Intimidade e Erotismo

Intimidade e Erotismo

O que é intimidade?

A intimidade é o conceito estrutural mais complexo das relações conjugais, pelo que a sua compreensão é vital para o conhecimento do casal, numa perspetiva de prevenção e melhoria das relações íntimas. Intimidade deriva do termo latim “intimus” que significa “íntimo” e que se refere, portanto, ao partilhar aquilo que é mais íntimo e particular com outros. A intimidade é uma condição necessária à sobrevivência humana, o contacto íntimo com o outro é um determinante poderoso de saúde e de bem-estar e está positivamente relacionado com níveis de amor, confiança e satisfação. É um processo interpessoal - entre pelo menos duas pessoas - e implica um processo de comunicação caraterizada pela autorrevelação de aspetos privados/pessoais e a comunicação pode ser verbal e não-verbal.

A definição de intimidade é complexa, uma vez que o seu significado varia de relacionamento para relacionamento, e dentro de um mesmo relacionamento ao longo do tempo. Em alguns relacionamentos, a intimidade está ligada ao sexo, e sentimentos de afeto podem estar conectados ou serem confundidos com sentimentos sexuais. Em outros relacionamentos, a intimidade tem mais a ver com momentos divididos pelos indivíduos do que com interações sexuais. De qualquer forma, a intimidade está ligada a sentimentos de afeto entre parceiros num relacionamento. Certamente, a intimidade é um ingrediente básico em qualquer relacionamento com algum significado: é a base da amizade e uma das fundações do amor.

A intimidade é um conceito multidimensional que tem diferentes significados para diferentes indivíduos, sendo também influenciada pela cultura.

A intimidade numa relação é caraterizada por um conjunto de componentes como a expressão, a confiança, a verdade e a alteridade (capacidade de ter em conta e respeitar a diferença do outro). Este último requisito implica o respeito pela diferença do outro, sem juízos de valor, para que ocorra a aceitação. Segundo Pasini “Intimidade é perder-se na pele do outro sem perder a própria pele.” A intimidade implica participar na vida do outro, fazer parte dos seus conteúdos, mas sem perder a sua própria identidade, sem se fundir no outro.

Muitos de nós temos dificuldades com a intimidade, é difícil partilharmos e mostrar-nos ao outro de forma verdadeira e muitas vezes mantemos relacionamentos superficiais, pouco profundos. Muitas vezes temos medo de sermos magoados, abandonados, julgados pelos outros e como tal mantemo-nos “à superfície” dos relacionamentos. Por outro lado, outras pessoas querem muita intimidade, muita proximidade, por vezes tornam-se controladoras, exigentes e demasiado intrusivas.

Encontrar um equilíbrio na construção da identidade do casal muitas vezes é um desafio enorme.

O conceito de intimidade é o elemento estrutural mais abrangente e complexo da relação do casal. Apesar de ser reconhecida como um forte indicador de bem-estar conjugal, a sua definição é, ainda pouco clara, uma vez que têm surgido inúmeras definições e teorias diversas ao longo do tempo. As componentes da intimidade que têm sido mais descritas e estudadas são a partilha e autorrevelação, o apoio emocional, a confiança, a mutualidade e a interdependência, sendo que o amor e a sexualidade definem a natureza romântica da relação de intimidade.

Intimidade vs Erotismo

Na vida de casal existe uma enorme dificuldade em gerir a intimidade e o erotismo, fator essencial na essência de um par romântico. O erotismo é uma energia vital que mobiliza o desejo, sendo essencial para manter uma sexualidade ativa numa relação de longa duração.

A desereotirização - a perda do erotismo - de uma relação parece ser uma das queixas principais das relações de longa duração, com uma elevada intimidade. Percebemos muitas vezes que o desejo e a excitação sexual são entidades frágeis nas relações longas, que vão esmorecendo ao longo do tempo ou desaparecem em períodos específicos do ciclo de vida do casal. O que percebemos é que muitas vezes o que alimenta a intimidade do casal leva à diminuição do desejo, ou seja, a intimidade leva a aproximação e conexão, mas o erotismo necessita de espaço e de separação. A intimidade implica partilha e conhecimento do outro e o erotismo precisa de mistério e de desconhecimento.

A perda do erotismo numa relação pode ser facilmente explicada por algumas crises no casal, como o nascimento de um filho, uma perda importante, entre outras crises facilmente identificáveis, no entanto, um dos fatores mais referidos pelos casais são o stress, o cansaço, as preocupações, a falta de tempo, entre outras. No início das relações amorosas todos estes componentes do dia a dia estão presentes, no entanto, o desejo, o erotismo é superior às questões do dia a dia e o erotismo cresce com a novidade e com o desconhecido. Com o evoluir da relação a intimidade vai-se construindo, os membros do casal tornam-se mais conhecidos e o sexo passa muitas vezes a ser em contexto de conjugalidade, tornando-o muitas vezes previsível. E surge aqui o maior desafio dos casais – permitir que a intimidade seja conciliada como o erotismo.

Clínica de Psicologia

A construção do erotismo numa relação

A construção do erotismo numa relação parece ser o pilar do desejo e da excitação e como tal devemos investir algum tempo e energia nesta “obra”. Podemos fazê-lo através de:

  • Construção de uma relação de casal com espaço e alguma distância. O desejo tem que ter espaço para crescer (por isso que o desejo aumenta quando estamos separados, por alguma razão, durante um curto período de tempo).
  • Um investimento na sexualidade do casal, com a construção de um património erótico rico, com vivências sexuais positivas e felizes;
  • A valorização do prazer sexual na relação;
  • O desejo sexual é um fenómeno mental e como tal deve ser alimentado com alguma regularidade, como por exemplo com estímulos eróticos, com interações eróticas que permitam dar significado aos estímulos, com exploração individual ou em casal;
  • Uma relação sexual pode começar sem o desejo estar presente. O desejo sexual pode ser responsivo, sendo um desejo que surge em resposta a um estímulo, ou seja a presença de um determinado estímulo desencadeia excitação sexual e a pessoa acaba por sentir excitação e desejo de continuar a relação sexual;

A importância da terapia sexual

No entanto, toda esta construção de uma nova dinâmica entre os casais pode não ser fácil de reconstruir e, por isso, a terapia sexual ou consultas de sexologia clínica permitem explorar e ultrapassar inibições, desmistificar crenças disfuncionais. Permite ainda criar novas rotinas sexuais, melhorar a capacidade de nos concentrarmos nos estímulos sexuais e ajudar na reconstrução de um erotismo mais rico, com mais estímulos sexuais, levando ao aumento do desejo e excitação.

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