Não se conhece, atualmente uma, cura ou reversão da deterioração neurológica inerente à demência. No entanto, existem intervenções terapêuticas que podem ajudar a minimizar a velocidade de progressão da doença, sobretudo a nível cognitivo e que permitem intervir nas alterações de comportamento e humor e na promoção da autonomia, melhorando, assim, a qualidade de vida da pessoa com demência.
Existem vários tipos de demência, sendo a mais frequente, a Doença de Alzheimer. Num estudo efetuado em 2005, estimou-se que a Doença de Alzheimer afetasse entre 24 a 25 milhões de pessoas em todo o mundo, tornando-se numa das principais patologias que geram incapacidade, dependência e morbilidade nas pessoas mais idosas.
Existem dois tipos de intervenções terapêuticas para a demência: as farmacológicas e as não farmacológicas. Ambas têm uma eficácia limitada, devendo ser utilizadas em conjunto, no sentido de potenciarem o efeito uma da outra.
Relativamente às intervenções não farmacológicas, estas dividem-se em dois ramos: as Intervenções Psicológicas e as Intervenções Cognitivas.
As Intervenções Psicológicas incluem abordagens orientadas para o comportamento, emoções e estímulo sensorial ou psicossocial. Alguns exemplos são: psicoterapia, terapia de reminiscência, de validação, musicoterapia, aromoterapia, arte-terapia, terapia do toque e da massagem, terapia multisensorial snoezelen, terapia assistida por animais.
Por outro lado, as Intervenções Cognitivas incluem abordagens orientadas para o funcionamento cognitivo, tendo como objetivo principal retardar, durante o maior período de tempo, a sua deterioração.
Intervenções cognitivas
As principais abordagens de intervenção cognitiva são: Reabilitação Cognitiva (1), Treino Cognitivo (2), Estimulação Cognitiva (3) e a Terapia de Orientação para a Realidade (4).
1. Reabilitação Cognitiva
Abordagem individualizada que tem como objetivo a melhoria da adaptação funcional da pessoa, no seu contexto diário, devendo ser assim, realizada em contexto de vida real e tendo como foco as dificuldades mais relevantes que o doente, família e cuidadores, identifiquem. Nesta abordagem, não existe, portanto, uma intervenção direta nas funções cognitivas.
2. Treino Cognitivo
Abordagem individualizada, baseada em modelos teóricos, na qual são propostas tarefas organizadas em vários níveis de dificuldade, dirigidas ao treino de funções cognitivas específicas. Podem ser exercícios de papel e lápis ou jogos. O objetivo é a melhoria ou, pelo menos, a manutenção do funcionamento cognitivo num determinado domínio, como a atenção, a memória e a linguagem. Os efeitos generalizam-se para além do contexto imediato. Ou seja, o novo conhecimento pode ser aplicado com sucesso numa variedade de novos contextos e requer o uso de estratégias de memória e habilidades de pensamento.
3. Estimulação Cognitiva
Abordagem de estimulação geral, individual ou em grupo, em que são propostas atividades ou discussões, sem uma orientação teórica específica, considerando que qualquer estimulação será benéfica. As sessões de grupo são mais úteis quando o objetivo principal se concentra no comportamento social. Por outro lado, favorecem distrações, exigindo especial cuidado com pessoas com dificuldades de atenção acentuadas.
4. Orientação para a realidade
A orientação para a realidade, como o nome indica, pretende orientar a pessoa para dimensões da realidade, como aspetos biográficos pessoais ou o tempo e o espaço. Não deve ser feita com base no questionamento, uma vez que conduzirá apenas ao confronto da pessoa com as suas dificuldades. Devem ser utilizadas técnicas que ajudam a pessoa a aceder à informação.
Pressupostos das intervenções cognitivas
- As intervenções cognitivas devem ter em consideração dois conceitos fundamentais: a neuroplasticidade e a reserva cognitiva. A neuroplasticidade é definida como sendo a capacidade do sistema nervoso que permite a criação de novas ligações neuronais que compensem perdas. Por sua vez, a reserva cognitiva é considerada como sendo a capacidade de tolerância do cérebro a uma lesão cerebral até um limar em que não há presença de sintomas de doença neurodegenerativa. Esta variável depende de fatores individuais como a genética, educação, estilo de vida, atividade mental, estimulação cognitiva.
