O orgasmo é a fase da resposta sexual humana, na qual a pessoa atinge o ponto máximo de prazer sexual, e que se segue às fases de desejo e excitação e precede a fase da resolução.
O orgasmo é um complexo fenómeno psicofisiológico, que varia muito em termos de intensidade, duração e frequência, de pessoa para pessoa, e a nível individual ao longo da vida, de acordo com vários fatores ambientais, relacionais, contextuais, anátomo-fisiológicos e hormonais, entre outros.
Do ponto de vista subjetivo, o orgasmo caracteriza-se pela sensação de clímax ou de libertação de tensão. A própria perceção individual do orgasmo pode ser mais subtil ou intensa, e pode localizar-se a nível genital ou estar disseminada pelo corpo, bem como pode ser momentânea ou mais duradoura.
A nível fisiológico, a respiração torna-se mais rápida, o coração acelera, e a tensão arterial aumenta, podendo dar-se ruborização, gemidos, ou outras manifestações emocionais agudas. Por outro lado, o tónus muscular aumenta, os músculos da zona pélvica contraem-se, e no caso masculino habitualmente dá-se a ejaculação. Em simultâneo, durante o orgasmo há também alterações a nível hormonal, a tal ponto que o poderíamos comparar ao consumo de heroína injetável, tal a sensação de euforia e bem-estar que provoca, dada a produção de oxitocina, dopamina e endorfinas.
Estas alterações orgásticas ocorrem, independentemente da forma como o orgasmo foi atingido, quer tenha ter sido obtido através de masturbação, imaginação / fantasia sexual, sonho erótico ou através de estimulação por parceiro/a sexual. O orgasmo pode ser atingido com pouca estimulação sexual ou ser necessária mais estimulação, dependendo de vários fatores a diversos níveis.
Após o orgasmo, ocorre um estado de relaxamento corporal geral, e se no caso feminino é possível ter mais orgasmos, habitualmente designados por orgasmos múltiplos, no caso masculino segue-se o período refratário, variável na duração, fundamental para a recuperação da função erétil, necessária para a penetração.
Em que consistem as perturbações do orgasmo?
As perturbações do orgasmo são condições nas quais a pessoa tem dificuldade em atingir o orgasmo, apesar de sentir excitação sexual e ter estimulação sexual adequada. Esta perturbação é mais frequente na mulher do que no homem e pode ser muito frequente em pessoas transexuais.
Embora a perturbação ou disfunção do orgasmo se refira à ausência ou dificuldade em atingir o mesmo, ela poderá estar relacionada com a questão da rapidez ou do controlo da ejaculação, no caso masculino, dando origem a problemas de ejaculação retardada ou de ejaculação precoce.
Caracterização da Perturbação do Orgasmo Feminino
A perturbação do orgasmo feminino também pode ser designada de anorgasmia e os estudos sugerem que afeta entre 10 a 42% das mulheres, segundo a DSM V, dependendo de vários fatores, entre os quais a cultura, idade, duração e gravidade dos sintomas. De acordo com a mesma fonte, cerca de 10% das mulheres não tem orgasmo durante a sua vida.
É de sublinhar que o orgasmo feminino é complexo e muito variado, sendo que muitas mulheres não atingem o orgasmo através da penetração. O principal órgão associado ao prazer sexual feminino é o clítoris, pelo que é através da sua estimulação direta que grande parte das mulheres atinge o orgasmo. E neste caso, não existe propriamente anorgasmia, mas sim um desconhecimento acerca do funcionamento do corpo e do prazer sexual, que ocorre em função da falta de educação sexual e de tabus associados à sexualidade feminina.
Sintomas da perturbação do orgasmo feminino:
- Dificuldade em atingir o orgasmo durante as relações sexuais ou durante a masturbação;
- Atraso persistente ou recorrente em atingir o orgasmo;
- Ausência de sensações de orgasmo ou quando as mesmas são muito reduzidas, sendo o orgasmo insatisfatório;
- Este atraso / ausência ocorre após uma fase de excitação sexual considerada normal, e acontece na maioria das relações sexuais.
