Mielopatia cervical

Mielopatia cervical

O que é mielopatia?

A mielopatia cervical ou mielopatia degenerativa cervical é a principal causa de compressão da medula espinhal, devida às alterações degenerativas. Pode ser provocada por várias patologias nomeadamente a espondilose (mielopatia epondilótica cervical), a hipertrofia do ligamento longitudinal posterio, a hipertrofia do ligamento amarelo, entre outras. Tipicamente afeta pacientes acima dos 50 anos e constitui a doença degenerativa medular mais comum do idoso.

A mielopatia cervical pode ter consequências graves e irreversíveis se não for identificada e tratada atempadamente. Os sintomas são variados e, porque é uma doença de evolução progressiva que afeta predominantemente idosos, são muitas vezes atribuídos a outros problemas comuns nessas idades, o que leva a um frequente atraso no diagnóstico definitivo. Estudos mostram que o tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico é, em média, superior a 2 anos e, habitualmente, são necessárias 5 consultas de várias especialidades para que o diagnóstico seja realizado. Uma vez que o tratamento é quase sempre cirúrgico e os resultados são tanto piores quanto mais tempo passa entre o início dos sintomas e a cirurgia, o alerta para esta patologia é fundamental para minimizar o seu impacto.

Sintomas na mielopatia cervical

A mielopatia cervical carateriza-se por 3 sintomas cardinais:

  • Perda da destreza manual, com dificuldade a apertar botões, escrever ou pegar em moedas;
  • Perda do equilíbrio e da coordenação;
  • Alterações da capacidade de controlar os esfíncteres urinário e fecal (incontinência ou retenção).

Outros sintomas que habitualmente acompanham esta patologia são:

  • Diminuição da força dos membros. Os pacientes podem notar dificuldade em pegar em objetos que, por vezes, caem das mãos;
  • Dor e rigidez no pescoço;
  • Formigueiros e adormecimento nos braços e mãos.

Causas da mielopatia cervical

À medida que envelhecemos, a coluna sofre alterações degenerativas com protrusão e hérnias dos discos intervertebrais (articulações entre as vértebras que permitem o movimento da coluna vertebral e a absorção de choques), aparecimento de espículas ósseas (bicos de papagaio ou osteófitos), hipertrofia das articulações intervertebrais e espessamento ou hipertrofia dos ligamentos (ligamento longitudinal posterior ou ligamento amarelo), designadas por espondilose ou artrose da coluna.

No seu conjunto condicionam uma diminuição progressiva do diâmetro do canal vertebral (estenose cervical), com compressão da medula (mielopatia) e impacto na sua função.

Embora estas alterações sejam muito comuns, ainda não é conhecida a razão pela qual apenas alguns doentes apresentam sintomas da doença.

A mielopatia pode também surgir por outras causas como artrite reumatoide, traumatismos ou doenças infeciosas e neurológicas (mielite transversa).

Diagnóstico na mielopatia cervical

Para se fazer o diagnóstico é necessário conhecer a história do paciente e efetuar um exame físico completo, incluindo um exame neurológico que confirme as alterações na função medular, seguidos de exames de imagem que documentam a compressão.

O RX da coluna pode mostrar alterações degenerativas típicas do envelhecimento, mas não é possível visualizar a medula neste exame. O exame ideal para o diagnóstico é a Ressonância Magnética (RMN) da coluna, que pode identificar a compressão e sofrimento da medula. A Tomografia Axial Computorizada (TAC) da coluna pode ser realizada em alternativa, mas não permite ver a medula espinhal com o mesmo grau de detalhe pelo que, idealmente, deverá ser um exame complementar e não alternativo à RMN.

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Mielopatia cervical tem cura?

A mielopatia cervical é uma doença crónica e progressiva. Embora alguns doentes tenham sintomas ligeiros e estáveis, a maioria sofre agravamento do quadro clínico. A progressão da doente é inconsistente, podendo estar estacionária por períodos, seguida de agravamentos bruscos. Se detetada a tempo, o quadro pode ser estabilizado e, em muitos casos os sintomas podem ser diminuídos.

