Varicela

Varicela

O que é a varicela?

A varicela é uma doença predominantemente da infância, benigna e altamente contagiosa. É causada pelo vírus Varicela – Zoster (VVZ), um vírus do grupo Herpes. A maioria dos casos ocorre nas crianças antes dos 10 anos de idade, mas também pode surgir em crianças mais velhas e até em adultos. A infeção propaga-se rapidamente de uma pessoa para outra (veja mais informação em contágio da varicela).

A varicela caracteriza-se pelo aparecimento de lesões cutâneas vermelhas ou rosadas, que dão lugar a vesículas ou bolhas cheias de líquido, posteriormente a pústulas e, por fim, crostas (fase cicatrização). Acompanha-se frequentemente de prurido (comichão) intenso. Os sintomas que antecedem a erupção incluem febre, cansaço, perda de apetite, faringite e dores de cabeça. Normalmente, as lesões evoluem de forma cefalocaudal, podendo atingir também as mucosas (boca, genitais, conjuntivas). As lesões podem encontrar-se em diferentes fases de desenvolvimento. Normalmente, é necessário cerca de 7 a 10 dias para que todas as lesões fiquem em crosta. Veja mais informação em sinais e sintomas da varicela.

As pessoas que já tiveram varicela desenvolvem, normalmente, imunidade à doença. Após o término da infeção, o vírus permanece latente (adormecido, inativo) no organismo podendo ser reativado mais tarde em pessoas com mais de 50 anos ou com o sistema imunitário comprometido –doença vulgarmente conhecida por Herpes Zoster ou Zona.

Causas da varicela

O vírus Herpes Varicela-Zoster (VVZ) é o vírus responsável pela Varicela (infeção primária em hospedeiros não imunes) e pelo herpes zoster ou “Zona” (reativação do vírus latente).
A varicela é, normalmente, contraída pela inalação de gotículas respiratórias de pessoas infetadas com VVZ. O vírus pode propagar-se através da saliva, tosse, espirros ou pelo contacto direto com o fluído das vesículas que contêm elevada concentração viral.

A infeção inicial ocorre na mucosa das vias respiratórias superiores. Após 2 a 6 dias, o vírus entra na circulação sanguínea. Neste momento, aparecem as vesículas características. São produzidas imunoglobulinas IgA, IgM, e IgG, mas são os anticorpos IgG que conferem imunidade vitalícia. Após a infeção primária, o vírus fica adormecido nos nervos sensoriais e pode reativar-se mais tarde, causando o herpes zoster ou Zona.

Constituem grupos de risco para desenvolver varicela as crianças com menos de 12 anos de idade porque a infeção tem lugar mais frequentemente nesta idade; adolescentes ou adultos não imunes que convivem com crianças ou que trabalham em escolas; pessoas com sistema imunitário enfraquecido por doenças ou medicação imunossupressora, como, por exemplo, doentes transplantados ou uso prolongado de corticoides.

Os fatores de risco para desenvolver Zona incluem: sistema imunitário fragilizado, stress, envelhecimento, tratamentos oncológicos ou grandes cirurgias.

Sinais e sintomas da varicela

A varicela caracteriza-se pelo aparecimento de lesões cutâneas vermelhas ou rosadas, que dão lugar a vesículas ou bolhas cheias de líquido, posteriormente a pústulas e, por fim, crostas (fase cicatrização). O prurido (comichão) que acompanha as lesões é habitualmente intenso.

Outros sintomas comuns que podem começar a aparecer 1 a 2 dias antes da erupção incluem: febre, cansaço, mal-estar, perda de apetite, faringite e dor de cabeça.

Normalmente, as erupções começam na linha de inserção do cabelo e evoluem de forma cefalo-caudal, isto é, da cabeça para o resto do corpo, podendo atingir também as mucosas (boca, genitais, conjuntivas). As lesões podem encontrar-se em diferentes fases de evolução. Durante 5-7 dias, as lesões vão progressivamente evoluindo para crosta, as quais acabam por cair, podendo persistir, temporariamente, uma área de hipopigmentação residual.

Algumas crianças que foram vacinadas contra a varicela podem, ainda assim, contrair a doença. No entanto, os sintomas são mais ligeiros, com poucas vesículas, febre baixa e duração mais curta da doença.

Uma pequena percentagem de pessoas infetadas com varicela pode ter sintomas mais graves e maior risco de complicações.

As complicações podem resultar de sobre infeção bacteriana secundária (celulite, pneumonia, fasceíte, choque tóxico), quer ao próprio vírus (cerebelite, encefalite, pneumonia). Estas ocorrem, sobretudo, em doentes com sistema imunitário enfraquecido (imunodeficiência celular, doentes transplantados, sob quimioterapia ou medicação imunossupressora), mas também podem ter lugar, raramente, em crianças e adultos previamente saudáveis.

A doença é, habitualmente, mais grave no adolescente e adulto, existindo, nesta faixa etária, maior risco de desenvolver complicações.

A infeção na grávida acarreta um risco adicional para a mulher, nomeadamente pela maior incidência de pneumonite que, sem tratamento, pode ser fatal. Também no feto, pode ocorrer a síndrome de Varicela Congénita e, no recém-nascido, varicela grave quando a doença materna se manifesta 5 dias antes ou 2 dias após o parto.

