Lesões vertebro-medulares

Lesões vertebro-medulares

O que são lesões vertebro-medulares?

As lesões vertebro-medulares referem-se a danos ou traumas que ocorrem na coluna vertebral, afetando a medula espinhal. Essas lesões podem ter diversas origens, como acidentes de carro, quedas, lesões desportivas ou traumas relacionados com o trabalho. As suas consequências podem variar significativamente, dependendo da extensão e localização da lesão.

A coluna vertebral é dividida em diferentes segmentos: coluna cervical (pescoço), coluna torácica (meio das costas) e coluna lombar (região inferior das costas). Cada uma dessas regiões da coluna tem funções específicas e é suscetível a diferentes tipos de lesões.

A coluna cervical é a parte superior da coluna e compreende sete vértebras (C1 a C7). Lesões nesta área podem ser particularmente graves, uma vez que podem provocar problemas respiratórios e paralisia de membros superiores e inferiores.

A coluna torácica é a parte média da coluna e é constituída por 12 vértebras (T1 a T12). Lesões nesta área podem causar perda de sensibilidade e movimento nas pernas, além de afetar órgãos internos.

A coluna lombar é a região inferior da coluna e consiste em cinco vértebras (L1 a L5). Lesões nessa área podem resultar em fraqueza ou paralisia dos membros inferiores, além de problemas de controlo da bexiga e intestino.

As lesões vertebro-medulares podem variar desde danos temporários até perda permanente de sensibilidade e mobilidade. A gravidade da lesão e o impacto na qualidade de vida do paciente dependem da localização e extensão da lesão da medula espinhal.

É fundamental que qualquer pessoa que sofra uma lesão na coluna seja avaliada por um profissional médico, especialmente se houver suspeita de lesão medular. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem ser cruciais para otimizar as possibilidades de recuperação e minimizar as sequelas a longo prazo.

Causas das lesões vertebro-medulares

As lesões vertebro-medulares podem ser resultado de diversos eventos traumáticos e situações que afetam a estrutura da coluna vertebral e a medula espinhal. Entender as causas dessas lesões é fundamental para adotar medidas preventivas e reduzir o risco de ocorrência.

1. Traumatismos e Acidentes

  • Quedas: Acidentes domésticos, quedas em pisos escorregadios ou superfícies irregulares podem resultar em lesões na coluna;
  • Acidentes de Viação: Colisões automobilísticas, motociclísticas e outros acidentes de trânsito são uma causa comum de lesões vertebro-medulares;
  • Lesões Desportivas: Práticas desportivas intensas e com impacto, como mergulho em piscinas rasas ou quedas durante atividades radicais podem provocar lesões vertebro-medulares;

2. Lesões Laborais e Industriais:

  • Quedas em Altura: Trabalhadores envolvidos em construção civil ou atividades em altura estão mais suscetíveis a quedas que podem provocar lesões na coluna;
  • Acidentes com Equipamentos: O manuseio incorreto de maquinarias e equipamentos industriais pode resultar em lesões na coluna;

3. Atos Violentos:

  • Ferimentos por Arma de Fogo: Ferimentos de bala na região das costas ou pescoço podem causar danos à medula espinhal;
  • Ferimentos por Arma Branca: Perfurações profundas ou golpes com objetos cortantes podem afetar a estrutura da coluna vertebral e medula;

4. Eventos Desportivos de Alto Risco:

  • Desportos Radicais: Modalidades desportivas de alto risco, como saltos de paraquedas e desportos aquáticos, podem provocar lesões vertebro-medulares;
  • Mergulho em Águas Rasas: Saltos ou mergulhos em águas de pouca profundidade, em praias (marítimas ou fluviais) ou piscinas podem causar impacto na coluna e provocar lesões vertebro-medulares;

5. Condições Médicas e Doenças:

  • Tumores: Tumores localizados na coluna vertebral (primários ou metástases de outros tumores) podem comprimir a medula espinhal e causar lesões medulares;
  • Infeções: Infeções na coluna vertebral podem resultar em danos à estrutura óssea e medula espinhal;

6. Anomalias Congénitas:

  • Algumas malformações genéticas podem predispor indivíduos a desenvolver lesões vertebro-medulares;

7. Trauma durante o Parto:

  • Em casos raros, o nascimento pode causar lesões vertebro-medulares ao recém-nascido;

8. Envelhecimento e Degeneração:

  • O Problemas de coluna associados ao envelhecimento, como hérnias discais, espondilose cervical e outras, podem aumentar o risco de lesões vertebro-medulares.

