pode ser realizada até que o período de “inchaço” e contusão passe;
- Ecografia (ultrassom): A ecografia permite ao médico observar os ligamentos diretamente enquanto move o tornozelo, permitindo determinar a quantidade de estabilidade que o ligamento fornece.
Para além dos exames atrás mencionados, o médico ortopedista poderá em alguns casos, considerar importante realizar outros meios auxiliares de diagnóstico.
Tratamento da dor no tornozelo
O tratamento da dor no tornozelo depende naturalmente das causas subjacentes. Ou seja, o tratamento médico ou cirúrgico deve ser orientado pelo médico após diagnóstico.
Veja informação sobre tratamentos da dor no tornozelo em cada uma das principais causas associadas: