A depressão pós-parto carateriza-se por um episódio depressivo relacionado com o parto, onde sinais e sintomas como tristeza extrema, ansiedade, sentimentos de culpa e fracasso, choro fácil, irritabilidade, perda de autoestima, entre outros são muito frequentes. Veja mais informação em sinais e sintomas da depressão pós-parto.
A família e o nascimento do bebé
A transição para a parentalidade, quando desejada, é um momento marcante na vida de qualquer casal e família. Surge a necessidade da família se reorganizar perante este novo acontecimento de vida, de modo a acolher o novo membro. Mudanças e ajustes nos papéis familiares são inevitáveis, de modo a estabelecer uma nova dinâmica que vise a proteção da prole e a continuidade do sistema familiar.
O processo de gravidez e puerpério, isto é, o período posterior ao parto durante o qual o corpo da mulher sofre um conjunto de manifestações físicas e emocionais até regressar ao seu estado normal, são acontecimentos marcantes para a vida da mulher.
Estas mudanças representam por si só uma vulnerabilidade psicológica para a mulher, podendo constituir-se como fatores de risco para o desenvolvimento de perturbações psicológicas, como a depressão pós-parto.
Incidência da depressão pós-parto
Uma crescente incidência da depressão pós-parto tem vindo a ser documentada. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão pós-parto afeta cerca de 1 em cada 6 mulheres, uma problemática com incidência comum, emergindo a necessidade de uma compreensão mais alargada deste fenómeno.
Esta maior compreensão torna-se relevante quando o surgimento de um quadro de depressão pós-parto pode influenciar negativamente a qualidade da relação estabelecida com o bebé, assim como perturbar todo o sistema conjugal / familiar.
Quando surgem os primeiros sintomas?
A depressão pós-parto corresponde a um episódio depressivo estritamente relacionado com o parto, com início, a partir do 2 ou 3 mês após o nascimento do bebé.
Devido ao seu aparecimento mais tardio (como vimos, em média 2 a 3 meses após o parto), a depressão pós-parto distingue-se do conhecido blues pós-parto (baby blues), isto é, um estado afetivo ligeiro, como um humor depressivo, choro fácil, irritabilidade, confusão, alterações do sono que decorrem das naturais alterações hormonais que a mulher sofre associadas ao parto. Os blues podem ter a duração de algumas horas até vários dias, indo por norma até duas a quatro semanas após o parto. Revela-se, assim, um período afetivo normativo.
Sinais e sintomas na depressão pós-parto
Por norma, os primeiros sinais e sintomas na depressão pós-parto surgem a partir do 2 ou 3 mês após o nascimento do bebé. Na sua essência, estão dificuldades associadas ao desempenho do papel materno e à presença do próprio bebé, originando um conjunto de sintomas incapacitantes, a saber:
- Queixas físicas, como fadiga acentuada, alterações no apetite e nos padrões de sono;
- Níveis elevados de ansiedade e preocupação;
- Tristeza extrema;
- Irritabilidade;
- Dificuldades de concentração, atenção e memória;
- Fortes sentimentos de culpa;
- Perda significativa de autoestima;
- Choro fácil;
- Sentimentos de culpa e fracasso.
Outros sinais e sintomas estão presentes num quadro de depressão pós-parto. Por um lado, algumas mulheres podem revelar um sentimento de incapacidade face aos cuidados do bebé, sentindo vergonha e revelando que determinados comportamentos, como o choro do bebé, a inquietam e irritam. As dificuldades em estabelecer uma ligação afetiva imediata com o bebé podem existir. Como tal, podem afastar-se do bebé e delegar os cuidados a outras pessoas do sistema familiar. Por outro lado, algumas mães revelam preocupações excessivas face à segurança e cuidados de saúde do bebé, sentindo culpa pela sua inadequação ao papel de mãe e não se sentirem à altura do desafio.
Causas da depressão pós-parto
São várias as teorias que se dedicam à compreensão das possíveis causas associadas ao desenvolvimento de uma depressão pós-parto. Num primeiro momento, as alterações hormonais provocadas pelo parto possuem a sua influência, uma vez que os níveis de estrogénio e progesterona que se encontram aumentados durante todo o período de gravidez diminuem drasticamente após o nascimento do bebé, seja por parto normal seja por cesariana. Mas para além desta dimensão física / biológica, fatores de ordem psicossocial estão presentes.