Manifestações da perturbação do orgasmo feminino
A perturbação do orgasmo feminino tem dois subtipos, de acordo com a classificação proposta pela DSM-V:
- Pode acontecer ao longo da vida, ou seja, desde o início da vida sexual;
- Ou pode ser adquirida, o que significa que houve um período prévio no qual existia orgasmo. Tanto um subtipo como o outro podem acontecer de forma generalizada ou situacional, restringindo-se a determinados tipos de estimulação, situações ou parceiros/as.
Habitualmente, com o desenvolvimento e experiência sexual, as mulheres aprendem a ter orgasmo, à medida que conhecem melhor o seu corpo e os estímulos que dão prazer.
Causas da perturbação do orgasmo feminino
- Falta de interesse e excitação sexual;
- Níveis baixos de hormonas sexuais;
- Problemas na vascularização ou inervação das nas zonas genitais;
- Baixa autoestima e imagem corporal negativa;
- Idade mais avançada;
- Ansiedade e preocupação relativa a eventual gravidez;
- Problemas no relacionamento afetivo-sexual relacionados com falta de confiança, conflitualidade elevada ou mesmo violência;
- Expectativas e crenças sobre o papel de género feminino;
- Fatores religiosos e culturais;
- Sentimentos de culpa ou pecado associados ao prazer sexual;
- Alguns traços de personalidade, tais como timidez e necessidade de controlo;
- Stress;
- Burnout;
- História prévia de abuso sexual;
- Alguns tipos de medicação, como por exemplo determinados tipos de antidepressivos que contêm inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRSs), quimioterapia, medicação para a hipertensão arterial;
- Perturbações de ansiedade e de humor;
- Condições médicas tais como diabetes, esclerose múltipla, lesões no nervo pélvico provocadas por histerectomia, lesões na medula espinhal e atrofia vulvovaginal;
- Menopausa;
- Gravidez, parto e amamentação.
Consequências da ausência de orgasmo feminino
A ocorrência de anorgasmia provoca sofrimento significativo e reforça a dificuldade em obter orgasmos no futuro, pelo que é fundamental procurar tratamento. Além disso, as dificuldades em atingir o orgasmo podem ter um impacto negativo na vida da mulher, não só em termos de satisfação sexual, como também na autoimagem enquanto mulher e ser sexuado, prejudicando a sua autoestima. Finalmente, esta perturbação poderá causar (ao mesmo tempo que também pode ser causada por) problemas no relacionamento afetivo-sexual.
Tratamento da perturbação do orgasmo feminino
O tratamento para a perturbação do orgasmo feminino irá depender das causas identificadas ao nível do diagnóstico, pelo que importa recorrer a profissionais que trabalhem na área da sexologia e psicologia. Poderá ainda ser necessário ou recomendável fazer uma avaliação prévia a nível fisiológico, recorrendo a ginecologistas ou outros profissionais de saúde específicos para o tratamento das condições médicas subjacentes ao problema.
Dependendo então das causas, o tratamento da anorgasmia feminina poderá passar por:
- Tratamento das condições médicas subjacentes;
- Alteração da medicação utilizada;
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC);
- Terapia Cognitivo-Comportamental baseada em Mindfulness (MBCT – Mindful Based Cognitive Therapy);
- Terapia Sexual (individual e/ou em casal) e aprendizagem da estimulação do prazer feminino durante a masturbação e as relações sexuais;
- Aconselhamento conjugal;
- Terapia hormonal à base de estrogénios e testosterona;
- Exercícios de Kegel;
- Exploração do erotismo;
- Fisioterapia do pavimento pélvico.
A evolução da perturbação do orgasmo feminino irá depender do diagnóstico e do tratamento efetuados, pelo que importa consultar o/a seu/sua médico/a ou recorrer a um/a terapeuta sexual ou sexólogo/a clínico/a.