Roncopatia infantil

Ressonar na criança

O que é roncopatia infantil?

A roncopatia infantil ou ressonar na criança (também conhecido como “ronco”), tal como nos adultos, reporta-se ao som produzido pelas crianças durante o sono e que é motivo de preocupação para os pais.

Este som resulta da dificuldade da passagem do ar pela via aérea superior, que cria uma turbulência e o ruído característico. Este som pode tornar-se muito intenso, mesmo em crianças muito jovens, especialmente quando a respiração nasal está dificultada.

Causas de roncopatia infantil

A roncopatia infantil é a que afecta a criança, sendo mais frequente em idade pré-escolar (tipicamente entre os 3 e 6-7 anos de idade). Sendo a sua apresentação muito semelhante à roncopatia no adulto, difere significativamente nas suas causas e nas suas complicações.

Tipicamente, a roncopatia infantil afecta crianças não-obesas e a principal causa é a hipertrofia das amígdalas e adenóides. Normalmente, essas crianças dormem de boca aberta e frequentemente o pescoço está em híper-extensão durante a noite (porque se trata da posição mais fácil que essas crianças encontram para respirar). O sono é muito agitado e, por vezes, os pais podem presenciar algumas apneias, momentos em que a criança pára de respirar momentaneamente durante o sono.

Essas crianças apresentam geralmente grande dificuldade em respirar pelo nariz, mesmo durante o dia, podendo apresentar o chamado “fácies adenoideu” (sinal indirecto de hipertrofia das adenóides). São crianças que respiram predominantemente pela boca, e que frequentemente apresentam também problemas alérgicos (alergias). Esta situação pode coincidir com amigdalites de repetição, mas este facto não é obrigatório.

Roncopatia infantil tem cura?

O ressonar na criança, quando não associado a apneia de sono, resulta geralmente de uma respiração nasal comprometida. Nesses casos, medidas conservadores que visem melhorar a permeabilidade das fossas nasais terão um efeito benéfico sobre a roncopatia infantil. 

Saiba, de seguida, como tratar a roncopatia.

Tratamento de roncopatia infantil

Uma forma de melhorar ou resolver o ressonar nas crianças passa por melhorar a respiração pelo nariz. Nestes casos, a primeira medida deve ser descongestionar as fossas nasais com recurso às tradicionais lavagens nasais frequentes (com a chamada “água do mar” ou soro fisiológico). Por norma, evitar as aspirações nasais que podem magoar a criança e geralmente não são tão eficazes na correta limpeza nasal.

Quando fatores alérgicos co-existem, pode adicionar-se a utilização de um anti-histamínico ou um corticoide nasal. Geralmente, o recurso a essas terapêuticas é limitado às épocas de maior susceptibilidade alérgica (tipicamente, inverno e primavera). O uso de descongestionantes nasais ou vasoconstritores deve ser limitado ao máximo e usado somente em situações pontuais, devido ao seu risco de habituação e desenvolvimento de rinite de difícil controlo quando utilizado por largos períodos.

Quando estas medidas não são eficazes, ou quando há suspeita de apneia de sono, a criança deve ser referenciada ao seu pediatra ou médico especialista em Otorrinolaringologia.

Clínica de Otorrinolaringologia

Síndrome de apneia do sono na criança

Tal como no adulto, a síndrome de apneia do sono na criança resulta de paragens respiratórias no meio do ressonar (embora possa existir casos de apneia de sono sem ressonar relevante). Afeta tipicamente crianças entre os 3 e os 7 anos de idade, e algumas estatísticas apontam uma prevalência de doença de 10% nessas idades, embora estas mesmas estatísticas possam até subestimar a verdadeira dimensão desta patologia (estudos recentes apontam prevalência até 25% das crianças em idade pré-escolar).

Tipicamente, estas crianças apresentam uma roncopatia muito intensa, que pode até assemelhar-se ao ressonar de um adulto, mesmo em crianças muito jovens.
Apresentam um sono muito agitado, e com o pescoço geralmente híper-extendido. A principal razão desta patologia em crianças difere significativamente dos adultos, na medida em que a hipertrofia exuberante das amígdalas e adenoides costuma ser a causa de obstrução respiratória nessas idades.

