Relação Parental

Relação com os filhos que fazem birras

O stress na relação parental

Gerir o stress na relação parental é uma competência essencial, já que a parentalidade é tarefa desafiante e exigente. Por isso mesmo, é natural que surjam sintomas de stress parental, que importa saber identificar para gerir de forma eficaz.

A resposta de stress na relação parental

O Stress é uma resposta que o nosso organismo está preparado para dar sempre que há a perceção de uma ameaça. No entanto, não é necessário que haja efetivamente uma ameaça real ou um evento traumático a acontecer para que possamos experienciar a resposta de stress.

Assim sendo, a resposta de stress prepara o nosso organismo para se defender da ameaça, de uma de 3 formas:

  • Lutando;
  • Fugindo;
  • Congelando.

Claro que, quando se trata de stress na relação parental, cujo gatilho que o desencadeia está relacionado com o comportamento dos filhos ou com dificuldades sentidas em gerir as exigências do dia-a-dia, nenhuma destas formas de reagir será positiva. Por exemplo, se um filho se recusa a ir para a cama e está na hora, é possível que os pais sintam stress. Neste caso, há uma ameaça percebida pela amígdala (parte do cérebro especializada em detetar perigos para nos manter vivos), que faz disparar a resposta de stress.

E quando estamos sob este modo cerebral de ameaça, torna-se efetivamente difícil pensar com clareza: de facto, a amígdala, situada no nosso sistema límbico, tem o condão de "raptar" o nosso raciocínio lógico, já que para ela se trata de uma prioridade a manutenção da nossa sobrevivência. Claro que sabemos, racionalmente, que um filho que não quer ir para a cama, não só é extremamente comum, como sobretudo não afeta a sobrevivência (nem a nossa, nem a da criança).

Contudo, a nossa mente está preparada para funcionar desde os primórdios da nossa existência. De facto, foi esta resposta que nos manteve vivos enquanto espécie não especialmente dotada de força, garras, presas ou velocidade, como outras espécies. No entanto, a nossa forma de viver evoluiu imenso desde os nossos primórdios, e já não vivemos em cavernas nem a fugir de predadores ou de manifestações da natureza o tempo todo. Apesar disso, não existe um "upgrade" para esta resposta de stress, pelo que a nossa resposta perante a simples perceção de uma ameaça (reforço que não é necessário que a ameaça exista, basta ter a perceção que existe) desencadeia resposta automática de stress: lutamos, fugimos ou congelamos.

Em milésimos de segundos, conseguimos perceber se naquela situação devemos fugir, lutar ou congelar. E isso irá depender da forma como avaliamos os nossos recursos para lidar com a suposta "ameaça". Assim sendo, no exemplo aqui dado, caso eu considere que não tenho competências para lidar com a resistência do meu filho a tomar banho, talvez eu evite fazer essa tarefa, delegando noutra pessoa (fuga) ou congele, ficando apenas a ruminar sobre como levá-lo para o banho, mas não conseguindo agir. Mas se eu achar que ele tem de fazer aquilo que eu digo e mais nada, talvez eu o force a ir para o banho, gritando, ameaçando, batendo ou mesmo arrastando-o até lá, adotando portanto uma estratégia de luta.

No entanto, nenhuma destas respostas:

  • é necessária: na medida em que a criança não querer ir para o banho é algo que não é um perigo real para a sobrevivência e pode ser contornado com paciência, flexibilidade e estratégias de disciplina positiva.
  • é eficaz: mesmo que possa resultar a curto prazo arrastar a criança para o banho, isso não irá resultar para sempre (as crianças crescem rápido) e o principal motivo é que irá danificar a vossa relação a médio e longo prazo. Quando a criança não se sente respeitada ou ouvida na relação, tendencialmente começa a não cooperar e os pais começam a encontrar muita resistência na relação. Por esse motivo, adotar estratégias de parentalidade positiva e consciente será a médio e longo prazo o mais eficaz, e que nos permite uma quarta resposta ao stress: em vez de lutar, fugir ou congelar, podemos aprender a "dançar" com a criança. Ou seja, adotar uma parentalidade positiva e consciente irá permitir agir de forma consciente, em vez de simplesmente reagir em piloto automático, o que acontece sempre que a amígdala "dispara.
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Sinais de stress na relação parental