- A pessoa deve ser vista na sua totalidade, devendo as intervenções responder às suas necessidades físicas, cognitivas, psicológicas e sociais. Cada intervenção, tem que se adequar a cada pessoa.
- Não há uma intervenção única que seja eficaz para todos os sintomas e fases de evolução da doença. Cada pessoa com demência necessita de intervenções diversas e as mesmas devem ir sendo adaptadas às diferentes fases de progressão da doença.
- Previamente a qualquer intervenção, deverá ser feita uma avaliação neuropsicológica detalhada, entendendo as necessidades específicas da pessoa com demência, quais as funções cognitivas comprometidas e quais as preservadas, bem como qual a fase evolutiva da doença. Deve também ser elaborada uma história clínica onde são identificados os seus interesses, ambiente sociofamiliar, personalidade e profissão prévia.
- Esta avaliação permite que seja delineado um plano individual de intervenção mais adequado, cujos objetivos devem ser traçados com a colaboração dos doentes e das suas famílias, tendo em conta as dificuldades que considerem mais significativas. Estes objetivos devem ser concretos e operacionais, tendo como foco o desempenho real das atividades diárias.
- As intervenções cognitivas devem incidir sobre as funções cognitivas preservadas e aquelas em que já se verifica algum défice, embora ainda não estejam perdidas.
- Especialistas defendem como preferencial o contexto individual, no sentido de se analisar os erros, com maior detalhe e se definirem as melhores estratégias a utilizar.
- Qualquer programa de intervenção cognitiva deve ter em consideração a natureza progressiva do declínio cognitivo, a compreensão da pessoa sobre a sua doença e a relação entre a depressão geriátrica e a demência. Estas variáveis devem ser monitorizadas.
- Para que os programas vão sendo adaptados, devem ser revistos os objetivos e avaliados os resultados das diferentes intervenções.
- A estimulação cognitiva deve encorajar novas ideias e pensamentos, não se focando somente em informação já aprendida; deve dar maior relevância aos pontos fortes da pessoa do que aos seus pontos fracos, para que a mesma não seja constantemente confrontada com as suas dificuldades; deve fazer uso de fotografias, imagens, que permitam focar a atenção; dar tempo à pessoa; propor atividades que proporcionem divertimento.
- Qualquer programa de intervenção cognitiva deve ser delineado e posto em prática por profissionais especializados e treinados.
Importância da estimulação cognitiva ao longo da vida
Um Relatório da “Lancet Commission on Dementia Prevention and Care” NeuroscienceNews.com, indica que 1 em cada 3 casos de demência pode ser prevenido, diminuindo: Perda de audição, hipertensão, diabetes, obesidade, tabagismo e depressão e, por outro lado, aumentando a atividade física, o contacto social e a aprendizagem. É no âmbito da aprendizagem que se encontra a estimulação cognitiva.
Sabe-se que o treino mental intensivo pode ajudar a aumentar a reserva cognitiva, ou seja, a resiliência que o cérebro tem para lidar com o dano neuronal, encontrando estratégias e alternativas.
A evidência científica sugere que a estimulação cognitiva tem um impacto positivo na cognição, na sintomatologia depressiva, na autonomia dos idosos e constitui um importante fator protetor relativamente ao aparecimento de demência. A importância da estimulação cognitiva é ainda maior em casos clínicos em que se identifica um défice cognitivo ligeiro, uma vez que é sabido que este défice representa um fator de risco para o desenvolvimento de demência.
Em casos de demência, a reabilitação cognitiva pode melhorar, pelo menos temporariamente, os problemas do quotidiano, inerentes à doença.
Pequenas melhorias ou a estabilização das funções cognitivas são ganhos de saúde muito relevantes. Podem ser alcançados através de programas de intervenção cognitiva que ajudam a combater o défice cognitivo no processo de envelhecimento. Como tal, estes programas devem ser incluídos nos planos de cuidados a pessoas mais velhas, por forma a preservar a sua capacidade cognitiva e funcional e garantir um maior nível de independência.
Saiba, aqui, tudo sobre défice cognitivo no processo de envelhecimento.