Intervenção no doente com cancro

O impacto psicossocial do cancro

Avaliação Psicológica no doente com cancro

A avaliação psicológica revela ser uma ferramenta de trabalho fulcral no diagnóstico da sintomatologia psíquica, no sentido em que avalia as problemáticas e/ou características cognitivas, emocionais, comportamentais e sociais do indivíduo. Permite uma análise detalhada, objetiva e confiável da estrutura psicológica do ser-humano. Através da aplicação de vários testes e abordagens devidamente validados para a abordagem pretendida, permite avaliar e estruturar o caminho mais adequado para uma intervenção eficaz e fundamentada, para um determinado contexto psicoterapêutico.

No âmbito da psico-oncologia, a avaliação psicológica permite avaliar os fatores psicopatológicos mais evidentes presentes na pessoa avaliada, nomeadamente a presença de depressão, ansiedade, qualidade de vida e a dor, entre outras características que poderão estar associadas ao sujeito a avaliar. Com base nestes fatores, será aferida a intervenção terapêutica mais adequada e eficaz para cada caso clínico.

De que forma o Psico-Oncólogo pode intervir?

De que forma o psico-oncólogo pode intervir em estados ansiosos no doente oncológico adulto, tendo em conta as diferentes fases da doença oncológica por que passa?

O papel do psico-oncólogo é o de acompanhar, intervir e estruturar o doente oncológico nas várias fases do processo de doença. Na 1ª fase, do 1º estádio da doença, é onde se instala a incerteza ansiosa, e portanto, os sentimentos de ansiedade estão muito presentes e marcados no quotidiano do doente. Pretende-se que o paciente partilhe com o terapeuta, as suas reações e sentimentos, e que possa refletir sobre o estado e interferência destes fatores neste processo. O doente deve sentir-se livre para exprimir os seus sentimentos e emoções sem repressão nem julgamentos de valor.

O trabalho do psicólogo é o de permitir ao doente verbalizar os sentimentos, receios e dúvidas associadas, de forma a reduzir a ansiedade o os níveis de stress. O terapeuta deve estabelecer uma relação empática, de confiança e de apoio ao doente, de abertura total e disponibilidade, de forma a permitir que se estabeleça um elo terapêutico construtivo e fiável. Nesta fase, o trabalho a desenvolver é o de estimulação da aceitação das reações/emoções do doente, numa tentativa de fazer o doente entender que estes sentimentos são naturais, justificáveis e correntes, face à doença oncológica, com o objetivo de reduzir os estados ansiosos no doente, criando um elo terapêutico de confiança e de entrega.

Vantagens e desvantagens das intervenções em grupo

No contexto da intervenção psico-oncológica em grupos, podemos evidenciar como mais significativos, três tipos de intervenção:

  1. Intervenção psicossocial breve de grupo na doença oncológica;
  2. Grupos de apoio a crianças e jovens doentes oncológicos;
  3. Grupos de apoio a familiares de doentes oncológicos.

Este tipo de intervenção tem como principal enfoque, criar elos de ligação, de compreensão, de partilha e de pertença a grupos de pessoas que se encontram a atravessar a mesma doença. Contudo, temos de ter presente que cada ser humano é único e influenciável pelo seu meio social, cultural e relacional, logo, as estratégias existentes para lidar com uma situação potencialmente semelhante, podem variar.

Quero com isto reforçar que, havendo grupos homogéneos, o trabalho terapêutico poderá ser muito produtivo e frutífero, sendo que se o grupo for heterogéneo, a terapia poderá ser mais complicada de gerir como processo facilitador do processo de mudança. No caso da intervenção psicossocial breve de grupo, tem como grande vantagem o facto de ser breve no tempo (cerca de 8 sessões), o que tende a reduzir custos para o paciente e família.

Considerando os grupos de apoio a crianças e jovens, a principal técnica utilizada é a de arteterapia. Através de desenhos, pinturas, expressão artística, a criança consegue exteriorizar, eliminar tensões emocionais, e criar uma base sólida para as aquisições cognitivas. Também temos como estratégias trabalhadas, o conto de histórias, e reflexão e discussão das mesmas. Os grupos são elaborados por proximidade da faixa etária e nível de desenvolvimento. Relativamente aos grupos de apoio a familiares, o principal objetivo é o de dotar de informações e de conhecimentos, sobretudo, o cuidador responsável ou familiar próximo do doente, mas também trabalhar as estratégias para lidar com a situação e com as consequências emocionais inerentes.

De uma forma geral, a terapia em grupo apresenta-se como um interessante instrumento de trabalho, considerando a partilha de experiências semelhantes, bem como as estratégias de lidar com as mesmas. Apresenta-se como uma resposta mais económica a nível financeiro e temporal, (considerando a intervenção com cerca de 5 a 25 indivíduos) e muito rica em termos relacionais, considerando o contexto psicossocial em causa, bem como as capacidades de crescimento pessoal, amadurecimento e de aprendizagem individual/grupo, possibilitando um espaço de mudança e de transformação para os seus intervenientes. Se tivermos em linha de conta as características de homogeneidade do grupo, apresenta-se como uma resposta eficiente.

Como principal desvantagem, reitero o facto de, havendo grupos heterogéneos, a eficácia desta intervenção coloca algumas dúvidas. Se efetivamente o grupo tiver traços sociais, relacionais, culturais e económicos similares, o trabalho terapêutico será mais frutífero e eficaz. Sendo assim, como principal premissa para a realização de um bom trabalho de terapia em grupo, devemos levar em linha de conta, as características individuais de cada ser, de forma a ser consolidado o espírito de partilha, reconhecimento, auto-ajuda e de compreensão, com o objetivo de elaboração de um plano de trabalho adequado e ajustado às necessidades inerentes, em contexto de doença oncológica.

Clínica de Psicologia