Desta forma, quando os pais notam que estão muito reativos perante as exigências do dia-a-dia na prestação de cuidados aos filhos ou perante comportamentos desafiantes dos mesmos, estamos perante os sinais de stress na relação parental, que se podem traduzir em vários comportamentos ou sinais:

  • Gritar - gritar com os filhos é uma forma de luta, para conseguir obediência através da coerção;
  • Bater - usar a força, ainda que seja através da "palmada para afastar o pó", continua a ser um método coercivo e não pedagógico;
  • Ameaçar - usar ameaças que incluem castigos físicos ou retirada de brinquedos ou de atividades que a criança gosta continua a ser uma estratégia de luta;
  • Evitar - deixar para o outro progenitor (ou para a escola) aspetos essenciais da educação consiste numa estratégia de fuga perante a ameaça percebida;
  • Ruminar - ficar a pensar em demasia sobre o assunto, não chegando a conclusão alguma e não conseguindo decidir o que fazer é uma estratégia de congelamento perante o perigo.

Assim sendo, quando estes sinais são frequentes, é natural que surjam os sintomas físicos, emocionais e cognitivos do stress, tais como:

  • dificuldades em dormir;
  • dores nas costas ou nos ombros e pescoço;
  • problemas de pele;
  • alterações no apetite;
  • diminuição da libido;
  • irritabilidade;
  • preocupação;
  • ansiedade;
  • humor deprimido;
  • pessimismo;
  • dificuldades de concentração;
  • problemas de memória, entre outros.

Portanto, a persistência destes sinais e sintomas, se não for tratada atempadamente, poderá desencadear o síndrome de burnout parental.

Gerir o stress na elação parental

Assim sendo, é muito importante que os pais adotem vários comportamentos e atitudes preventivas para gerir o stress parental e o burnout parental, das quais destacamos as seguintes:

1. Autocuidado

Primeiramente, os pais têm de estar bem. Cuidar da sua saúde física e mental é essencial. Desta forma, é essencial que os pais coloquem como prioridade a satisfação das suas necessidades básicas, para poderem ter energia e recursos para depois cuidar das necessidades básicas dos filhos. Ter uma alimentação equilibrada, uma rotina de sono saudável, praticar exercício físico e ter uma vida social e sexual ativa são os principais fatores que desencadeiam a produção das hormonas da felicidade.

2. Rede de suporte

Seguidamente, é importante realçar que ninguém educa sozinho. A educação é uma tarefa muito exigente e absorvente, pelo que pedir e aceitar ajuda - de amigos, família e comunidade é essencial para que os pais não se sintam sobrecarregados e possam cuidar de si melhor.

3. Aprender estratégias de disciplina positiva

Claro que, quando não se sabe o que fazer perante os desafios que as crianças implicam, o nosso piloto automático surge para salvar a situação e sem querer acabamos a lutar, fugir ou congelar. As estratégias da disciplina positiva são uma excelente alternativa, que permitem desistir dos castigos, gritos, ameaças e qualquer tipo de violência na relação parental, permitindo assim reforçar a conexão e a cooperação com a criança.

4. Aprender estratégias de autorregulação

Ainda assim, para gerir o stress parental, é muito importante, para sair do piloto automático, que se desenvolvam competências de autorregulação. De facto, a autorregulação é uma competência essencial da inteligência emocional e a melhor forma para a desenvolver (além de estudar mais sobre inteligência emocional) é praticar mindfulness, que irá permitir agir em vez de reagir. E isso será o que irá tornar as ações parentais congruentes com as suas intenções, parando o efeito nefasto da impulsividade do piloto automático.

5. Procurar ajuda profissional

Finalmente, se o nível de stress já é tão elevado que provoca dano no bem-estar da família, é importante procurar ajuda profissional especializada: Esta ajuda será para evitar que a relação parental se torne negativa e evitar a escalada para o burnout parental (ou sair dele, caso já se tenha atingido esse patamar). Procurar ajuda psicológica especializada no acompanhamento ou aconselhamento parental, irá ser essencial para desenvolver estratégias de autocuidado e de parentalidade positiva e consciente, essenciais para gerir o stress parental.

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