O consumo de pornografia na nossa sociedade é inegável, podendo ser facilmente encontrada em revistas, fotografias, vídeos e tantos outros meios. Com o auxílio das novas tecnologias, como a internet, smartphones e tablets, o acesso à pornografia está a um clique de distância.
Os sites de pornografia estão entre os 50 sites mais visitados em todo o mundo, anualmente. Na realidade, segundo alguns estudos, cerca de 90% dos adultos – entre eles homens e mulheres – consomem pornografia. Embora seja mais consumida por homens do que por mulheres, a pornografia está associada tanto a efeitos positivos, como efeitos negativos.
A palavra pornografia vem do grego pornographos e foi originalmente usada pela primeira vez para descrever a vida, costumes, hábitos e maneiras das prostitutas e dos seus clientes se comportarem. A pornografia varia em termos de conteúdo, podendo ser consensual, humilhante ou violenta, em termos de media (em texto, áudio e/ou vídeo), em qualidade (alta ou baixa definição) e ainda sobre a sua capacidade de provocar excitação sexual.
No entanto, independentemente da definição utilizada, o termo “pornografia” é considerado uma palavra descritiva e não pejorativa referente a todo e qualquer conteúdo sexualmente explícito (profissional ou amador), sem atribuição moral ou avaliação estética, que contenha uma ou mais pessoas, todas maiores de idade.
Acredita-se que a maioria das pessoas consome pornografia para exploração sexual do seu próprio corpo, aumentando o seu reportório sexual e potenciar um orgasmo mais eficaz e rápido.
Em relação aos aspetos positivos que esta prática pode acrescentar, a pornografia pode ser um escape à rotina sexual, funcionando como um espaço onde podemos expressar fantasias e desejos pessoais, e que não queremos partilhar ou mesmo experienciar na vida real. A pornografia pode ser uma ferramenta útil de aprendizagem e de expansão do nosso repertório sexual, auxiliando o aumento da excitação e satisfação sexual em certas circunstâncias, podendo ser uma forma saudável de realização de fantasias sexuais, além de melhorar a comunicação e aproximar os parceiros, revelando-se como um recurso potente para uma vida sexual mais prazerosa e bem informada. Assim, a pornografia pode contribuir para a liberdade e satisfação sexual de muitas pessoas e, até, de muitos casais.
Efeitos negativos da pornografia
No entanto, muitas vezes é difícil reconhecer aquilo que é fantasioso nas práticas sexuais encenadas e aquilo que representa uma prática sexual real. A ficção presente nos vídeos pornográficos representa corpos e práticas que (quase) nunca correspondem à realidade. De uma forma geral, a pornografia representa uma prática sexual irrealista, que perpetua estereótipos de género, crenças erradas sobre a sexualidade e expectativas corporais inalcançáveis que, em última análise, reduzem a satisfação sexual e aumentam a probabilidade de se desenvolver – ou até acentuar – dificuldades do foro sexual.
Um dos efeitos negativos do consumo de pornografia, é referido como a associação entre uso de pornografia e atitudes de apoio à violência contra a mulher, incluindo um aumento da objetificação da mulher, um aumento de atitudes agressivas e de agressão.
Outros dos aspetos negativos do consumo de pornografia apontam como consequência, ainda, a redução da satisfação dos sujeitos com o seu relacionamento, ou seja, a carga emocional que o consumo de pornografia acarreta, pode contribuir, também, para a perda de interesse sexual no/a parceiro/a; uma maior dificuldade em ficar excitado ou atingir o orgasmo sem a ajuda da pornografia; um aumento de pensamentos intrusivos, fantasiosos e/ou ansiógenos durante a atividade sexual.
Outros dos fatores negativos da pornografia prendem-se com o aumento dos comportamentos de risco e do uso excessivo, associados à dependência. Sabe-se que o consumo de pornografia pode ativar no nosso cérebro o sistema de recompensa (extremamente associado ao prazer) podendo levar a uma componente aditiva do consumo de alguns tipos de vídeos. No entanto, à medida que o consumo se torna mais frequente, há uma tendência para a dessensibilização do prazer, tornando-se necessário consumir um conteúdo cada vez mais intenso ou aumentar a frequência desse consumo, para obter o mesmo efeito. Ainda pode levar a um aumento do interesse em práticas sexuais agressivas ou sexualmente exigentes e arriscadas; e – em alguns casos – uma crescente e notória insatisfação com o sexo em geral, levando ao aparecimento de disfunções sexuais, como incapacidade de atingir o orgasmo, ejaculação precoce, ejaculação retardada ou disfunção erétil. Pode ainda aumentar a insegurança, frustração e ansiedade, culminando em ansiedade de desempenho sexual, sentimentos de incapacidade, baixo autoconceito e autoeficácia e, em alguns casos, dificuldade na atividade sexual com uma pessoa real.
Porém, é importante perceber que os efeitos adversos da pornografia não são uma inevitabilidade, e a pornografia e os conteúdos pornográficos podem ser utilizados de forma equilibrada e saudável, permitindo potenciar relações sexuais livres, prazerosas e cheias de novidades.