Sono e a disfunção sexual

Sono e vida sexual

Importância do sono na saúde

Depois da infância, raramente sentimos que dormimos o suficiente, a não ser que estejamos na reforma. Como seria a nossa vida se pudéssemos acordar sem o despertador a tocar e dormir até à hora que quiséssemos? Imagine essa hipótese.

O sono é um processo biológico essencial que agora é considerado vital para a saúde física e mental. Apesar de os adultos passarem aproximadamente um terço da sua vida a dormir, durante muito tempo o sono foi ignorado tanto por médicos como por cientistas.

Um bom sono é necessário para uma boa saúde. Pesquisas recentes indicam que o sono insuficiente, o sono interrompido e os distúrbios do sono afetam muitos aspetos da saúde humana, incluindo a função sexual. O sono é considerado um “terceiro pilar da saúde”, juntamente com a dieta e o exercício.

Fatores que alteram o sono

Stress

Facilmente nos apercebemos que o stress nos altera o sono. Estamos geneticamente aptos para tolerar o Stress agudo (breve e pontual). Porém não estamos bem adaptados às tensões da vida quotidiana, tensões que se vão acumulando. Em situação de Stress crónico, as nossas glândulas adrenais libertam cortisol com mais frequência e em momentos do dia em que não é suposto.

O problema agrava-se quando os níveis de cortisol se apresentam em elevação lenta durante a manhã, durante o dia e mantêm-se altos à hora de deitar. Inicia-se um CICLO VICIOSO – os níveis anormais de cortisol começam a perturbar o sono, o que nos torna mais propensos a Stress durante o dia, o que automaticamente aumenta o cortisol. As consequências incluem:

  • Supressão da função imunológica;
  • Incapacidade de reter memórias recentes;
  • Diminuição de testosterona e DHEA;
  • Diminuição da hormona leptina (responsável pela indução da sensação de saciedade);
  • Aumento da hormona grelina (aumento do apetite);
  • Aumento de peso corporal;
  • Diabetes mellitus tipo 2

Horas de sono

Para a maioria das pessoas o ideal seria, sempre que possível, dormir entre 8 a 9 horas por noite. Mas talvez alguns digam que é demasiado, se esse é o caso, não necessitará de despertador. É importante o quarto estar totalmente às escuras enquanto dormimos. Não é recomendada a presença de televisão, computadores, nem mesmo a pouca luz do despertador. A informação dada à glândula pineal no cérebro, sobre a exposição à luz bloqueia uma hormona e neurotransmissor antioxidante muito importante - a melatonina.

Numa situação normal, mais ou menos 2 horas após o pôr-do-sol os níveis de melatonina aumentam e os níveis de cortisol encontram-se reduzidos para podermos dormir um sono descansado e repousante.

Mas numa situação de Stress crónico ou prolongado, e até de burnout, os níveis de cortisol estão muito elevados à noite e depois muito reduzidos de manhã. O pouco descanso durante a noite deixa de ser propriamente relaxante, e quando é necessário estarmos ativos não conseguimos.

Hormonas

Uma solução comum para o problema relatado anteriormente é a toma de calmantes ao fim do dia e estimulantes ao pequeno-almoço. Isto pode traduzir-se, também, num copo de vinho ao jantar e 1 a 2 doses de café durante a manhã. O problema é que o vinho piorará o sono e bloqueia a fundamental libertação de hormona do crescimento na primeira fase do sono, hormona tão importante para a manutenção de energia e vitalidade dos vários tecidos corporais. A certa altura, a toma dos estimulantes já não vai ter efeito, mas não os tomar significará presença de sintomas de ressaca forte.

A falta de sono, pela alteração insulínica, pela desregulação de hormonas leptina e grelina, entre outros, potencia grandemente a acumulação de gorduras. Esta acumulação adiposa aumenta a tendência de transformar a testosterona em estradiol (um tipo de estrogénio inflamatório), através de uma enzima que se encontra principalmente no tecido adiposo – aromatase. Esta transformação tem como consequência frequente a hiperplasia prostática benigna.

Nas mulheres, os efeitos são semelhantemente intensos, desenvolvendo muitas vezes sintomas de síndrome pré-menstrual, síndrome de ovários poliquísticos, pólipos uterinos e infertilidade.

Tanto os reduzidos níveis de DHEA como de testosterona apresentam efeitos devastadores. Além dos transtornos envolvidos nos metabolismos glicídicos e lipídicos, o desempenho das funções sexuais está fortemente comprometido, ocorrendo em situações como infertilidade, disfunção erétil, disfunção ejaculatória, inibição de orgasmo e diminuição da líbido.

A função da tiroide encontra-se também prejudicada, resultando na diminuição do metabolismo, da temperatura corporal e da vitalidade. Estes são alguns transtornos influenciados pela alteração hormonal causada pela restrição do sono.

