A cirurgia no pé plano é uma opção que apenas deve ser equacionada quando o pé plano provoca queixas e quando já foi tentado o tratamento conservador, sem sucesso.
A indicação da cirurgia está sobretudo relacionada com a perda de qualidade de vida e não necessariamente com a gravidade da deformidade. Mesmo nos casos mais graves deve ser tentado sempre o tratamento conservador.
O tratamento cirúrgico tem assim indicações quando estão reunidas estas condições. Consoante a gravidade da deformidade, o tipo e origem da deformidade e ainda o estado das articulações (artrose) podemos considerar diferentes cirurgias.
De um modo geral a cirurgia (ou operação) vai procurar corrigir a deformidade e melhorar a posição do pé.
Como é feita a cirurgia do pé plano?
Como dito previamente, existem diferentes técnicas cirúrgicas conforme os casos.
De um modo geral, na preparação da cirurgia do pé plano temos de considerar 4 dimensões:
- A existência de alterações estruturais, como uma barra társica;
- O estado das articulações envolvidas;
- O estado do tendão tibial posterior;
- A gravidade da deformidade.
Nos casos em que as articulações têm uma artrose avançada, será sempre de ponderar uma fusão articular (artrodese). Nos casos em que a deformidade é muito grave, a fusão também poderá ser a melhor opção.
Nos casos em que existe uma alteração estrutural e o doente é jovem, poderá ser suficiente a remoção da barra társica. Noutros casos, sobretudo em doentes mais velhos, a fusão poderá ser também uma opção.
No entanto, o pé plano é mais comumente associado a uma condição chamada síndrome da insuficiência do tibial posterior. Nestes casos o pé plano está associado a uma alteração deste tendão e a principal queixa pode ser da dor provocada pela tendinite.
O tratamento do pé plano pode passar pela correção da deformidade e para tal o cirurgião dispõe de algumas opções, dependendo da gravidade da deformidade. Nos casos mais simples pode ser suficiente fazer uma osteotomia (um realinhamento) do calcâneo. Noutros casos pode ser necessário associar outras osteotomias ou mesmo uma reconstrução ligamentar.
Resumidamente, independentemente das técnicas utilizadas, o objetivo é melhorar a forma e o apoio do pé no chão, permitindo uma marcha mais natural e sem dor.
Qualquer um dos procedimentos cirúrgicos descritos anteriormente, dos mais simples aos mais complexos, pode ser feito com recurso a diferentes técnicas de anestesia. Tanto pode ser utilizada uma anestesia geral como uma “local”. As diferentes opções deverão sempre ser devidamente discutidas com o anestesista e ponderadas (caso a caso).
Complicações na cirurgia do pé plano
Todas as cirurgias implicam riscos, nomeadamente o risco de não se conseguir obter o resultado esperado pelo doente, ou mesmo pelo cirurgião. Uma boa discussão e explicação são essenciais para prevenir uma expectativa irrealista relativamente ao resultado esperado da cirurgia.
Dependendo da opção cirúrgica específica para cada caso pode haver diferentes complicações e essas deverão ser discutidas e avaliadas previamente com o cirurgião de pé e tornozelo.
No entanto, há alguns riscos que são comuns a todos os procedimentos. Destacaria desde logo, pela sua gravidade, a infeção e a trombose venosa profunda. Ambas complicações potencialmente graves e com um tratamento que pode ser desafiante.
Contudo, são tomadas medidas específicas para diminuir o seu risco, nomeadamente a administração de antibioterapia profilática e hipocoagulação profilática pós-operatória.
Sempre que é efetuada uma fusão ou realinhamento ósseo, há o risco de o osso não cicatrizar (consolidar) e ser necessário re-intervir para promover uma boa cicatrização e estabilização.
Dado a deformidade do pé plano ser uma deformidade dinâmica e com tendência para progressão, poderá, em alguns casos, haver uma recidiva ou uma progressão da deformidade após a correção cirúrgica, havendo necessidade de nova intervenção no futuro.
Importa ressalvar que a cirurgia eletiva é segura e a indicação para a operação deverá resultar de uma correta avaliação e discussão de todos estes pontos que permitirá concluir que os benefícios que potencialmente advirão da cirurgia são substancialmente superiores aos riscos inerentes ao procedimento.
Ainda assim, as complicações cirúrgicas são uma realidade, podem sempre acontecer, e o mais importante é a sua deteção e tratamento adequado e atempado.
Pós-operatório na cirurgia do pé plano
Os cuidados pós-operatórios são uma parte essencial do tratamento cirúrgico.
Logo após a cirurgia é necessária manter uma vigilância atenta para detetar e tratar potenciais complicações o mais cedo possível.
Sempre que possível, o penso deve ser avaliado regularmente pelo cirurgião. Dependendo do procedimento efetuado, há diferentes especificidades. Para cada caso o pós-operatório deve ser avaliado e discutido com o ortopedista.
Recuperação após a cirurgia do pé plano
Exceto nos casos mais simples em que seja apenas necessária uma intervenção menor, a recuperação pós cirúrgica é exigente. O tempo de recuperação poderá variar, mas será, previsivelmente, entre 3 a 6 meses.
Numa fase inicial é necessária uma imobilização com uma ortótese especial (Bota Walker). Esta imobilização poderá durar até 3 meses, mas de modo geral durará 6 a 8 semanas. Durante este período, o doente deverá utilizar canadianas para se deslocar e, dependendo da cirurgia, poderá ou não fazer carga com a bota calçada.
A partir das 4 a 6 semanas de pós operatório é incentivada a mobilização ativa do pé e tornozelo, para permitir diminuir a rigidez articular.
Também a partir das 4 a 6 semanas começa a ser incentivada a progressão da carga durante a marcha.
Após o período inicial, o tratamento fisioterapêutico tem um papel importante na recuperação. Inicialmente a fisioterapia ajuda no controlo da dor, diminuição do edema (inchaço), melhoria da mobilidade. Numa segunda fase, vai permitir otimizar a recuperação da força muscular e fazer treino de equilíbrio, propriocepção e marcha.