Consciência fonológica

aquisição da linguagem oral

Aquisição da linguagem oral

A aquisição da linguagem oral processa-se, de forma natural em simultâneo, com o desenvolvimento social, cognitivo e emocional da criança, sem que esta precise de ser ensinada.

Por volta dos seis anos de idade, as crianças que apresentam um desenvolvimento normal na fala conseguem conversar fluentemente, com qualquer pessoa e fazer com que estas sejam compreendidas. Possuem um sistema fonológico completo de acordo, com o seu padrão linguístico, no entanto, algumas crianças com um desvio fonológico (dificuldades nos sons da fala) demonstram dificuldades em adquirir o sistema de sons da sua língua materna.

Hoje em dia sabe-se que o desenvolvimento linguístico resulta da interação entre aptidões inatas e condicionantes que possam existir no meio envolvente. O ser humano nasce sem falar, mas em pouco tempo e sem muito esforço aprende um dos sistemas mais elaborados que se conhece, o desenvolvimento linguístico. Podemos dizer que o desenvolvimento da linguagem é um trilho evolutivo que passa pela compreensão, produção de sons e de palavras isoladas até à interpretação e construção de frases de grande e crescente complexidade. A criança ao entrar em contacto com a língua que a contextualiza desenvolve-se como ser falante e comunicador dessa mesma língua.

O que é a consciência fonológica?

A consciência fonológica envolve a consciência de que as palavras são constituídas por diferentes sons os quais, ao serem manipulados, evidenciam não só a capacidade de refletir sobre, mas também a capacidade de lidar com os fonemas e com as sílabas ao segmentar, substituir, unir e manipular.

A consciência fonológica pode ser entendida como sendo a compreensão das diferentes formas em que a linguagem pode ser dividida em componentes menores que, por sua vez podem ser manipulados. A língua falada pode ser dividida de diferentes formas, por exemplo, em palavras, palavras em sílabas, na parte inicial e em rimas e nos sons individuais dos fonemas. Ser fonologicamente consciente significa ter uma compreensão geral de todos os seus constituintes.

Quais são os níveis de consciência fonológica?

A consciência fonológica pode ser dividida em diferentes níveis, tais como, consciência de palavra, consciência silábica, consciência intrassilábica e consciência fonémica.

Entre o primeiro e segundo mês de vida, a criança começa a distinguir os sons com base no fonema. Aos três anos de idade, o processo de desenvolvimento de discriminação está terminado, começando a surgir indicadores da capacidade de manipulação dos sons da língua. Aos quatro anos, a criança apresenta maiores dificuldades em tarefas de consciência fonémica relativamente às tarefas de consciência silábica.

No quadro seguinte, apresenta-se a caracterização dos diferentes níveis de consciência fonológica:

Níveis de consciência fonológica Caracterização
Consciência de palavra Dividir palavras em frases
Consciência silábica Segmentar as palavras em sílabas
Consciência intrassilábica Isolar unidades da sílaba, as rimas
Consciência fonémica/segmental Isolar e detetar os sons da fala

Quadro 1 – Níveis de consciência fonológica

Clínica de Terapia da Fala

A consciência fonológica contribui para o desenvolvimento da leitura e da escrita?

A consciência fonológica é fundamental para a aprendizagem das competências de leitura e escrita, uma vez que é preciso saber manipular conscientemente os sons da fala para realizar as correspondências grafema-fonemas, ou seja, a ligação entre o som e a letra do alfabeto da nossa língua materna. Assim, a aprendizagem da leitura alfabética exige o desenvolvimento de capacidades cognitivas específicas para cada sistema de escrita e a primeira delas para o sistema de escrita alfabético é a consciência fonológica.

Como podemos motivar o interesse pela leitura e escrita, em casa?

  • Fomentar a curiosidade por livros e pela sua leitura;
  • Potencializar o interesse pelas palavras e consequentemente pelo seu significado (ex.: adivinhas);
  • Impelir a capacidade de fazer inferências e suposições, previsões (ex.: ”o que significará isso?”; “o que achas que pode acontecer, depois?”);
  • Incrementar o pensamento crítico e autónomo (procura de respostas e possibilidades);
  • Fomentar na criança, o brincar e refletir sobre os diferentes aspetos linguísticos (ex.: brincadeiras e jogos com trocadilhos, frases agramaticais para a criança corrigir);
  • Permitir à criança o contacto com vocabulário menos conhecido (através de livros infantis);
  • Facultar o contacto com estruturas sintáticas cada vez mais complexas (ler histórias).
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