Saiba, de seguida, como tratar a mielopatia cervical.

Tratamento da mielopatia cervical

Em casos ligeiros, pouco sintomáticos ou para maus candidatos cirúrgicos, o tratamento pode ser conservador ou não cirúrgico. Pode ser utilizado um colar cervical, prescrita fisioterapia e exercícios, medicamentos analgésicos e anti inflamatórios e, em casos selecionados, infiltrações epidurais que podem dar alívio sintomático duradouro. As manipulações devem ser evitadas pelo risco de agravamento neurológico.

No entanto, e uma vez que esta é uma doença progressiva, os doentes devem ser seguidos regularmente por um especialista em cirurgia de coluna, de forma a detetar qualquer agravamento do quadro clínico e intervir atempadamente.

Cirurgia da mielopatia cervical

Devido à natureza progressiva da doença, a descompressão cirúrgica da medula, realizando a excisão de todos os elementos que a comprimem, é o tratamento indicado na maioria dos doentes sintomáticos. Não há indicação para cirurgia em indivíduos não sintomáticos com evidência de estenose cervical ou compressão da medula nos estudos de imagem, sem clínica de mielopatia.

A operação pode ser realizada por via anterior ou posterior dependendo das características da doença, do paciente e da preferência do cirurgião.

Por via anterior as opções são a discectomia (excisão do disco) ou corporectomia (excisão do corpo vertebral) de um ou mais níveis, e fusão da coluna. O procedimento é realizado sob anestesia geral, a abordagem é realizada pela região anterior do pescoço. Para realizar a cirurgia de forma mais segura e eficaz é frequente utilizarem-se instrumentos de aumento (microscópio cirúrgico ou lupas). Os discos e/ou os corpos vertebrais são removidos até se obter uma adequada descompressão da medula e é colocado um enxerto, e uma placa e parafusos, ou um dispositivo (cage) contendo um substituto ósseo, para promover a fusão óssea.

Por via posterior pode ser realizada excisão de todos os elementos posteriores da coluna (laminectomia), associada ou não a fusão óssea, ou plastia destes elementos por forma a aumentar o diâmetro do canal (laminoplastia).

Estes procedimentos podem ser realizados isoladamente ou de forma combinada.
Doença avançada, idosos, pacientes com alterações da marcha, fumadores, são alguns fatores de risco para resultados menos positivos com o tratamento cirúrgico.

Riscos na cirurgia de mielopatia cervical

Estas cirurgias envolvem riscos e complicações, que são, no entanto, relativamente baixos: infeção, hematoma, lesão nervosa, lesão adicional da medula e lesão dural (ferida na membrana que envolve os nervos da coluna). Outras complicações associadas à abordagem anterior da coluna incluem: dificuldade em engolir (atinge cerca de 10-30% dos pacientes e é habitualmente transitória), alterações da voz, má colocação ou desvio dos implantes, lesão do esófago, dor no local da colheita do enxerto (se for colhido osso do ilíaco), e não união das vértebras.

Pós operatório na cirurgia de mielopatia cervical

O pós-operatório da cirurgia depende da abordagem e técnica cirúrgica utilizada e do número de níveis afetados. Pode ser prescrito um colar cervical que deverá ser usado durante as primeiras semanas após a cirurgia. Na fase inicial do pós operatório é importante manter alguma atividade ligeira, com pequenos períodos de caminhada que vão aumentando de duração e intensidade progressivamente. Uma vez que os doentes operados já têm alterações da função motora e/ ou sensitiva, a fisioterapia é importante para recuperar destas lesões e deverá ser iniciada precocemente após a cirurgia. A fusão intervertebral só está completa por volta dos 3 meses, e a recuperação é progressiva, estabilizando por volta de 1 ano após a cirurgia.

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