É importante salientar que nem todas as lesões vertebro-medulares são traumáticas. Algumas condições genéticas hereditárias também podem contribuir para o desenvolvimento dessas lesões em determinados indivíduos. 

Sintomas das lesões vertebro-medulares

As lesões vertebro-medulares podem provocar vários sintomas, dependendo da localização e extensão da lesão na coluna vertebral e na medula espinhal. Esses sintomas podem variar desde um leve desconforto até condições mais graves e incapacitantes. Os sintomas mais comuns associados a essas lesões são:

1. Dor

  • Dor na Região Afetada: Os doentes podem referir dor localizada na área da lesão na coluna vertebral;
  • Dor Radicular: A dor pode irradiar para outras partes do corpo, seguindo o trajeto dos nervos afetados;

2. Perda de Sensibilidade

  • A perda de sensibilidade é um sintoma comum nas lesões vertebro-medulares. Os doentes podem apresentar dormência ou formigueiro nas áreas abaixo do nível da lesão;

3. Perda de Força Muscular

  • A fraqueza muscular é outra manifestação frequente. Os doentes podem ter dificuldades em mover os membros afetados ou realizar atividades que antes eram simples;

4. Paralisia

  • Dependendo do local e gravidade da lesão, a paralisia parcial ou total pode ocorrer;
  • Paraplegia: Quando a lesão ocorre na parte inferior da medula espinhal, causando perda de movimento e sensibilidade nos membros inferiores;
  • Tetraplegia: Se a lesão afeta a medula espinhal na região do pescoço, pode resultar em perda de movimento e sensibilidade nos membros superiores e inferiores;

5. Problemas Respiratórios

  • Lesões vertebro-medulares na região cervical podem afetar os músculos respiratórios, causando dificuldades respiratórias e necessidade de entubação/ ventilação mecânica;

6. Alterações dos esfíncteres urinário e fecal

  • Lesões na medula espinhal podem levar a alterações no controlo da bexiga e intestino, resultando em incontinência urinária e fecal;

7. Disfunção Sexual

  • Lesões vertebro-medulares podem afetar a função sexual e reprodutiva em homens e mulheres;

8. Espasticidade

  • Espasticidade é um aumento anormal da rigidez muscular, que pode dificultar os movimentos.

O diagnóstico e tratamento precoces são cruciais para minimizar os sintomas e maximizar as possibilidades de recuperação.

Diagnóstico das lesões vertebro-medulares

O diagnóstico adequado das lesões vertebro-medulares é essencial para iniciar o tratamento correto e proporcionar os melhores resultados para os doentes. Para um diagnóstico preciso, podem ser realizados vários exames complementares de diagnóstico (MCDT) que permitem avaliar a estrutura da coluna vertebral e a condição da medula espinhal. Alguns dos principais exames utilizados são a Tomografia Computadorizada (TAC) e a Ressonância Magnética (RMN).

  1. Avaliação Clínica: O processo de diagnóstico começa com uma avaliação clínica minuciosa por um médico especializado em patologia e cirurgia de coluna, que irá recolher informações sobre a história médica do doente, o evento traumático ou a causa suspeita da lesão, bem como avaliar o grau e nível de lesão neurológica;
  2. Raio-X: O exame de raio-X é uma técnica de imagem amplamente utilizada para avaliar a estrutura óssea da coluna vertebral. O raio-X da coluna pode revelar fraturas, luxações e outras alterações ósseas que podem estar associadas à lesão vertebro-medular;
  3. Tomografia Computadorizada (TAC): A TAC da coluna é um exame de imagem que utiliza raios-X para criar imagens detalhadas em cortes transversais da coluna vertebral. A TAC é especialmente útil para identificar fraturas ósseas, luxações e outras lesões ósseas;
  4. Ressonância Magnética (RMN): A RMN da coluna é outro exame de imagem amplamente utilizado para avaliar as estruturas moles, como a medula espinhal e os discos intervertebrais. Através da RMN, é possível detetar lesões, hematomas e edemas na medula espinhal, permitindo uma avaliação mais detalhada do grau de comprometimento neurológico.

A combinação destes exames de diagnóstico permite aos profissionais de saúde avaliar a extensão da lesão, determinar o grau de compromisso neurológico e estabelecer um plano de tratamento adequado para cada caso específico.

É importante salientar que o diagnóstico das lesões vertebro-medulares deve ser feito o mais rapidamente possível, uma vez que a intervenção precoce pode influenciar significativamente o prognóstico do doente e aumentar a probabilidade de recuperação ou limitar a progressão da lesão.