Relação sono e disfunção sexual

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um dos distúrbios mais comuns do sono caraterizado por ronco alto e fluxo de ar reduzido ou ausente devido ao colapso parcial ou completo das vias aéreas superiores. Um evento apneico é definido como uma diminuição do fluxo de ar de mais de 90% durante pelo menos 10 segundos.

Se não for tratada, a AOS pode levar a condições médicas graves, incluindo hipertensão, fibrilhação auricular, insuficiência cardíaca congestiva, enfarte do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), diabetes tipo 2 e depressão.

Muitos estudos descobriram que pacientes do sexo masculino com AOS têm uma diminuição da testosterona. A testosterona tem um ritmo diurno de produção, começando a aumentar no início do sono e atingindo um pico durante o primeiro período de sono REM. Portanto, os níveis circulantes de testosterona são mais elevados durante o sono do que durante a vigília, e a insónia ou o sono insuficiente podem afetar adversamente os níveis de testosterona, encurtando a duração do sono ou alterando a estrutura do sono. Na verdade, foi demonstrado que a perda de sono durante a segunda metade da noite reduz significativamente os níveis matinais de testosterona.

A testosterona desempenha um papel importante na função sexual, na massa muscular, na densidade mineral óssea e até no humor. A insónia crónica ou a restrição crónica do sono podem, portanto, não apenas causar reduções nos níveis de testosterona, mas também podem ter implicações marcantes para a saúde e qualidade de vida, incluindo a função sexual.

A diminuição da testosterona pode levar à disfunção erétil (DE), diminuição da líbido, perda de pelos púbicos e corporais, comprometimento da função orgástica e ejaculatória, etc. Vários estudos demonstraram uma alta incidência de DE entre pacientes do sexo masculino com AOS, variando de 47,1% a 80,0%.

Tanto a apneia obstrutiva do sono, como a insónia, o distúrbio do trabalho por turnos e síndrome das pernas inquietas são distúrbios comuns do sono e podem estar associados à disfunção erétil e/ou outros distúrbios urológicos.

A DE refere a incapacidade de alcançar e manter uma ereção peniana suficiente para ter relações sexuais satisfatórias, é o mais reconhecido e angustiante dos distúrbios sexuais no homem. É bastante prevalente, especialmente entre a população a partir dos 40 anos, afetando mais da metade (52%) dos homens com idade entre 40 e 70 anos. Independentemente da origem, a DE tem um forte efeito negativo na qualidade de vida.

Um outro problema urológico que gera comprometimentos no sono é a nictúria, ou seja a necessidade de acordar uma ou mais vezes para urinar durante o sono. A nictúria é uma queixa comum em pacientes de meia-idade e idosos. Embora os adultos jovens raramente relatem sintomas de nictúria, pesquisas urológicas revelam que aproximadamente metade dos adultos com 60 anos ou mais relatam nictúria, e a prevalência aumenta com o avançar da idade.

Pesquisas do sono também revelam uma alta prevalência de nictúria entre indivíduos de meia-idade e mais velhos, e é uma das principais causas de perturbações do sono. Na verdade, a maioria dos idosos com perturbações do sono cita a necessidade de urinar como a causa do seu despertar. Portanto, a nictúria frequente pode produzir sono fragmentado.

Conclusão

A saúde do sono é cada vez mais reconhecida como importante para a saúde física e mental.

A qualidade e a duração do sono são reconhecidas como importantes para a saúde, e muitos adultos apresentam distúrbios do sono e não obtêm as 7–9 horas de sono recomendadas por noite.

Os fatores que comprometem a qualidade do sono são diversos e incluem estilos de vida sedentários, trabalho por turnos, jet-lag social e stress prolongado/crónico.

Tendo em conta as características atuais do estilo de vida no mundo ocidental, com as rotinas e o stress, uma das áreas de vida mais vulnerável atualmente é, precisamente, a falta de qualidade do sono. Atualmente, as horas de sono competem com um número cada vez maior de distrações, quer sejam laborais, sociais ou de lazer, o que faz com que atualmente durmamos menos cerca de 25% do que há 100 anos.

As atividades sexuais e a intimidade são parte integrante do relacionamento conjugal e a boa saúde sexual e a expressão sexual positiva demonstraram estar associadas a indicadores positivos de bem-estar emocional e qualidade de vida em homens e mulheres.

Os efeitos negativos de uma má qualidade do sono incluem vários domínios sobrepostos de comprometimento, como dificuldade em adormecer, lapsos de atenção, fadiga e diminuição da motivação, bem como um conjunto mais amplo de efeitos cognitivos, emocionais e de saúde física, mental e sexual.

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