Na criança considera-se haver apneia do sono quando o índice de apneia/hipopneia é superior a uma paragem respiratória por hora.

A apneia do sono infantil provoca a fragmentação do sono e, consequentemente interfere com uma das fases mais importantes do desenvolvimento da criança. No entanto, apesar dessa fragmentação, os sintomas da apneia do sono na criança manifestam-se de forma diferente da do adulto: no adulto, uma das queixas principais que resulta dessa fragmentação é a sonolência excessiva, enquanto a criança apresenta tipicamente um comportamento de alguma híper-actividade, sinal de que não dormiu bem.

Outros sintomas típicos nessas crianças incluem dificuldade de concentração e um comportamento extremamente irrequieto. Por este motivo, muitas crianças não diagnosticadas são erradamente encaminhadas para o psicólogo e outros terapeutas, por se suspeitar de outros síndromes tal como défice de atenção e híper-atividade. Normalmente, o tratamento da apneia de sono subjacente permite controlar e reverter estes sintomas.

Quando não tratada a tempo, a apneia do sono infantil pode comprometer o normal desenvolvimento psico-motor da criança e interferir com o rendimento escolar, na medida em que nunca consegue ter um sono reparador. O diagnóstico atempado, bem como a instituição de um tratamento precoce (de preferência antes da entrada no primeiro ciclo), evitam este tipo de complicações.

Na suspeita de apneia do sono, a criança deve ser encaminhada para o seu pediatra ou médico especialista em Otorrinolaringologia.

Diagnóstico da Síndrome de apneia infantil

O diagnóstico de apneia do sono infantil é ainda uma área de intenso debate na comunidade médica. Apesar das recomendações internacionais definirem que o diagnóstico deve ser baseado numa polissonografia em laboratório, poucos centros hospitalares estão habilitados para realizarem este tipo de exame de forma fidedigna.

Normalmente, o diagnóstico é feito com base na suspeição clínica e pelo presenciar, por parte dos pais, das referidas apneias. Uma boa colheita da história clínica, associada a presença de uma hipertrofia exuberante das amígdalas e adenoides com roncopatia noturna intensa costumam levantar a suspeição clínica de doença.

Uma alternativa diagnóstica pode passar pelo uso de sistemas resumidos de estudos do sono, que são feitos em casa, como por exemplo a poligrafia cardio-respiratória ou oximetria noturna. Em ambos os casos, os equipamentos terão que ser adaptados para idade pediátrica.

Tratamento da apneia do sono infantil

Tal como no ressonar simples, a primeira abordagem deve ser restabelecer e melhorar ao máximo a respiração nasal. Estão descritos casos em que esta apneia do sono pode regredir como base nestas medidas conservadoras. No entanto, quando essa apneia do sono é muito marcada, estas terapêuticas podem não ser suficientes.

Ao contrário do adulto, a primeira linha de tratamento na apneia do sono que não responde às medidas conservadoras é a cirurgia (operação).

Na origem da apneia do sono está tipicamente uma hipertrofia adeno-amigdalina importante e o tratamento por cirurgia é a adeno-amigdalectomia. Normalmente, trata-se de uma cirurgia parcial (em que há apenas redução das amígdalas e adenóides para permitir que o ar passe normalmente durante o sono). A recuperação, nessas condições, costuma ser relativamente rápida e com níveis de desconforto para a criança muito reduzidos. A cirurgia poderá ser total (com remoção total das amígdalas e adenoides) quando a apneia de sono está acompanhada de infeções de repetição.

A cirurgia é eficaz em mais de 85% dos casos e permite acabar com a quase totalidade do volume do ressonar. Em casos muito pontuais, e geralmente associado a doenças congénitas ou neuro-musculares, a cirurgia pode não ser eficaz, e recomenda-se instituição de CPAP nesses casos.

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