Nas lesões medulares, e sempre que possível, a cirurgia deverá ser realizada nas primeiras 24 horas após o traumatismo.

Clínica de Ortopedia

Tratamento das lesões vertebro-medulares

No tratamento das lesões vertebro-medulares é fundamental uma abordagem multidisciplinar que visa proporcionar o melhor cuidado possível ao doente e melhorar a sua qualidade de vida. A escolha das opções de tratamento dependerá da extensão e gravidade da lesão. É importante destacar que o tratamento pode variar desde medidas conservadoras até intervenções cirúrgicas complexas.

1. Tratamento Conservador

O tratamento conservador está apenas indicado em lesões da coluna vertebral sem instabilidade e sem lesão neurológica (medular associada). Inclui medidas como imobilização com colar cervical ou colete toracolombar, repouso e fisioterapia para fortalecer os músculos da coluna e melhorar a mobilidade;

2. Cirurgia

Em casos de lesões mais graves que causam compressão da medula espinhal ou instabilidade da coluna vertebral, a cirurgia é necessária e deve ser realizada o mais precocemente possível. A cirurgia tem como objetivo descomprimir a medula espinhal, estabilizar a coluna vertebral e alinhar as estruturas afetadas;

3. Reabilitação

A reabilitação é uma parte crucial do tratamento das lesões vertebro-medulares, independentemente de ter sido realizado tratamento cirúrgico ou conservador. O objetivo é melhorar a força muscular, a coordenação e a independência funcional do paciente;

4. Controlo da Dor

O controlo da dor é fundamental durante o processo de tratamento. Medicamentos analgésicos e outras terapias podem ser prescritos para aliviar a dor e melhorar o conforto do paciente;

5. Suporte Psicológico e Social

Lesões vertebro-medulares podem afetar significativamente o bem-estar emocional e psicológico do doente. O suporte psicológico e social são importantes para ajudar a enfrentar os desafios e promover uma adaptação à vida após a lesão.

Cirurgia nas lesões vertebro-medulares

A cirurgia desempenha um papel crucial no tratamento das lesões vertebro-medulares, especialmente nos casos em que há compressão da medula espinhal ou instabilidade na coluna vertebral. A intervenção cirúrgica tem como objetivos descomprimir a medula espinhal, estabilizar as estruturas vertebrais afetadas e, quando possível, restaurar a função neurológica comprometida. As principais abordagens cirúrgicas utilizadas no tratamento dessas lesões são:

  • Descompressão neurológica (laminectomia, vertebrectomia, corporectomia): um dos princípios fundamentais do tratamento cirúrgico é a descompressão das estruturas neurológicas. Para tal, é necessário remover as estruturas ósseas que estão a provocar essa compressão, nomeadamente a remoção parcial ou total das lâminas vertebrais, a remoção do corpo da vértebra (corporectomia) ou a remoção de toda a vértebra (vertebrectomia);
  • Fixação e ou fusão da coluna (artrodese): A estabilização da coluna vertebral é realizada através da sua fixação (temporária) ou fusão (fixação definitiva) na posição correta. Para a sua realização são utilizados implantes como parafusos, barras e placas, para manter as vértebras na posição correta durante o processo de cicatrização, estabilização ou fusão. Este procedimento pode, muitas vezes, ser realizado com recurso a técnicas minimamente invasivas;
  • Descompressão e reparação de lesões: Em alguns casos, além de aliviar a compressão da medula espinhal, durante a cirurgia pode ser necessário reparar diretamente lesões na medula ou remover corpos estranhos, como fragmentos ósseos ou discos herniados que sejam responsáveis pela lesão medular;
  • Microcirurgia e cirurgia minimamente invasiva: Em casos selecionados, a microcirurgia e a cirurgia minimamente invasiva podem ser opções viáveis, permitindo uma abordagem menos invasiva e uma recuperação mais rápida para o doente.

É essencial destacar que a decisão de realizar uma cirurgia nas lesões vertebro-medulares é tomada cuidadosamente pelos profissionais de saúde, considerando a extensão da lesão, o grau de compromisso neurológico e os riscos e benefícios potenciais da intervenção. O processo de reabilitação após a cirurgia também é de suma importância para otimizar os resultados e auxiliar o doente na sua recuperação.

A cirurgia nas lesões vertebro-medulares é uma área complexa e em constante evolução, com o objetivo de proporcionar aos doentes a melhor abordagem terapêutica possível para melhorar a sua qualidade de vida e maximizar o potencial de recuperação. 

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