Como fatores risco, existem evidências científicas de que o ajustamento psicológico da mulher anterior à gravidez seja um fator importante, parecendo que mulheres que já apresentavam uma predisposição depressiva (depressão) revelam um maior risco de desenvolver uma depressão pós-parto.
Saiba, aqui, tudo sobre depressão.
O estado afetivo durante o processo de gravidez é um fator de grande importância, onde a perceção de apoio, a qualidade do seu relacionamento conjugal e condições de acesso a cuidados médicos são aspetos cruciais na relação com a sintomatologia depressiva. Parecem ser as mulheres que carecem de apoio e suporte social, que revelam baixos níveis de investigação na relação conjugal e/ou vítimas de violência doméstica que são mais vulneráveis ao desenvolvimento de depressão pós-parto.
A depressão pós-parto tem também uma maior incidência em contextos onde o bebé revela dificuldades temperamentais (por exemplo, um temperamento mais irritável) o que dificulta o desenvolvimento de um vínculo afetivo e o estabelecimento dos cuidados adequados. As dificuldades ao nível da amamentação poderão também contribuir para o estabelecimento de um vínculo afetivo com o bebé e proporcionar o desenvolvimento de sentimentos de culpa e de incapacidade de cuidar do bebé.
As expectativas sobre a maternidade e crenças culturais podem também ser um fator de risco para o desenvolvimento desta síndrome. Frequentemente, a mulher vê-se confrontada com ideias erróneas de que a maternidade é um estado de felicidade constante, onde a tarefa de prestar cuidados ao bebé é um instinto natural e esperado de todas as mulheres. Sabemos que estas crenças estão longe da realidade, e o confronto da mulher com estas exigências impostas contribui para a construção de um sentimento de ineficácia e de incapacidade no seu papel materno.
A depressão pós parto pode afetar o pai?
No contexto das relações heterossexuais, não podemos esquecer que assistimos cada vez mais a um equilíbrio no desempenho dos papéis de género, sendo a figura masculina também uma figura cuidadora principal.
O pai está também suscetível a alterações de humor decorrentes não só da privação do sono e do stresse inerente a esta nova etapa de vida, como também tende a sofrer em silêncio por assistir ao sofrimento da parceira. Este silêncio tem frequentemente a função de proteção face à mulher, com o intuito de a apoiar na vivência deste quadro clínico depressivo.
A depressão pós-parto no homem tende a afetar entre 3 a 10% da população masculina. Os sintomas podem ser da esfera física e emocional, onde a negligência dos mesmos pode perturbar também o bom desenvolvimento do bebé e afetar o relacionamento conjugal. Contudo, realizar o diagnóstico da depressão pós parto no homem não é fácil, já que muitos revelam dificuldades em assumir a sua vivência emocional, temendo serem ridicularizados. Como tal, muitos dos sintomas deste quadro clínico apresentam-se “mascarados”, a um nível de somatização sem uma causa física aparente, como as dores de cabeça, a fadiga generalizada, dores musculares.
Intervenção na depressão pós-parto
É fundamental a mulher compreender que não será uma má mãe se desenvolver uma depressão pós-parto. É possível ultrapassar a depressão pós-parto. Procurar a ajuda de um Psiquiatra ou Psicólogo pode prevenir outras complicações e sofrimento.
Ao nível do tratamento ou da intervenção na depressão pós-parto, destacam-se os objetivos essenciais:
- Aumentar a coesão entre os membros da família, promovendo relações familiares apoiantes e positivas;
- Mobilizar recursos que visem suporte instrumental e emocional à família;
- Restabelecer níveis de interação adequados ao bebé, através da identificação dos padrões interativos mãe-bebé que possibilitem o aumento do envolvimento emocional mútuo;
- Educar no sentido de fornecer competências adequadas que visem ajudar a resolver problemas que possam surgir com o bebé (por exemplo, ao nível do sono, da amamentação);
- Incentivar a procura de outros testemunhos, nomeadamente mães que experienciam ou já experienciaram as mesmas dificuldades – não está só.
- Promover uma autoestima positiva e incentivar a realização de atividades prazerosas, onde a mãe possa obter sucesso e uma sensação de relaxamento;