Após a infeção primária por varicela, o vírus permanece latente nas células ganglionares dorsais dos nervos sensoriais e pode ser reativado causando uma infeção secundária conhecida por herpes zoster ou Zona. A Zona ocorre mais frequentemente em adultos com idade superior a 50 anos ou em doentes com o sistema imunitário fragilizado. Manifesta-se por uma erupção cutânea dolorosa constituída por aglomerados de vesículas concentrados num determinado dermátomo (região cutânea inervada pelo nervo sensorial onde o vírus se alojou) que tipicamente não ultrapassa a linha média. A erupção cutânea dura cerca de 7 dias, mas a dor pode durar mais tempo (nevralgia pós-herpética)

A varicela é contagiosa?

Sim, a varicela é altamente contagiosa. Cerca de 96% das pessoas expostas ao vírus da varicela e que não são imunes (isto é, nunca tiveram varicela antes), desenvolverão a doença.

A varicela transmite-se de pessoa para pessoa através do contacto próximo com alguém infetado, através da inalação de gotículas respiratórias resultantes de tosse ou espirros, através do contacto direto com lesões cutâneas ou indiretamente através do contacto com roupas ou objetos contaminados recentemente.

Os sintomas começam 10 a 21 dias após a exposição ao vírus, mas o período médio de incubação é de cerca de 2 semanas.

Uma pessoa com varicela é contagiosa desde os dois dias antes do início da erupção e enquanto as lesões cutâneas não estiverem todas em fase de crosta.

Diagnóstico da varicela

O diagnóstico da varicela é clínico e baseia-se na história de exposição, sinais e sintomas apresentados e averiguação de fatores de risco. A confirmação laboratorial habitualmente não é necessária.

A Varicela tem cura?

Sim. A varicela é uma doença com evolução benigna na maioria dos casos. É habitualmente uma doença auto-limitada, com duração de cerca de 7 a 10 dias, período durante o qual as vesículas vão progressivamente dando lugar a crostas. Não é frequente causar complicações e, raramente, pode levar à morte.

Tratamento da varicela

O tratamento da varicela é dirigido aos sintomas. Os anti-histamínicos orais podem ser prescritos para alívio do prurido (comichão). Para reduzir a febre deve ser administrado paracetamol. As unhas devem ser mantidas curtas de forma a evitar o traumatismo das lesões e a sobreinfeção das mesmas. As crianças infetadas devem ficar em casa (a lei obriga a 5 dias de evicção escolar) e não devem ir à escola ou creche até que todas as lesões se apresentem em fase de crosta.

A administração de aciclovir nas primeiras 72 horas de doença está recomendada nas situações de risco: imunossupressão, complicações da varicela (pneumonia, encefalite, meningite), varicela neonatal, idade superior a 12 anos, no caso de se tratar do segundo caso na família e nas crianças sob terapêutica com corticoides orais ou inalados ou salicilatos).

Constituem situações de urgência médica: olhos vermelhos ou vesículas na conjuntiva ocular; sinais de infeção bacteriana secundária da pele (vermelhidão, calor e inchaço à volta das lesões ou aparecimento de rash (“escaldão”) atingindo parte ou todo o corpo; vertigem e vómitos; alteração do comportamento; cefaleia sem febre; falta de ar; febre elevada (superior a 39ºC), de difícil controlo, duração superior a 72h e/ou reaparecimento da febre após período de apirexia.

Imunização e vacinas na varicela

A vacina contra a varicela é constituída por VVZ vivo atenuado. É uma vacina segura no indivíduo com um sistema imunitário competente. Não pode ser administrada a imunodeprimidos e grávidas, crianças com menos de 1 ano de idade e indivíduos submetidos a terapêutica com salicilatos.

A OMS recomenda que as atuais vacinas contra a varicela só devem ser utilizadas na criança se se assegurar uma cobertura vacinal acima dos 85-90%, pelo risco que a alteração epidemiológica induzida pode acarretar. A vacina é recomendada para vacinação universal em vários países como os EUA, Alemanha, Espanha, Itália, Holanda, entre outros.

Em Portugal, a vacina da varicela não está incluída no Programa Nacional de Vacinação, mas está autorizada pelo Infarmed e disponível para prescrição médica.

A Sociedade de Infeciologia Pediátrica (SIP) recomenda que a vacina da varicela seja administrada em:
Adolescentes (11-13 anos) e adultos suscetíveis.

Grupos de risco:

  • Indivíduos não imunes em ocupações de alto risco (trabalhadores de saúde, professores, trabalhadores de creches e infantários);
  • Mulheres não imunes antes da gravidez;
  • Pais de criança jovem, não imunizados;
  • Adultos ou crianças que contactam habitualmente com doentes imunodeprimidos.

A SIP sugere que previamente à vacinação se determinem os anticorpos IgG para o vírus da varicela nos indivíduos com história negativa ou incerta de varicela.

Os efeitos adversos da vacina são pouco significativos e incluem dor transitória e vermelhidão no local da injeção.

Nas pessoas vacinadas que contraem varicela, os sintomas são mais ligeiros com poucas lesões e febre ligeira e estes têm menor risco de complicações por sobreinfeção bacteriana.

Em Portugal, existem duas vacinas contra a varicela em comercialização: Varivax® e a Varilrix®. Ambas estão autorizadas para administração acima dos 12 meses de idade e requerem a administração de duas doses, com intervalo mínimo de 3 meses, para as crianças entre os 12 meses e os 12 anos de idade. A partir dos 13 anos, o intervalo deve ser de 4 a 8 semanas (Varivax®) ou de 6 a 8 semanas (Varilrix®) (Orientações da SIP).

Clínica de Pediatria